quarta-feira, 25 de julho de 2007

Terra Magazine entrevista Waldir Pires

Terra Magazine - Ministro, o senhor deixa o ministério...
Waldir Pires -
Sim, vínhamos conversando, o presidente e eu, e hoje tivemos uma conversa de meia hora.

Como foi?
Uma conversa tranqüila, carinhosa, emocionante, de pessoas que se respeitam e compreendem o que está em jogo, e devo dizer que diante de tudo o presidente resistiu bastante...

O senhor certamente não me dirá o que disse o presidente, mas eu pergunto o que o senhor disse para ele.
Eu disse: 'Presidente, há uma sanha para atingi-lo. Novamente se movem para atingir o senhor e seu governo, é a mesma sanha de sempre, e desta vez me usam para este fim'.

Isso...
Houve uma tragédia, é um momento de dor imensurável das famílias, é um momento de grande dor para todos nós, mas nada disso se leva em consideração, a sanha, o desejo de atingir o presidente e seu governo é o mesmo de sempre.

O senhor era o ministro da Defesa...
Por isso mesmo não tenho atribuição alguma, nem poder algum, sobre o setor aéreo. Isso pode vir a ser modificado, mas hoje o ministro da Defesa não tem atribuição, mecanismos ou poder de atuar nesse setor. Tantos que escrevem e falam sobre isso devem saber disso; se não sabem deveriam saber. O ministro da Defesa não tem tais atribuições. Por isso eu tenho a convicção e a manifestei ao presidente: a verdadeira intenção é atingi-lo, sempre.

Diziam que o senhor...
Diziam que eu tenho 80 anos e que, portanto... eu tenho 80 anos de luta pelo Brasil e de dignidade. Eu tenho 80 anos e há mais de 50 vivo e acompanho essa luta de perto, de dentro. Uma luta para construirmos instituições que tornem a vida do nosso País justa e decente. O Brasil tem uma posição cada vez mais importante no diálogo pela preservação da civilização humana, para o fortalecimento das instituições que construam a paz.

O que o senhor diria ao deixar o ministério da Defesa?
Há hoje um desafio posto para o mundo inteiro, num tempo em que já não há a Guerra Fria, mas não há paz, pelo contrário. Neste cenário, ainda que seja um dos raros países a assinar o compromisso de não utilização de armas atômicas, o Brasil não pode renunciar à conquista das tecnologias mais modernas. Sei que é uma preocupação das Forças Armadas, e preocupação justa, com nossas responsabilidades no Atlântico Sul e com a preservação da Amazônia.

O senhor sai triste?
Como tanto disseram, tenho 80 anos. Lutas se ganham, se perdem, e às vezes não se conclui uma missão, mas as raízes ficam plantadas. Me senti honrado por essa tarefa no outono da minha vida, não a concluí mas as raízes estão plantadas.

Que preocupação o senhor deixa?
Com essa eleição que não querem terminar nunca, com essa sanha que retorna a cada episódio, ainda que sob o disfarce de crítica a isso ou àquilo, ainda que sob o disfarce das boas intenções. Deixo o ministério honrado, mas me preocupa essa insânia que não aceita a decisão do povo, que não respeita de verdade as instituições democráticas.

Terra Magazine

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