segunda-feira, 16 de julho de 2007

'Eu não aceito ser vetado', diz ex-ministro


O Estado de São Paulo entrevista Ciro Gomes

Disposto a concorrer à sucessão de Lula, em 2010, Ciro manda recado ao PT e afirma que coalizão precisa ter juízo

Luciana Nunes Leal e Vera Rosa, BRASÍLIA

Com a língua afiada de sempre, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) já prepara sua candidatura à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010, e tem conversado até mesmo com petistas sobre a construção de um projeto para o País “com começo, meio e fim”. Espera receber a bênção de Lula, mas sabe que será muito difícil ter o apoio do PT e do PMDB, os principais partidos da coalizão governista. “Eu não aceito ser vetado e considero que nós temos de cimentar um projeto para o dia seguinte da saída do governo Lula”, diz o ex-ministro da Integração Nacional.

Embora elogie Lula e defenda o governo, Ciro afirma que não está satisfeito com o seu desempenho em setores cruciais como saúde, educação e segurança. “A educação está piorando no Brasil”, afirma, sem se preocupar com a reação do Planalto. Logo depois, ataca de novo, numa escalada de adjetivos: “O que está acontecendo nos hospitais das grandes cidades não faz sentido. É incompreensível, é criminoso, é bárbaro.”

Para Ciro, os avanços obtidos no primeiro mandato não serão suficientes para um bom desempenho do candidato de Lula. “Acho que estamos muito bem, olhando pelo retrovisor. Mas, se olharmos os problemas do Brasil e o potencial do País, estamos muito aquém”, avalia.

Como anda sua candidatura a presidente?

Não anda. Eu tenho juízo. Ao contrário de muita gente, acho que o outro lado, leia-se PSDB-Democratas, é potencial favorito nas próximas eleições. Uma engenharia que unifique o PSDB ao redor da candidatura do Aécio (Neves, governador de Minas Gerais) deixa essa coalizão favorita, ainda que Lula esteja bastante bem.

Esta é uma hipótese. Mas e se o candidato for o governador Serra?

Se o candidato for Serra, esse favoritismo se atenua porque ele perde em Minas, no Rio e não entra no Nordeste. Mas duas coisas podem compensar o favoritismo dos tucanos com Aécio: primeiro, um incontrastável êxito no segundo governo Lula; segundo, muito juízo, que não é o que está sobrando na coalizão.

Quem não está agindo com juízo?

A marcha do contra-senso tem um símbolo, que foi a forma como se tangeu a eleição para a presidência da Câmara (com dois candidatos da base aliada: Arlindo Chinaglia, do PT, e Aldo Rebelo, do PC do B). É que o presidente Lula tem muita sorte. Além de ser muito trabalhador, sério e competente, ele tem uma estrela que é do tamanho do planeta.

Essa marcha do contra-senso ainda persiste?

Acho que não. Tenho conversado freneticamente e a primeira questão é: não se pode ter um candidato hoje. Se eu disser que não quero ser, estou mentindo. Eu amadureci muito e aprendi com Lula. Mas é preciso que ninguém se antecipe nem vete ninguém. Precisamos combinar o que o País precisa no dia seguinte do governo Lula. Eu não estou feliz.

Por quê?

Acho que estamos muito bem, olhando pelo retrovisor. Mas, se olharmos os problemas do Brasil e o potencial do País, estamos muito aquém.

O sr. crê que haverá um único candidato da coalizão?

Estou tentando ser um estadista e vocês não deixam (risos). É da natureza do PT que ele tenha candidato e afirmo a vocês que poderá ser ou não o nosso.

O sr. será candidato com ou sem o apoio de Lula? Enfrentaria o PT?

Se tenho coragem de mamar até em onça, quanto mais de cumprir uma missão que eu considere relevante... Nós tudo fazemos hoje para garantir que o presidente Lula pilote, em 2010, um incontrastável sucesso. Não vejo que sucesso sejam os méritos do primeiro governo, que estão norteando a atual avaliação. As pessoas, naturalmente, querem mais. No futuro temos a questão da infra-estrutura e uma sombra grave, que é a falta de energia. A segunda circunstância é juízo político. Eu não aceito ser vetado. Não me atribuo o direito de vetar ninguém e considero que nós tínhamos de cimentar um projeto para o dia seguinte da saída do governo Lula. Leia mais no jornal O Estado de São Paulo (para assinantes)

Quem é:
Ciro Gomes


Advogado, é deputado pelo PSB e foi proporcionalmente o mais votado do Brasil.

Foi ministro da Integração Nacional do governo Lula,
ministro da Fazenda na gestão Itamar Franco, governador do Ceará e prefeito de Fortaleza.

Disputou duas vezes a Presidência (1998 e 2002). Já integrou o PSDB, o PPS, o PMDB e o PDS.

Nenhum comentário: