Dilma: PAC leva país além da época do milagre
O GLOBO ENTREVISTA
Dilma Rousseff
Há mais de 12 horas trabalhando, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, recebeu O GLOBO na noite de quinta-feira, dia no qual divulgou o segundo balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Reclamou das olheiras, que a perseguem “há anos”, mas andam mais intensas. Não é à toa. Ela é a gerente do conjunto de 3.212 obras que formam o mais ambicioso plano de governo do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Cabe a ela, em última instância, prestar contas do PAC. Mostra que está com as garras afiadas para cumprir sua missão e continua fazendo jus à fama de durona.
Aos empresários que reclamam de insegurança regulatória, diz que o PT respeitou todos os contratos e que, se insistirem nesse “discurso ultrapassado”, vão perder o barco para os estrangeiros, pois o Brasil é o investimento da hora. Irritada, chama de conversa fiada de quem quer somente aumentar preços o discurso de que há risco de apagão energético.
Mas são rompantes. Na maior parte do tempo, Dilma mostrou que está mesmo é feliz e disposta a defender o PAC — que monitora, “obra a obra”, numa sala de situação nas cercanias de seu gabinete, no quarto andar do Palácio do Planalto.
Nem precisou consultar seus famosos power points para discorrer sobre sua visão da realidade brasileira. Acredita que está em curso um novo modelo de desenvolvimento, pautado pela criação de um amplo mercado de massa, onde consome uma nova classe média. E encheu a boca para dizer que muita gente ainda não enxerga, mas “o PAC é irreversível” e, em 2008, será inquestionável: “Nunca passamos por um processo similar a este. Mesmo na época em que houve o milagre econômico”.
O GLOBO: O balanço do PAC trouxe o conceito de uma nova classe média. Por que essa ênfase e quais seus reflexos?
DILMA ROUSSEFF: É uma coisa crescente. Há um processo de mobilidade social.Antes não havia. Hoje, você está saindo da pobreza, indo para uma situação remediada, e depois para essa nova classe média que se forma. Estamos consolidando um mercado amplo de massa. Já tivemos crescimento, mas extremamente segmentado. Isto se torna um valor econômico fantástico, porque é diferente você ter um país com consumo de 20 milhões e outro de 100 milhões, nos dá mais robustez. Não há capitalismo sem que o cidadão vire consumidor.
A senhora considera isso um legado do governo Lula?
DILMA: De nossa parte, isso decorre não só da política macroeconômica, do crescimento, mas da política de salário mínimo, do Luz para Todos, do fato de termos tido cuidado de fazer do Bolsa Família um programa focado. Da difusão violenta do crédito. E tudo isso num momento em que estamos num novo ciclo de desenvolvimento.
Quando há mobilidade social, há uma evolução que beneficia os empresários, os mais ricos. Pois cria-se poder de consumo e de gerar emprego, renda e lucro, uma dinâmica mais favorável. Acho que nunca passamos por um processo similar. Mesmo na época em que houve o milagre econômico.
DILMA: O crescimento vai se acelerar a partir de agora de forma muito consistente.
O ano que vem será muito surpreendente.Mais do que foi 2007. Este foi o ano da consciência de que algo mudou. O próximo será da prova inquestionável de que mudou. As coisas vão ficar cada vez mais claras. Hoje alguns percebem, outros não, dizem “O PAC não existe, é uma obra de marketing”. O PAC será um dos fatores que vão transformar este país num canteiro de obras.
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