Vale a pena passar no sitio
Sitio de Sergio Leo (jornalista do Valor)
Vale tudo
(na foto acima, furo de reportagem deste Sítio, as insidiosas mãos do Império tentam segurar a inexorável entrada do chavismo no Mercosul)
Chávez disse que viu a "mão do Império" no atraso da aprovação da entrada da Venezuela no Mercosul. Como é o Congresso quem aprova essa entrada, o Estadão, num momento arquetípico de jornalismo interpretativo, tascou em manchete: "Chávez acusa Congresso de submissão aos EUA".
O engraçado é que Chávez não citou o Congresso (só disse que não poderia fixar prazo para "ninguém"), nem falou em submissão. O jornal poderia até dizer que Chávez insinuou ligação entre o Congresso e o Império (sabe-se lá onde ele viu pousar a mão do dito-cujo). Mas botar na boca do bolivariano palavras que ele não usou, dando a entender que foram ditas, hummm, acho que me ensinaram alguma coisa sobre isso na faculdade de jornalismo.
O venezuelano falou, sim, da "direita", e do Império, seu demônio favorito. Em maio, quando ficou de mal com o Senado, não teve dúvida de acusar o Congresso, aí sim, de "papagaio" dos EUA. Uma coisa é brigar com grupos políticos no país, outra é fazer acusações a uma instituição nacional. Ver a mão de alguém numa manobra política não é sinônimo de "submissão" a esse alguém. Chávez não esconde seu ódio à "direita" brasileira; mas tinha enfiado no saco as críticas ao Congresso, e não as tirou na entrevista que deu em Manaus.
Na minha modesta opinião de jornalista da midia conspiratória, acho que o Estadão foi um pouco além do jornalismo, e produziu uma bela peça de panfletarismo político. Chávez, a essa altura, deve estar dizendo que essa foi a "mão do império" na imprensa. Eu diria que foi apenas a falta de noção atual sobre os limites entre o relato jornalístico e a militância política. Afinal, o Chávez já falou mal do Congresso antes, e todos sabemos quem ele é, não é mesmo?
O Chávez irrita, eu sei. Mas, se a moda pega, as manchetes interpretativas vão acabar dispensando o fato. É o jornalismo do "está na cara que...", que dispensa cuidados com as palavras e atos concretos, em troca de uma bela manchete. Dá um ibope danado. E faz perder leitor à pampa, também. Ninguém perdoa quando descobre que leu no jornal alguma coisa que não aconteceu, mas que o jornalista determinou ser a única interpretação possível para os fatos.
Mas, como diz o filósofo Alex Ribeiro, lá do Valor, quando se tem de ficar explicando muito alguma coisa, a discussão já está perdida. Nessa, o Chávez e quem for seu aliado já perderam.
Minha dúvida é só uma: me pergunto com freqüência se Chávez não busca apenas uma desculpa para voltar atrás nessa entrada precipitada no Mercosul. Porque, se a Venezuela chavista será um estorvo para as discussões internacionais do Mercosul, como acredito, associar-se ao Mercosul também criaria sérios constrangimentos à ação política de Chávez _ e os empresários lá estão mais apavorados que os daqui, com essa aliança. Mas isso é complicar muito o raciocínio, e debate político no Brasil não abriga isso. Obrigaria o pessoal a abandonar o maniqueísmo, e muito raciocínio só atrapalha na hora de dar título a notícia de jornal.
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Segundo clichê: Na mosca! Ontem, numa fala recorde de oito horas no rádio, sobrou para a imprensa brasileira, que Chávez acusou de manipular notícias para pôr o Brasil contra ele. O mais curioso é que, depois de jurar que não se referia ao Congresso brasileiro, Chávez mencinou "parlamentares" brasileiros, que jogariam no time do Império (não falou em time, claro, isso é livre interpretação minha).
Para ser coerente com a manchete de sexta, o estadão teria de botar um título do tipo: Chávez não para de bater no Congresso. Mas acho que se envergonharam, se tocaram que, no caso, não vale a metonímia. Parlamentar é uma coisa, Congresso é outra, ainda que possam se confundir em alguns casos.
Outro tema interessante que a imrpensa trata com uma superficialidade de apresentadora de programa infantil é a história de que o Brasil oferece o território nacional para Chávez mediar a negociação entre o governo da Colômbia e as Farc. Mas disso eu falo noutro dia. Ou vocês leem no maurício, AQUI.
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