sexta-feira, 20 de julho de 2007

O grooving é a esperança (20/07)

Blog de Alon

Agora apareceu a informação de que o avião da TAM que caiu em Congonhas estava com um defeito mecânico. A empresa diz que os manuais do fabricante (Airbus) autorizam voar com o defeito. Eu vou adotar com relação à falha mecânica a mesma atitude que tomei quando o jornalismo pátrio já tinha concluído que o avião explodiu na Washington Luís porque vinha escorregando pela pista, na qual faltam ranhuras (grooving) que ajudariam no escoamento da água. Meus conhecimentos de física de colégio (como antigamente era chamado o ensino médio) foram suficientes para eu desconfiar da hipótese de que um avião possa estar decolando (porque ele caiu ao lado do prédio da TAM, não se arrastou da pista pela avenida até o lado do prédio da TAM) apesar de o piloto vir brecando desde que o trem de pouso tocou a pista. Desculpem os gerúndios, mas não achei forma melhor de descrever a coisa. No caso dessa nova hipótese, de defeito no avião, usarei da cautela que deriva da ignorância. Confesso que meus conhecimentos aeronáuticos e de engenharia são insuficientes para pontificar sobre os efeitos da falha mecânica noticiada pelo Jornal Nacional da TV Globo. Então, por prudência, vou esperar as conclusões da investigação. Para sabermos qual foi a causa principal do acidente. Aquela sem a qual o desastre não aconteceria. E eu quero saber também de outro detalhe: se a pista estivesse completamente seca, o desfecho do vôo 3054 teria sido diferente? Os indícios até o momento apontam que talvez não. Transcrevo abaixo um trecho de reportagem de ontem do Jornal Hoje (JH), também da TV Globo:

O JH pediu a Jorge Barros [especialista formado pelo Cenipa, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos] para analisar as ultimas cenas do avião que se acidentou. As imagens foram gravadas pelas câmeras da Infraero. Uma cena mostra o avião ainda no inicio da pista logo depois de tocar o solo. “O vídeos mostra que ele tocou no ponto certo da pista, porém essa velocidade que ele deslancha ainda é muito alta para quem pretende pousar”, fala. Dois minutos antes um outro avião que desceu em Congonhas levou 13 segundos para percorrer esse trecho da pista. O Airbus que se acidentou levou apenas três segundos. “Nessa seqüência o avião percorre o último terço da pista e essa cortina de água que a gente vê logo abaixo do avião significa que o ar que está sendo impulsionado pelo motor se dirige à parte da frente do avião, numa tentativa de frear esse avião pela força aerodinâmica. Os dois reversos estão ativos porque esse avião não perde a direção nesse momento”, disse. Jorge Barros comentou também as condições da pista molhada. “A comparação desse vôo com os vôos anteriores mostra que vários aviões antes conseguiram efetuar o pouso em condições normais, mesmo tocando onde esse avião tocou. Quer dizer, a característica da pista estaria sendo igual para todos os aviões.” No trecho final da pista, o Airbus continua em alta velocidade. Antes de desaparecer da imagem surge um clarão na parte de trás do avião. “Fogo saindo do motor, que pode sair por meia dúzia de motivos. Um deles é uma aceleração muito abrupta, onde o motor reage ao comando do piloto lançando combustível em excesso na carga de combustão para poder gerar a potência que o piloto necessita naquele momento. Pode ser um indício que ele tentou arremeter e isso aí vai ser pesquisado pela comissão que está investigando o acidente”, conclui.

O negrito é meu. As informações apontam que a pista estava com cerca de 0,5 milímetro de água na hora do pouso do Airbus, resultado de uma garoa fina. Insuficiente para representar risco real aos aviões. Por isso dezenas de aeronaves pousaram na pista principal de Congonhas naquele dia, sob as mesmas condições, mas só o 3054 da TAM se acidentou. E o grooving, como é que fica? A falta do grooving, se confirmada como a mehor explicação para o acidente, permitiria concluir que a incompetência (ou coisa pior) do governo, ao liberar a pista sem as ranhuras, foi a responsável maior pelas duas centenas de mortes em Congonhas. Finalmente, depois de tanta espera e tantas tentativas, a oposição teria nas mãos o elo para trazer para para perto do universo compreensível aos mortais suas críticas à suposta incompetência do governo. Por enquanto, o grooving sobrevive no noticiário como um fantasma. Outro dia botaram na tevê um cientista que explicou: pistas molhadas apresentam atrito menor do que pistas secas. Ainda bem que temos cientistas para nos explicar coisas assim, complexas e que exigem longos anos de estudo. O motorista comum que tomou conhecimento dessa explicação agora já sabe que é mais difícil frear o carro quando chove. Coisa que ele certamente desconhecia. Quem sabe não esteja na hora de trazer para diante das câmeras outro cientista, desta vez para explicar que a pessoa não deve sair de casa com o carro se o breque não estiver funcionando. Mesmo que o dia esteja lindo, sem uma única nuvem no céu. Será outra informação útil, uma completa novidade para a grande maioria do público.

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