'Essa é uma anomalia do governo Lula'
Reinaldo Gonçalves: professor da UFRJ
Leandro Modé
Professor da Universidade Federal do Rio (UFRJ), Reinaldo Gonçalves concorda com o governador José Serra. 'A taxa de câmbio está fortemente apreciada', afirma.
O governador José Serra disse que o Brasil vive um 'desvario cambial'. O sr. concorda?
É uma pena que ele não tenha dado esse tipo de declaração entre 1995 e 1998. Descontando isso, o que disse é uma platitude. A taxa de câmbio no Brasil está fortemente apreciada. Isso cria sérios problemas para a economia.
De que tipo?
Dificulta a geração de renda e emprego, na medida em que os produtos importados ficam muito baratos. Há uma substituição da produção doméstica pelos produtos importados. O resultado é a destruição de empresas e a eliminação de postos de trabalho.
Mas isso não é concentrado em alguns setores?
É verdade. O problema é que a maior parte desses setores tem alto componente de geração de renda e de mão-de-obra. É uma questão grave. A segunda questão grave é que o câmbio baixo estimula a saída de capitais. O Brasil se tornou exportador líquido de capital produtivo, em decorrência de um câmbio baixo. É uma anomalia do governo Lula.
Qual a raiz dessa valorização, a taxa de juros?
É uma incompetência da gestão macroeconômica em geral, não apenas um problema dos juros altos. O problema é a política voltada para câmbio flutuante, superávit fiscal e juros altos.
O câmbio deveria mudar?
O Brasil deveria ter um regime de câmbio administrado. A taxa de câmbio deveria ser tratada da mesma forma que se trata a taxa de inflação. Ou seja, deveria haver metas claras. Não se pode deixar a taxa de câmbio oscilar ao sabor do mercado.
Controle de capitais funciona no mundo de hoje?
A literatura internacional e brasileira diz que são eficazes. Os países mais dinâmicos do mundo hoje, Índia e China, adotam controles eficazes. Isso num contexto de forte globalização. A questão é que cada capital deve ter um controle específico.
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