Raimundo Carrero e Zuenir Ventura: Jornalismo e literatura
Enviado por Miguel Conde, de Porto de Galinhas
"Jornalismo e literatura" é dessas temas recorrentes e inevitáveis em festas literárias e encontros do tipo. A conversa ontem entre Raimundo Carrero e Zuenir Ventura aqui na Fliporto foi interessante. Os dois tentaram distinguir jornalismo e literatura, e falar dos pontos de contato entre um e outro nos próprios trabalhos.
Ventura disse que jornalismo e literatura têm um longo casamento, "como qualquer outro, com altos e baixos". A década de 1950, no Brasil, era um momento de alta proximidade, com resultados ruins, disse. Era a época das matérias cheias de literatices, onde a estrela, como escreveu Paulo Francis, era o repórter, não o assunto.
Ventura lembrou a reforma no texto jornalístico iniciada pelo "Diário Carioca", e depois adotada em outros jornais, para tornar as reportagens tão objetivas quanto possível. No manuel de redação escrito por Carlos Lacerda para a "Tribuna da Imprensa", lembrou, o uso de adjetivos e advérbios era proibido.
- Praticamente tínhamos que enviar um memorando se quiséssemos usar um adjetivo ou advérbio no texto - brincou.
Na década de 1970, continuou, elementos literários voltaram a ser introduzidos, com mais moderação, no texto jornalístico. Hoje, o uso desses recursos expressivos se nota principalmente nos livros de reportagem, acredita.
Carrero se admitiu dono de uma coleção enorme de recortes de notícias de jornal, que usa como pontos de partida para as histórias de seus livros.
- Do início ao fim, o jornal é um grande romance - disse.
Ele fez distinções: o jornalismo expõe, a literatura esconde; o jornalismo tenta ser preciso, a literatura é ambígua.
- O jornalismo trabalho com fatos verificáveis, a literatura com a invenção - acrescentou Ventura.
E depois, para mostrar que nem sempre é assim, concluiu:
- Às vezes me pergutam se eu acredito em tudo que é publicado nos jornais. Eu digo que claro que não. Afinal, eu sou jornalista.
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