sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Acordão paulista



Pensata

Kennedy Alencar



O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, e as correntes políticas do PT paulista que apostam no projeto presidencial da ministra Marta Suplicy (Turismo) fecharam um grande acordo com três tópicos. O primeiro ponto já é público: apoio à candidatura do deputado federal Jilmar Tatto (SP) à presidência do PT.
Os outros dois pontos se referem às eleições de 2008 e de 2010.

No ano que vem, Chinaglia receberá a contrapartida do apoio a Tatto. O presidente da Câmara terá suporte desses grupos para concorrer à Prefeitura de São Paulo pelo PT. Rumo a 2010, caminhariam todos juntos com Marta, seja a ministra candidata ao governo de São Paulo, seja a petista candidata ao Palácio do Planalto.

Tatto comanda a tendência paulista PTLM (PT de Luta e de Massas). Ele é aliado de outro grupo paulista, o Novo Rumo. Esta tendência tem entre seus expoentes os deputados Candido Vaccarezza (federal) e Rui Falcão (estadual). PTLM e Novo Rumo possuem maioria no diretório municipal do PT e sonham em ver Marta no Palácio do Planalto.

Na provável prévia dos filiados do PT que será realizada para escolher o candidato do partido à prefeitura paulistana no ano que vem, a união dessas correntes em torno de Chinaglia o tornará favorito.

Já Tatto concorrerá em outra contenda interna: o PED (Processo de Eleição Direta), que acontecerá no final deste ano. No PED, os filiados do PT votarão diretamente para escolher o comando novo partidário. E Chinaglia, um dos caciques da tendência nacional Movimento PT, apoiará a postulação de Tatto.

Na disputa pelo comando do partido, Tatto provavelmente será derrotado pelo candidato do CNB (Construindo um Novo Brasil), grupo que reúne os integrantes do antigo Campo Majoritário (esta a corrente que dominou o PT nacional durante anos e que ainda hoje é a maior do partido).

Ainda que derrotado, Tatto ganhará, pessoalmente projeção nacional. Hoje é um deputado federal conhecido na capital paulista e de pouco destaque público em Brasília. Reunidas, as tendências PTLM, Novo Rumo e Movimento PT poderiam obter 25% dos votos no PED. Insuficiente para eleger Tatto, mas bastante para obter cargos na futura direção nacional do partido, montada proporcionalmente a partir do resultado do PED.

Aí entra o fator Marta Suplicy. Ela é integrante do CNB. No entanto, atua de forma bastante independente. As correntes paulistas apostam no seu projeto político _ela é única grande estrela que sobreviveu aos escândalos políticos no petismo de São Paulo. Se essas correntes obtiverem 25% do comando nacional do PT, Marta, no mínimo, precisará ser consultada na escolha do candidato do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Logo, Tatto ganha. Chinaglia, também. O presidente da Câmara, que tem 1% na pesquisa Datafolha sobre a sucessão paulistana, será fortalecido politicamente. E Marta ficará em posição confortável para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes pelo PT, candidatura que provavelmente obteria com facilidade, ou ao Palácio do Planalto, este um jogo bem mais complexo.

Para a ministra do Turismo, o entendimento entre Tatto e Chinaglia é interessante. Se ela mudar de idéia e resolver disputar a prefeitura, ninguém a desafiará. Por ora, a ministra realmente não deseja participar das eleições municipais de 2008.

Partida nacional

O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, continua favorito para ser o candidato da principal corrente do PT na eleição para a presidência do partido. Garcia tem buscado vencer resistências, conversando com pessoas que têm peso no partido.

No entanto, há ainda quem queira inviabilizar sua candidatura em benefício do atual presidente do PT, Ricardo Berzoini, ou do deputado federal André Vargas (PR).

Em baixa

O "acordão paulista" tira gás da idéia de petistas próximos a Lula e de alguns martistas de fazer outro acerto. Marta tentaria convencer seus aliados paulistanos a apoiar a candidatura do ministro Fernando Haddad (Educação) à prefeitura. Em troca, com vaga aberta na Esplanada dos Ministérios, ela seria deslocada do Turismo para a Educação.

Outro complicador: tem gente no PT e no governo que acha que Lula não fortaleceria Marta politicamente tão cedo assim. Dar a ela a Educação desequilibraria o jogo interno petista pela candidatura presidencial em 2010. No coração de Lula, batem mais fortes os nomes da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e do governador da Bahia, Jaques Wagner.

Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kalencar@folhasp.com.br

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