terça-feira, 17 de julho de 2007

Reflexões pessoais sobre vaias e aplausos

E la nave va...

Na noite de sexta para sábado a Agencia Estado descreveu assim os acontecimentos no Maracanã:

"As vaias ao presidente foram dadas todas as vezes que seu nome foi citado no microfone do Maracanã, ou sua imagem mostrada no telão, durante a abertura dos XV Jogos Pan-Americanos. A partir da quarta vaia, no entanto, os convidados que lotavam a tribuna de honra do estádio resolveram reagir e puxaram uma salva de palmas para o presidente, que foi seguida por muitos, dividindo, o Maracanã, então, entre vaias e aplausos."

Depois e durante dias a fio inúmeras explicações foram lançadas sobre os motivos das vaias, a sua origem, o caráter político delas, sua base social e assim pela frente. Ninguém porem se debruçou sobre os aplausos, que segundo a isenta notícia aqui mencionada, dividiu o Maracanã.

Desejando reparar esta injustiça e com o devido respeito e reconhecimento aos que vaiaram, decidi escrever sobre os motivos e o que está por trás desses aplausos.

Parodiando os sociólogos que analisando o preço dos ingressos para a abertura do PAN, concluíram constatando que o estádio estava lotado pela classe media carioca, cheguei a conclusão que existem motivos, além do Bolsa-familia, para justificar estes aplausos vindos de uma galera que não é beneficiaria dos programas sociais do governo.

Se excluímos os que da tribuna de honra constituíram a "claque" que resolveu reagir com aplausos (entre os quais eu me incluo com orgulho), fica a necessidade de explicar como conseguiram levar 40 a 50 mil pessoas a aplaudirem o presidente Lula (partindo do principio que o Maracanã tivesse se dividido por igual, o que não é verdade pois segundo César Maia, que sabe do que fala, 30% dos presentes vaiou o presidente). Como pode se ver, nem a existência de partidários do Lula na assistência, nem o fato do governo federal ter distribuído ingressos (como fizeram também o governo estadual e a prefeitura) permite encontrar uma explicação a estes aplausos.

Penso que uma parte dos que assim se manifestaram, sem concordar necessariamente com Lula e seu partido, quiseram externar o fato de o Presidente estar ali como representante da nação e aplaudi-lo configura o respeito naturalmente devido ao Brasil, sede do Pan-Americano.

Para outros, sem duvida, era uma manifestação de reconhecimento ao trabalho de recuperação da auto-estima do Rio de Janeiro, expressa não só nos investimentos para o PAN, na vitória do Cristo, mas também em investimentos em segurança, na luta contra a pobreza, no crescimento do emprego e da renda, no ingresso de divisas para o Rio graças ao turismo do PAN(segundo o prefeito César Maia o aumento do turismo já quase pagou o que a prefeitura investiu no PAN). Reconhecimento dos que sabem que o país esta melhor que antes.

Outros, estes sim, esmagadoramente favoráveis ao Lula, são os que nele votaram duas vezes e que são majoritários no só no Estado de Rio de Janeiro, mas no Brasil. Com certeza uma parte deles estava no Maracanã, apesar do preço dos ingressos, e aproveitou para aplaudir Lula.

Ou tal vez seja, como disse Eliane Catanhede na Folha de São Paulo, uma "mostra que o Rio de Janeiro continua lindo, irreverente e implacável." (ah, que indisfarçavel prazer que essas vaias proporcionam!)

Implacável é a persistência do apoio ao Lula e a determinação em rejeitar a campanha de desrespeito, de deslegitimação e de destruição do governo Lula, promovida por boa parte dos colunistas e da mídia mancomunados com as forças da oposição.

Um tempo atrás eles pretendiam o impedimento de Lula ou sua derrota eleitoral, hoje eles aparentemente se contentam com algumas vaias. Ganha a democracia, da qual as vaias e os aplausos, é bom lembrar, fazem parte. Pois toda unanimidade é burra ou perigosa.

A Globo disse que democraticamente, em reconhecimento das vaias, Lula desistiu de falar na abertura. Minha opinião é que ele devia ter falado, em respeito aos aplausos, que podem ter soado baixo no Maracanã, porém são estrondosos nas urnas do Brasil.

Parodiando Dom Quixote, falando ao seu companheiro Sancho, as vaias devem ser sinal que cavalgamos...

Luis Favre

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