Crise ameniza e indústria mantém planos para fim do ano
Reuters/Brasil Online
Por Vanessa Stelzer
SÃO PAULO (Reuters) - A crise dos mercados financeiros assustou empresários brasileiros, mas não chegou a frear investimentos nem a reverter a tendência de crescimento esperada para a segunda metade do ano.
Executivos e representantes de entidades da iniciativa privada ouvidos pela Reuters acreditam que a demanda interna será suficiente para sustentar o ritmo de atividades nos próximos meses, período mais importante do ano para a indústria e o setor de varejo.
"Pelas reuniões que estamos tendo, percebemos que o crescimento do setor será igual ou maior que o do primeiro semestre", afirmou Luiz Aubert, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Ele estima crescimento de 13 por cento para o setor neste ano.
Em meados de agosto, no pico das turbulências vividas pelos mercados por conta da crise no segmento de crédito imobiliário de alto risco norte-americano, algumas entidades empresariais no país notaram um clima de cautela entre os empresários.
Com a situação agora mais estabilizada, esses mesmos executivos resolveram manter as apostas para o restante do ano.
"No fim, não sentimos nenhuma mudança de comportamento em relação à crise. Não houve nenhum impacto direto na economia", disse Luciana Pellegrino, diretora-executiva da Associação Brasileira de Embalagens (Abre).
Essa sensação de que o pior passou e de que a indústria segue o ritmo traçado, é compartilhada por Paulo Francini, diretor de economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
"Quando você ingressa em uma turbulência, fica sem saber quanto tempo vai durar, qual a intensidade. A dúvida é quase sempre imobilizante... Agora já estamos bem melhor", disse. "As coisas se acalmaram, os mercados estão operando normalmente, interna e externamente. Tem-se uma sensação de alívio", acrescentou.
2008 TRAZ DÚVIDAS
A preocupação que tomou conta de alguns empresários não chegou a alterar o espírito de outros. O setor automotivo é um exemplo de como a crise nos mercados internacionais passou, por enquanto, longe do Brasil.
Em agosto, as montadoras do país bateram novos recordes, tanto na produção quanto na venda de veículos -e por trás dos números mais uma vez estava o aquecido mercado doméstico.
"A crise não afetou o lado real da economia", afirmou Jackson Schneider, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), ao divulgar dados sobre o desempenho do setor.
Mas o clima de tranquilidade não se repete no cenário de longo prazo. Os empresários, como boa parte dos analistas do mercado de capitais, ainda têm dúvidas sobre a extensão da crise, e não querem se comprometer com projeções que exijam mais fôlego.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do brasil (AEB), decisões de maior fôlego ainda podem ser adiadas.
"A crise é um fato. Os reflexos ainda não apareceram. Tanto o Fed (Federal Reserve) como o BCE (Banco Central Europeu) colocaram muito recurso (nos mercados), e isso aparentemente está segurando a crise", afirmou. "A gente vê claramente que não existe uma certeza de que tudo passou."
Segundo os executivos, se uma nova onda de turbulências impactar os mercados, os efeitos no país poderão ser sentidos no ano que vem.
"Se você me perguntar como é que vai ser 2008, aí não sei", afirmou Aubert, da Abimaq.
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