O ex-banqueiro e a sucessão de 2010
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O ministro da Justiça esteve impecável nas primeiras horas após o anúncio da prisão de Cacciola, sábado retrasado. Rapidamente encaminhou as tratativas com o Itamaraty e já no início da semana seguinte tinha uma diplomata a postos para levar o pedido de extradição às autoridades do principado de Mônaco, onde o ex-banqueiro foi preso. Agilidade suficiente para sinalizar o interesse inequívoco do Estado de ter de volta e julgar o ex-banqueiro, o mais notório dos brasileiros na lista de fugitivos da Interpol. |
Segundo o Ministério da Justiça a viagem de Genro a Mônaco era necessária para reforçar "o interesse do governo brasileiro" no pedido de extradição. É pouco. O governo já havia deixado patente esse interesse. O ministro dá ao caso de Cacciola um caráter excepcional, merecedor de tratamento excepcional. Dificilmente terá o mesmo comportamento em relação a outros fugitivos menos notórios. Além disso, é uma atitude de risco: e se as autoridades de Mônaco negarem a extradição, como é que fica o ministro da Justiça brasileiro? |
No PT e nos outros partidos aliados há só uma explicação para a iniciativa de Genro: o ex-banqueiro Cacciola é mídia certa e o ministro aproveita a carona para fazer um factóide. Com isso espera se posicionar melhor numa disputa que se desenha intensa, desencadeada pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao dizer que o candidato do governo em 2010 pode sair de qualquer um dos partidos da aliança. E nisso Tarso Genro não está só: se Lula não pode concorrer pela sexta vez seguida, todos são candidatos à herança lulista. |
Testamento eleitoral de Lula está em aberto |
Sem um nome natural, o PT incomoda-se com a desenvoltura de aliados como Nelson Jobim (PMDB) e Ciro Gomes (PSB). Em poucos dias de governo, Jobim já apareceu caracterizado de bombeiro, nos escombros do acidente da TAM, vestiu farda do Exército e falou grosso com militares supostamente insatisfeitos com o lançamento de um livro sobre mortos e desaparecidos da ditadura. Ciro volta a ser o melhor Ciro de 2002 e diz que a "A CPMF é assunto de branco que não quer pagar imposto, para que o povo perca o Bolsa Família". O PT observa Sérgio Cabral (PMDB) com atenção, mas ainda não o tem na conta de adversário a ser tirado do testamento de Lula. |
Internamente, chegam a seis as alternativas com as quais o PT trabalha para 2010. Tarso Genro é uma delas, mas leva a desvantagem de tentar a indicação por meio do enfrentamento com um grupo mais poderoso no partido, no qual José Dirceu ainda dispõe de influência. O governador Jaques Wagner (BA) também entrou setembro com uma viagem aos EUA e reuniões com organismos financeiros internacionais. Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) tem o que o PT avalia ser a melhor obra e a que deu mais resultados, mas não tem visibilidade. |
Marta Suplicy (Turismo) é sempre mencionada, mas a avaliação é que está destinada a repetir José Serra: se for candidata a prefeito, no mínimo mantém a atual bancada de 12 vereadores do PT, se perder a eleição; se vencer, pode ampliá-la para 14. Qualquer outro candidato pode derrubar a bancada para cinco vereadores. Missão cumprida, ela poderia se candidatar ao governo do Estado em 2010. Como Serra. |
A aposta de Dilma Roussef (Casa Civil) é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Se transformar o Brasil num "canteiro de obras" em 2008, como promete, poucos petistas têm dúvidas de que seu nome passa a ser quase automático. Nesse ritmo, o ex-ministro Antonio Palocci resolveu acelerar sua volta ao primeiro plano da política. Depois de relatar a emenda que prorroga a CPMF, pode assumir a função de relator da reforma tributária. E voltou a fazer caminhadas com Lula. Sem Lula na chapa pela primeira vez, o importante para petistas e não-petistas é estar com Lula em 2010. |
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras no jornal Valor
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