Mercado imobiliário na região para turistas de fora do país deve movimentar R$ 16 bilhões nos próximos oito anos
Maior número de vôos, terrenos mais baratos e maior segurança jurídica são apontados como razões para alta do turismo residencial
JOANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
O mercado de turismo residencial destinado a estrangeiros deve movimentar cerca de R$ 16 bilhões no Nordeste brasileiro nos próximos oito anos. Serão comercializados aproximadamente 80 mil casas e apartamentos.
A expectativa é da Adit (Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Nordeste Brasileiro), que reúne 52 empresas e entidades do setor.
Nos últimos anos, o número de estrangeiros, principalmente europeus, interessados em comprar casa no Nordeste brasileiro cresceu.
Grupos de investidores imobiliários, a maioria portugueses e espanhóis, estão vindo ao país para construir grandes condomínios residenciais de férias para seus conterrâneos.
Um deles é o grupo espanhol Qualta Resorts, que lançou em junho, em Pernambuco, o resort turístico The Reef Club. Além de hotéis e campo de golfe, ele pretende entregar 4.000 unidades residenciais até 2014.
Por causa dessa nova vocação turística, a Embratur está fazendo uma pesquisa sobre o perfil do turismo residencial. "Sentimos que esta é uma tendência mundial. As pessoas estão propensas a ter uma segunda casa fora de seus países", disse José Francisco Lopes, diretor de estudos e pesquisas.
A última pesquisa da Embratur sobre demanda internacional mostrou que 4,6% dos estrangeiros que procuraram o Brasil como destino turístico em 2005 disseram ter residência fixa no país.
O boom turístico de 1995 a 2000 ocorreu com os argentinos, em Santa Catarina, diz Lopes. Agora é a vez dos europeus no Nordeste. "Desde 2004, os europeus superaram os sul-americanos e hoje representam o maior fluxo turístico do país. Os europeus são turistas de sol e praia, leia-se Nordeste."
A Embratur disse que ainda não é possível fazer uma análise de eventuais reflexos da crise aérea no turismo residencial.
Especialistas apontam três razões fundamentais para o crescimento do turismo residencial. A primeira delas é o incremento no número de vôos para o Nordeste.
Os anuários estatísticos elaborados pela Embratur revelam que até 2002 apenas um Estado do Nordeste, a Bahia, figurava entre as quatro entradas de turistas por via aérea do país. De 2003 a 2006, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte apareceram entre as cinco principais portas para turistas que viajam de avião.
A saturação do mercado imobiliário espanhol é outro motivo apresentado. Segundo Daniel Rosenthal, diretor da agência Eugênio, especializada em mercado imobiliário, o preço médio do metro quadrado na Espanha é de 2.900. No Brasil, em Natal, é de cerca de 1.150. Em bairros nobres de Madri, supera 15 mil.
Por fim, há um sensível aumento da segurança jurídica nos negócios. "Com o Brasil a um passo de sair do risco de investimento, as pessoas perdem aquele pé atrás", diz Rosenthal.
Investimento varia conforme a região; Pelourinho atrai franceses No sul da Bahia, são feitos empreendimentos de luxo; no norte, de grande escala
Leonardo Wen/Folha Imagem
| Vista do bairro do Pelourinho, em Salvador (BA), cujos imóveis são procurados por estrangeiros |
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DA AGÊNCIA FOLHA O mercado imobiliário nordestino oferece belas praias e paisagens, mas cada Estado busca um diferencial em sua estrutura hoteleira e residencial e um público-alvo específico.
Em Salvador, o turismo residencial alia-se aos atrativos históricos da capital baiana.
Imóveis tombados no entorno do Convento do Carmo, no Pelourinho, onde foi feito o primeiro hotel histórico de luxo, estão sendo comercializados para estrangeiros e brasileiros.
De acordo com o Bahia Investments (
www.bahia-investments.com) -site com anúncios de imóveis voltado principalmente para estrangeiros-, depois do lançamento do hotel, há cerca de dois anos, as casas da redondeza foram valorizadas em torno de 25%. Segundo a imobiliária Josinha Pacheco, só em junho dez unidades foram vendidas e a maior parte da demanda é de franceses.
Segundo Felipe Cavalcante, presidente da Adit (Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Nordeste Brasileiro), o norte da Bahia oferece empreendimentos de grande escala para atingir mais pessoas, e o sul do Estado, onde se consolida o turismo de alto luxo, empreendimentos menores e de elevado padrão.
Um dos exemplos do litoral norte baiano é o da Prima Empreendimentos Imobiliários, do grupo espanhol Ace, que investirá na implantação de um projeto com residências, hotel e campo de golfe em uma área de 5.000 hectares na Costa dos Coqueiros. Até o fim do ano, a empresa deve dar entrada no licenciamento ambiental.
Outro empreendimento na região é o Reserva Imbassaí, do grupo português Reta Atlântico Brasil, que pretende entregar neste semestre 96 apartamentos de um total de 193 unidades. Esse é o primeiro projeto do grupo no país.
Rio Grande do Norte Segundo a Adit, o Rio Grande Norte é um dos Estados que têm mais empreendimentos para turismo residencial, como o do grupo espanhol Sánchez, que entregará em breve 40 apartamentos em Natal -todos vendidos para europeus.
O Sánchez lançará, em outubro, o Grand Natal Golf, também na capital potiguar, com cinco campos de golfe, oito complexos hoteleiros e 30 mil residências para turismo. A conclusão do projeto está prevista para dez anos.
No Ceará, segundo a Adit, há três grandes empreendimentos que seguem o mesmo modelo e aliam condomínios residenciais a comodidades de resort.
Sergipe, Paraíba, Pernambuco e Alagoas também começam a despontar no mercado para turistas europeus.
(JOANA CUNHA E CÍNTIA ACAYABA)Folha de São Paulo (para assinantes)