O lucro do Pan
Como a Folha e O Estado esculhambam o PAN (Leiam hoje, por exemplo, os artigos de Barbara Gancia e Jánio de Freitas, na Folha) aqui vai o editorial de hoje do jornal O Globo
O lucro do Pan De 1998, quando o Rio lançou a candidatura aos Jogos Pan-Americanos de 2007, a hoje, dia da festa de inauguração da competição, passaram-se nove anos de trabalho, desencontros, sonhos que não se realizaram, mas, acima de tudo, foi um período em que a cidade viu nascer um projeto do qual pode se beneficiar, e muito. Não só a cidade, mas o estado e o país.
Foi a vitória na disputa com a rival americana San Antonio, no Texas, comemorada na Cidade do México em agosto de 2002, que, para o carioca, ligou o relógio da contagem de tempo do Pan. Nas pranchetas, o projeto era amplo e acenava para a cidade com um legado de obras importantes de infra-estrutura de transporte de massa.
O paralelo inevitável era a experiência de cidades no mundo que se tornaram palco de Olimpíadas e com isso rejuvenesceram urbanisticamente.
Seria, então, debelada uma grave deficiência do Rio.
Ficou aqui, no entanto, a grande frustração do Pan, com a impossibilidade de ser executada a ligação, por metrô, do Jardim Oceânico, na Barra, com a Gávea (Praça Santos Dumont), e construído o corredor exclusivo para ônibus entre Barra, Jacarepaguá, Madureira, Irajá e Penha.
Numa primeira fase, as desavenças político-eleitorais entre o casal Garotinho, no poder no Palácio Guanabara, o prefeito Cesar Maia e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegaram a ameaçar o projeto. Confirmava-se a trágica maldição que persegue o Rio, a de que seu administrador, o inquilino do Palácio Guanabara e o presidente dificilmente se entendem, por terem projetos políticos e pessoais que se chocam.
Tendem a ser mais adversários do que parceiros.
Havia outros problemas.
Demandas judiciais, como as envolvendo o Autódromo e a Marina da Glória, somadas à proverbial lentidão da burocracia pública, também justificavam previsões pessimistas.
Entidades representativas de pilotos queriam preservar o Autódromo a qualquer custo, enquanto o Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, embargava a obra da garagem de barcos de competição prevista pelo projeto para a Marina da Glória. No Autódromo, a Justiça desimpediu o caminho; na Marina, a saída foi fazer instalações provisórias.
Aos poucos os cronogramas avançaram, e soluções alternativas aos impasses que pareciam incontornáveis foram dadas. Até que a mudança do cenário político no Rio de Janeiro, com a vitória de Sérgio Cabral nas eleições de 2006, serviu para firmar a aliança entre prefeito, governador e presidente que viabilizaria de vez o Pan.
Pode-se discutir inúmeros aspectos dos Jogos. Investimento é um deles. Foram feitas várias projeções orçamentárias, mas este é um tema que só poderá ser debatido com objetividade quando for feito um balanço final de todo o empreendimento.
O último número oficial é de R$ 3,5 bilhões, divididos entre governo federal, estado e município. Mas mesmo esta cifra é polêmica, por incluir a construção do novo terminal do Santos Dumont, obra que teria de ser executada de qualquer forma, e o empréstimo para a edificação da Vila Pan-Americana, a ser pago pelos compradores dos imóveis.
Ou seja, não se trata de investimento público, portanto não pode ser contabilizado como despesa no orçamento do Pan.
O prefeito Cesar Maia aposta que tudo o que foi investido pelo Estado retornará de alguma forma.
Não se deve esquecer, também, que o conjunto esportivo do Pan serve como uma espécie de caução para a cidade e o país entrarem na disputa para sediar as Olimpíadas com mais chances de vitória.
Se o Rio não teve as obras viárias, passou a contar com uma estrutura esportiva de Primeiro Mundo, capaz de sediar grandes competições internacionais, em várias modalidades, e abrigar outros eventos, como shows de todo tipo. Herdará, ainda, equipamentos de última geração para a segurança pública e inteligência policial, cujo retorno é intangível, mas, por definição, valioso.
Tudo vai depender da capacidade de os governos administrarem de maneira competente todo o acervo.
No caso do complexo esportivo, sempre com a iniciativa privada.
Sem ela, a chance de êxito será nula. Impossível admitir que a estrutura do Pan tenha o destino do Maracanã, um histórico cabide de empregos a serviço do clientelismo. Pelo menos até agora, existem boas perspectivas nesse campo. O Fluminense e o Botafogo inauguraram o Engenhão e se dispõem, em parceria com capitais privados, a explorar o estádio. A arena multiuso, por suas características, também é adequada a concessões, e assim por diante. Outro grande desafio para as autoridades começará, portanto, depois dos Jogos.
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