Factóide Kassab
ROGÉRIO GENTILE
Engenheiro do ano
SÃO PAULO - Recém-homenageado com o título de "engenheiro do ano" pelo tradicional Instituto de Engenharia, o prefeito paulistano Gilberto Kassab (DEM) demonstrou na semana passada um profundo desconhecimento do problema do trânsito na cidade.
Com 900 novos veículos por dia, São Paulo tem um sistema de circulação semelhante a uma rede de esgoto cuja tubulação está praticamente entupida. Se nada for feito, vai implodir mesmo. É o que os técnicos em transporte chamam de "bomba-relógio".
E a única forma de evitar isso é convencer o motorista de que pode ser mais barato e rápido usar ônibus, metrô ou trem. Ou seja, todo investimento público no setor deve ser direcionado no sentido de dar mais amplitude, eficiência, qualidade, segurança e velocidade ao transporte coletivo. O resto é paliativo.
Ao testar a tal faixa exclusiva para motos na avenida 23 de Maio, Kassab, com o perdão do trocadilho, pegou a contramão. Fez campanha para o transporte individual. Puniu os 10 mil passageiros que passam de ônibus por hora na avenida em favor de cerca de 2.000 motoqueiros/hora.
Nem mesmo o argumento oficial de que a medida serviria para aumentar a segurança dos motoboys se sustenta. Pelas estatísticas da prefeitura, a 23 de Maio está bem longe de ser a mais perigosa. Em 2006, último dado disponível, houve uma morte de motoqueiro ali contra, por exemplo, 35 nas marginais, 11 na avenida Teotônio Vilela e 11 na Aricanduva.
Ademais, se a questão é reduzir a violência, faz-se necessário lembrar que, das 1.500 pessoas que morrem no trânsito por ano na cidade, metade é pedestre (contra 25,6% de motoqueiros, 19,4% de ocupantes de demais veículos e 5,6% de ciclistas). Pela lógica kassabiana, então, a saída é transformar a 23 de Maio numa via exclusiva para pedestre...
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