quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Taxa de desemprego deve seguir em queda

Sergio Lamucci - VALOR

A taxa de desemprego deve continuar em queda em 2008, atingindo 8,5% na média do ano, estimam analistas de consultorias e bancos. Em 2007, a desocupação ficou em 9,3%, a menor média anual desde que houve a mudança na metodologia da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), em março de 2002. A avaliação dominante é que o indicador seguirá em baixa por causa da aposta numa expansão ainda forte da demanda interna em 2008. O movimento não deve pressionar significativamente a inflação, dada a expectativa de aumento da produtividade e de maturação dos investimentos.

Magdalena Gutierrez/Valor
Fábio Romão, da LCA Consultores:
aumento da produtividade e a maturação de investimentos
tornam quadro mais favorável para controle da inflação


Os economistas do Bradesco vêem um quadro de melhora estrutural no mercado de trabalho. A expansão consistente da demanda eleva a confiança dos empresários, que se sentem mais seguros para aumentar o número de empregados. Um dos aspectos mais positivos da evolução recente do emprego é o avanço expressivo da formalização da mão-de-obra no país. "Considerando o setor privado, a expansão de vagas com carteira assinada foi, em média, 5,5% maior em 2007, enquanto o número de postos sem carteira assinada teve queda média de 2,8%", escrevem os analistas do Bradesco. "A decisão de registrar um trabalhador envolve custos relevantes para as empresas, o que nos faz acreditar que a evolução benigna do emprego em 2007 reflete o clima de maior confiança em relação ao crescimento." O Bradesco espera que a economia cresça 4,5% em 2008, menos que os 5,3% estimados para 2007, mas ainda assim um ritmo razoável.

Assim como os analistas do Bradesco, o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, aposta numa taxa média de desemprego de 8,5% em 2008. Ele vê a continuidade do cenário positivo para a atividade econômica e para a formação bruta de capital fixo (FBCF, que mede o investimento na construção civil e em máquinas e equipamentos), embora a uma velocidade mais fraca do que no ano passado - para o PIB, a previsão é de expansão de 4,4%. Romão também ressalta o aumento do emprego formal a um ritmo expressivo.


Em 2007, a ocupação cresceu 3%, uma alta maior que os 2% registrados pela população economicamente ativa (PEA). Para 2008, Romão projeta crescimento também na casa de 3% da ocupação nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador.


Com o cenário positivo para o mercado imobiliário e para investimentos em infra-estrutura, as perspectivas para o emprego na construção civil seguem bastante favoráveis. Romão diz que a criação de postos de trabalho no setor melhorou significativamente a partir de agosto, tendência que, ele acredita, deve se manter neste ano. Para Romão, o desempenho do segmento no segundo semestre foi uma resposta defasada à expansão da FBCF, que se acelerou a partir do fim de 2006. O saldo de empregos formais na construção civil aumentou 13,08% no ano passado.



A melhora do mercado de trabalho pode trazer pressões inflacionárias indesejáveis? Para Romão e para os economistas do Bradesco, ainda não, porque o aumento da produtividade e a maturação de investimentos tornam o quadro para a inflação mais favorável. "Os dois fatores continuarão ajudando a atenuar a eventual intensificação da pressões no mercado de trabalho em 2008", avaliam os analistas do banco.


"Outro ponto é que a taxa de desemprego no Brasil não é baixa, embora tenha caído bastante em 2007", afirma Romão, lembrando que o rendimento real (descontada a inflação) ainda não voltou aos níveis de 2002, mesmo depois de aumentar nos últimos três anos.


A desocupação no Brasil ainda está acima da média dos países latino-americanos. Segundo números da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de janeiro a setembro de 2007 a taxa média de desemprego da América Latina e do Caribe ficou em 8,5%, abaixo dos 9,7% do Brasil no mesmo período.


Para Romão, há algumas pressões localizadas no mercado de trabalho, como no setor de construção civil, mas que não devem se espalhar pela economia. Em 2007, o rendimento médio real do setor cresceu 7,08%, um ritmo mais de duas vezes acima do que os 3,21% registrados pelo total da população ocupada. O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, diz que há falta de mão-de-obra qualificada em alguns setores, como na construção civil e na petroquímica, mas avalia que isso não deve se traduzir em altas de preços preocupantes. "Para setores que empregam muito, como comércio e serviços, e mesmo para postos de baixa qualificação na construção civil, ainda há uma oferta ampla de mão-de-obra."


Ele ressalta que o mercado de trabalho em 2008 deve ter comportamento oposto ao de 2007. Neste ano, o primeiro semestre deve ter um desempenho melhor do que o segundo, porque a atividade econômica tende a se desacelerar a partir de meados do ano. Vale acredita que a taxa de desemprego em dezembro pode ficar entre 7,5% e 8%, acima, portanto, dos 7,4% do fim de 2007. Ele e Romão lembram que a perspectiva de um aumento menor do salário mínimo em 2008 do que nos anos anteriores deve aliviar as pressões do mercado de trabalho sobre a inflação.

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