sábado, 19 de janeiro de 2008

Acho ergo est


René Descartes (1596 - 1650)
René Descartes (1596 - 1650)

Cogito ergo sum
(penso, logo existo), resumo do pensamento do filósofo francês Descartes, parece servir de inspiração a uma nova forma de jornalismo tupiniquim.

"Acho" ergo est, parece ser a divisa que parte do principio que a realidade é o que os articulistas ponderam nos jornais e danem-se os fatos.

O "mundo da fantasia" de Mauro Chaves (ver aqui Fantasia e realidade) é um exemplo dos mais recentes.

Outro exemplo é a pregação do "pânico" na questão da febre amarela. A articulista Eliane Cantanhêde, por exemplo, disse na sua coluna do 8 de janeiro 2008

"Com sua licença, vou usar este espaço para fazer um apelo para você que mora no Brasil, não importa onde: vacine-se contra a febre amarela! Não deixe para amanhã, depois, semana que vem... Vacine-se logo! "

E depois de alguns parágrafos termina assim:

"O fantasma da febre amarela, portanto, paira sobre o país como um alerta num momento crucial, para que a saúde e a educação sejam preservadas antes de tudo o mais. Senão, Lula, o aedes aegypti vem, pica e mata sabe-se lá quantos neste ano --e nos seguintes. "

A incidência da febre amarela nos últimos anos, porém, não autoriza esse "achismo" e não me consta que Eliane tenha escrito nada semelhante em 1999, 2000, 2001 ou 2003.

1996 - 15 casos
1997 - 3 casos
1998- 34 casos
1999 - 76 casos
2000- 85 casos e 42 mortes
2001 - 41 casos e 22 mortes
2002 - 15 casos e 6 mortes
2003 - 64 casos e 22 mortes - obs: 58 dos casos diagnosticados na região sudeste, principalmente MG
2004 - 5 casos e 3 mortes
2005 - 3 casos e 3 mortes
2006 - 2 casos e 2 mortes
2007 - 6 casos e 5 mortes
(fonte : Min.Saúde)

Outro exemplo é a reportagem da revista Istoé, nas bancas hoje, sobre as eleições a prefeitura de São Paulo. Chega a por aspas na suposta proclamação de candidatura de Marta Suplicy, quando é público e notório que o PT tomará sua decisão em função da conjuntura municipal em maio-junho e não de cálculos "futuristas" sobre 2010.

Neste caso o "acho", combinado com anônimas fontes é uma "aposta". Como na roleta com a cor vermelho ou preto, a candidatura da Marta também só tem duas opções. As probabilidades de achar certo são tão grandes como as do achar errado. Sempre poderá se argüir que o prognóstico não estava errado e que o candidato mudou de idéia.

Luis Favre




Nenhum comentário: