Classe média
TEREZA CRUVINEL
A divulgação dos indicadores socioeconômicos favoráveis ao governo coincidiu com a revelação, pela pesquisa CNI-Ibope, de uma queda, ainda que ligeira e dentro da margem de erro, na popularidade do presidente Lula. Os 50% que em junho consideravam o governo bom e ótimo caíram para 48%, e os 66% que aprovavam a forma de Lula governar, para 63%. Mais uma vez, a oscilação negativa ocorreu dentro da classe média.
Não na “nova classe média” que o governo considera fruto de suas políticas, composta por pobres emergentes que estão entrando na sociedade de consumo, mas na velha e tradicional classe média, de gente com curso superior que ganha mais de dez salários mínimos e que, na campanha do ano passado, votou mais em Alckmin que em Lula.
Deve haver, na composição da variação negativa de agora, resquícios do apagão aéreo e respingos da crise do Senado, que envolveu um aliado importante como Renan Calheiros, ao lado de quem Lula nunca se recusou a aparecer.
O julgamento do STF também pode ter despertado a lembrança da decepção com os escândalos do PT.
A pesquisa mostrou elevada rejeição à CPMF. Mas se, na média, 54% defenderam o fim do imposto ainda este ano, na classe média o índice foi de 72%, contra 48% entre os que ganham de dois a três salários mínimos.
Se a aprovação média do governo foi de 48%, entre os pobres foi de 53% e na classe média, de 38%. Ainda é um bom índice, sinal de que a rejeição não é hegemônica, embora o contraste interclasses seja grande.
A rejeição da classe média a Lula era bem mais baixa no início do primeiro mandato, 11%, segundo o Datafolha de março de 2003. Em 2004, depois do caso Waldomiro, a aprovação ao governo Lula no segmento começou a cair. Com o escândalo do valerioduto, em 2005, a rejeição passou a dominar a classe média. Nessa época, o Datafolha registrou 46% de rejeição ao presidente nessa camada social, contra uma aprovação de 18%. Na campanha de 2006, Lula recuperou parte da classe média, sobretudo no segundo turno, neutralizando a preferência anterior de Alckmin, que perdeu 2,5 milhões de votos no segundo turno.
O governo continua querendo reconquistar a classe média, mas não encontra o discurso e a política certos.
Iniciado o segundo mandato, o grande estrago foi feito pelo apagão aéreo. Avalia que ela também vem se beneficiando do crescimento, embora os pobres é que estejam ganhando mais. E isso, de certa forma, indispõe os segmentos médios mais conservadores ou mesmo preconceituosos, que, receando perder alguma coisa, reagem a qualquer distribuição.
Detestam o Bolsa Família. A popularidade é alta entre os pobres, mas o governo sabe que, tendo a classe média contra, é sempre mais difícil governar. Continua querendo reconquistá-la. No pronunciamento do ministro Mantega, na sexta-feira, houve mensagens nesse sentido.
Por isso, entre as concessões tributárias que podem ser apresentadas para garantir a aprovação da CPMF no Senado, pode surgir uma nova mexida no Imposto de Renda. Uma correção do valor das deduções por dependente e gasto escolar cairia bem.
Leia a integra da coluna de Tereza Cruvinel no jornal O Globo (para assinantes)
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