sexta-feira, 20 de julho de 2007

A armadura do presidente

Carta Capital

por Mauricio Dias

Pesquisa mostra que Lula tem índices melhores que em 2003. Se mantiver assim, será um poderoso cabo eleitoral

Que tormenta poderá fazer naufragar a nau do presidente Lula? Nos seis primeiros meses do segundo mandato, os números da pesquisa VoxPopuli/CartaCapital/Band mostram que o presidente atravessou praticamente incólume as tempestades que enfrentou até agora: 61% dos entrevistados aprovam a atuação do governo contra 33% que desaprovam. Uma avaliação muito próxima ao apogeu do sucesso, alcançado no mês de outubro de 2006 (63% de aprovação), quando conquistou a reeleição.

Isso projeta a possibilidade de Lula se tornar um grande cabo eleitoral nas eleições presidenciais de 2010. A história das eleições mostra que transferir votos, pelo simples ato de apontar o dedo, nem sempre surte efeito. Mas a pesquisa mostra que é boa a reação do eleitor em relação a Lula como cabo eleitoral. Dependendo do candidato, 38% dos eleitores poderiam votar no nome que Lula indicasse e 16% dizem que votariam nesse nome “com certeza”.

Para Lula e o governo, não foram poucas as tormentas nesse primeiro semestre de 2007. Embora tenha começado no fim do ano anterior, a crise dos controladores de vôo recrudesceu com uma greve relâmpago em março. Em maio, Evo Morales tirou os direitos da Petrobras de comercializar derivados de petróleo produzidos na Bolívia, mexendo diretamente com os interesses da estatal, o maior ícone do nacionalismo brasileiro. Ainda em maio, a Polícia Federal realizou a Operação Navalha, desmantelou uma suposta quadrilha que fraudava licitações públicas e botou em jogo, como suspeito, o ministro Silas Rondeau, de Minas e Energia. E, nos últimos dias desse mesmo mês, uma crise engolfou Renan Calheiros, um dos aliados no Congresso, em grave denúncia de que uma empreiteira custeou suas despesas pessoais.

Mas o pior estava por vir. Em junho, o nome de Vavá, irmão de Lula, é empurrado para o centro de uma nova investigação policial envolvendo a máfia dos caça-níqueis e vira manchete dos jornais que exploram, ao máximo, o parentesco. Em 13 de julho, na abertura dos Jogos Pan-Americanos, Lula foi vaiado e, de novo, virou manchete. A pesquisa foi a campo nos dois dias seguintes a esse episódio e não registra abalos numericamente expressivos na popularidade do presidente. No entanto, a seqüência capaz de tirar o fôlego de qualquer governante teve impacto. Uma parte da classe média mais abonada e escolarizada que havia votado em Lula deslocou-se para a oposição (leia artigo de Marcos Coimbra à pág. 40).

Esse é o efeito mais visível das manchetes dos jornais. O estrago só não é maior porque a maioria da população confia mais no presidente do que no noticiário da imprensa. Diante dessa pergunta, 39% disseram acreditar mais no presidente Lula e 35%, mais no noticiário. Um expressivo contingente de 27% se declarou sem opinião formada a respeito.

Semelhante ao lento choque da “água mole na pedra dura”. A cada episódio – como, agora, o desastre em Congonhas – os adversários fazem o governo sangrar e vaticinam o começo do fim da popularidade. A pergunta, nesse contexto, é essa: quando e como a blindagem de Lula vai ser vazada?

A pesquisa indica que a boa imagem de Lula tem outros pontos de sustentação, além dos programas sociais. É o caso do resultado da avaliação do desempenho de Lula à frente do governo. Nada menos do que 70% avaliam favoravelmente as ações do governante. Esse porcentual se distribui assim: 12% acham que o desempenho dele é “ótimo”, 35% consideram “bom” e 25% definem como “regular positivo”. Por outro lado, um conjunto de 29% dos eleitores acha o desempenho “péssimo” (8%), “ruim” (8%) e “regular negativo” (13%).

Embora a distância do tempo torne a especulação sobre o processo um exercício político precário, a pesquisa simulou alguns cenários e os submeteu ao crivo do eleitor.

O primeiro cenário testado incluiu as candidaturas de Ciro Gomes (PSB), Aécio Neves (PSDB) e Marta Suplicy (PT). Nessa situação, Ciro tem 32% das intenções de voto, Aécio consegue 22% e Marta, 14%. O restante (32%) respondeu “Nenhum/Branco/Nulo’’, não quis ou não soube responder.

A soma dos candidatos da base do governo (Ciro e Marta) chega a 46%. A intenção de voto em Ciro distribui-se homogeneamente por todas as classes sociais. Ele tem 33% entre os eleitores com escolaridade baixa e 34% entre os de nível de ensino superior. Tem 34% entre os eleitores com renda até um salário mínimo e 32% entre os de renda superior a dez mínimos.

O segundo cenário trocou o nome do candidato do PSDB. Foi testada a candidatura do governador José Serra. Se a eleição fosse hoje, ele teria 41% das intenções de voto, contra 23% de Ciro Gomes e 13% de Marta Suplicy. Em tese, os candidatos da base governista o superariam. Num confronto direto, Serra bateria Ciro em todas as regiões (no Nordeste a vitória seria mais apertada: 37% a 31%) e em todas as faixas de eleitores distribuídos por escolaridade ou por renda familiar. Mantidas as condições de agora, Lula (ou a neutralização política dele) deverá ser um fator-chave no resultado de 2010.

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