domingo, 27 de janeiro de 2008

Jornalismo febril ou politicamente orientado?



Na edição de hoje, domingo, o ombudsman da Folha faz um balanço do tratamento dado pelo jornal Folha de São Paulo a questão da febre amarela.

Eu mesmo tenho tratado aqui no blog várias vezes deste tema, mostrando a maneira pouco responsável e extremamente "política" com a qual a mídia operou sobre esta questão nos primeiros dias de janeiro 2008.
O ombudsman da Folha pesquisou a maneira como o jornal tratou deste tema nos diversos anos em que a febre amarela provocou vítimas no Brasil e descobriu o que muitos já imaginávamos: em 2001, ano em que a febre amarela matou 22 pessoas só no primeiro trimestre, o tema ocupou escassas linhas numa nota perdida no interior do jornal, nunca foi para a primeira página e nenhum pedido de explicação, nem entrevista, do ministro da saúde da época. Em tempo, o ministro era José Serra e o presidente não era Lula. A seguir o artigo do ombudsman publicado na Folha de hoje.

Jornalismo febril


Não cabe ao jornalismo sabujar autoridades, mas não é seu papel alarmar; o tom predominante foi o de escalada

Se crianças começam a assuntar sobre a vacinação contra a febre amarela, é sinal de que o temor da doença -e da injeção- se disseminou.
Não é para menos: no princípio do ano, parcela expressiva do jornalismo sugeriu que o mal ameaça o país. A Folha não ficou de fora. Como se vê ao lado, do dia 8 até a quinta-feira passada o assunto ganhou espaço na primeira página, 14 presenças em 17 dias.
Há mesmo interesse público em saber que houve contaminação em áreas rurais. A morte em decorrência de picada de mosquito na floresta é tão trágica como a de alguém infectado nas cidades.
Acontece que desde 1942 não se conhece no Brasil transmissão de febre amarela em reduto urbano. A informação foi veiculada, mas o tom predominante, mostram os títulos da capa, foi o de escalada.
Sob uma manchete, o jornal relativizou a opinião do ministro da Saúde: "No dia em que o número de notificações de casos suspeitos de febre amarela no país subiu de 15 para 24, (...) José Gomes Temporão foi à TV fazer um pronunciamento (...) para dizer que não há risco de epidemia".
Não cabe ao jornalismo sabujar autoridades, mas não é seu papel alarmar. Quando consultou quem entende, a Folha prestou bons serviços.
Na contramão de leigos que proclamavam a urgência de imunização universal, infectologistas a condenaram.
Até a quinta, contavam-se dez mortos por febre amarela silvestre, desde 30 de dezembro. Todos a teriam contraído na mata de Goiás.
O exagero da Folha em 2008 contrasta com outro, o de 2001, quando os 22 óbitos se concentraram no primeiro trimestre. Em nenhum dia daquele ano a primeira página se referiu à moléstia.
Em março, notinha de rodapé com oito linhas noticiou: "Morre a 15ª vítima da febre amarela". Outra nota anunciara semanas antes as 39 mortes do ano anterior (mais uma se somaria à estatística).
Os registros não trouxeram a opinião do então ministro da Saúde, José Serra. Em 2000, nenhum título da capa falou em morte pela doença.
A Redação discorda: "Os números dos anos recentes justificam a cobertura que a Folha vem dando à febre amarela. Em 2004 e 2005, houve três mortes confirmadas em cada ano; em 2006, foram duas mortes; em 2007, cinco".
"Em 2008, apenas no primeiro mês do ano, já há dez mortes confirmadas (uma delas ocorrida em 30 de dezembro, mas só confirmada agora). Acresce que a Folha tem dado amplo espaço a autoridades e especialistas, com diferentes visões sobre a dimensão do problema. E a única manchete relativa ao tema tratou do pronunciamento do ministro da Saúde em que ele procurava tranqüilizar a população."
Não entendi por que os números de 2000 e 2001 não "justificaram" destaque. Sobre isso, minhas perguntas não mereceram respostas.



Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.

2 comentários:

Sylvia disse...

Ôba, consegui usar o copy/cola para colcoar aqui o e-mail que escrevi para o ombudsman da "Folha" hoje.
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Prezadíssimo Mário Magalhães

Agora me sinto mais tranqüila por saber que a “Folha” contratou um ombudsman como você que usa o mesmo peso e a mesma medida quando se trata do PT ou quando se trata dos tucanos, porque até agora não tem sido assim.

É claro que quando o Ministro da Saúde é José Serra, o presidente eleito, mas ainda não empossado da República, as notícias vão pra debaixo do tapete, mas quando se trata de procurar crise no governo do Lula, o jornalismo torna-se febril (eu diria histérico) como você mesmo diz.

Embora o tiro tenha saído pela culatra, a venda de jornais tenha caído e o ibope da Globo também, eles não desistem nunca.

Ler jornal ou assistir jornal na televisão deixou de ser uma atividade prazerosa, hoje em dia, só leio mesmo alguns raros colunistas e todo domingo procuro a palavra do ombudsman, para ver minha alma lavada.

Sou licenciada em filosofia e entre terapias e análises, estou nessa busca de auto-conhecimento há 35 anos, então, ninguém pode duvidar que a procura da verdade tenha sido a meta de minha vida, desde que me conheço por gente.

Ver diariamente a mentira sendo divulgada e propalada pela mídia, me irrita, me revolta, me dá tristeza e me dá nojo em alguns casos.

Mas dizem que os lírios nascem na lama, não é mesmo?

É nesse lugar mesmo que nasce sua palavra, em busca da verdade, nada mais que a verdade.

Sylvia Manzano

Sylvia disse...

E JÁ QUE O COPY/COLA FUNCIONOU, COLOCO AQUI O OUTRO E-MAIL QUE ENVIEI PARA O OMBUDSMAN, QUE FALOU DA CONFUSÃO QUE A "FOLHA" FEZ OUTRO DIA EM NOTÍCIA DIVULGADA.
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Prezadíssimo Mário Magalhães

Minha irmã tanto fala nisso, que ontem fui conferir.

O programa “Zorra Total” da “Globo” tem um quadro com uma médica de regimes, que diz que comer pizza pode, uma queijadinha com 30 gemas pode, iogurte não pode e assim por diante.

Lendo a confusão que você relata em seu artigo, eu me lembrei do quadro da doutora e me deu vontade de fazer a brincadeira: a “Folha” pode.

Na “Folha” parece que é assim: contar mentira pode, misturar nomes pode, confundir os leitores pode.

Ser fiel aos fatos, quando esses fatos favorecem o Lula e o PT NÃO PODE.

É assim que a banda toca, né?

Sylvia Manzano