quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

China já sente o baque do aperto americano

Xangai
Joe McDonald VALOR

A Oyimay Sofa Co. já está sentindo o drama do desaquecimento econômico americano. Os pedidos recebidos de nervosos varejistas americanos, que adquirem quase 66% da produção da Oyimay, registram queda de 10%, neste mês, em comparação com o mesmo período no ano anterior, disse Zhou Feng, gerente geral da companhia. Ele disse que a Oyimay, que opera com mil funcionários, faz de tudo a seu alcance para recuperar-se, passando a produzir novos modelos mais atraentes e lucrativos, mas acredita que contabilizará quedas em seus lucros neste ano. "Já sentimos os reflexos do aperto na economia americana", disse Zhou.


De siderúrgicas a agências de viagens, as companhias chinesas estão se preparando para tempos mais difíceis, à medida que o desaquecimento econômico americano provoca queda em suas vendas nos importantíssimos mercados americanos, o que deve reduzir o boom de crescimento chinês.


Na Índia, outro gigante em desenvolvimento, a indústria de vestuário, movida a exportações, poderá sofrer conseqüências, mas a menor dependência indiana em relação ao mercado externo pode limitar o impacto de uma possível recessão americana.


A companhias chinesas deverão reagir ao declínio da demanda dos EUA tentando incrementar as vendas para a Europa e para mercados domésticos, ao passo que o comércio com outras economias asiáticas poderá amortecer o impacto.


Economistas rebaixaram as previsões de crescimento chinês devido à crise creditícia americana. Uma queda de 1 ponto percentual no crescimento americano reduzirá 1,3 ponto percentual da taxa de crescimento chinesa, segundo o Citigroup. As previsões de crescimento em 2008 agora estão numa faixa de 9,5%, na opinião do Standard Chartered, a 11%, na estimativa mais otimista do Citigroup.


Um crescimento menor das exportações repercutiria na economia, prejudicando os gastos do consumidor e a demanda por aço e produtos importados, que no ano passado deu um salto de 21%, para um total de US$ 791 bilhões. Isso poderá reduzir a possibilidade de a China compensar a redução do papel dos EUA como motor de crescimento mundial.


A China vem tentando reduzir sua dependência de exportações. Mas suas vendas para os EUA - seu maior mercado depois da União Européia (UE) - cresceram 14% no ano passado, para US$ 232,7 bilhões, respondendo por 21% das exportação totais.


"Se não houver crescimento nessa demanda, ou se ela diminuir, então veremos que os produtos fabricados na China não conseguirão ser vendidos", diz Ting Lu, economista Merrill Lynch. "Isso não é bom para o crescimento."


Países vizinhos poderão sentir o impacto à medida que as fábricas chinesas que produzem mercadorias para exportação adquirirem menos insumos no exterior. A China é o mercado que mais importa da Coréia do Sul, à frente dos EUA, sendo também um cliente crucial de outras economias asiáticas que fornecem matérias-primas ou alimentam um crescente mercado consumidor chinês.


Um declínio na exportação poderá agravar o que, temem os planejadores chineses, seja um excesso de capacidade de produção em setores como as indústrias têxtil e automobilística. Eles vem tentando limitar os investimentos em setores onde o estoque de ativos excede a demanda, mas os investimentos em fábricas e outros ativos fixos vêm crescendo a uma taxa anual de 25%.


"Um desaquecimento da economia puxado por exportações evidenciaria o excesso de capacidade", disse Mingchun Sun, economista do Lehman Brothers. Ele disse que isso poderá deixar as companhias com um acúmulo de produtos e provocar uma guerra de preços, sendo que "ambos os casos comprometerão a lucratividade das empresas e sua capacidade de honrar seus empréstimos levantados junto aos bancos".


O boom chinês e a crescente demanda chinesa fizeram do país, no ano passado, o segundo maior contribuinte para o crescimento mundial, depois dos EUA, segundo o Fundo Monetário Internacional. Mas analistas dizem que a China não poderá substituir a gigantesca economia americana como motor do crescimento mundial.


"A China, em certa medida, pode ser um motor de crescimento, mas não têm condições de cobrir todo o diferencial", disse Lu.


Na Índia, o impacto econômico do desaquecimento americano deverá ser atenuado, devido à limitada dependência do país em relação aos mercados internacionais.


As exportações indianas para os EUA no ano findo em março foram de apenas US$ 18,9 bilhões, ou 15% das vendas totais para exterior.


Apesar disso, os crescentes setores exportadores indianos, entre eles o de artigos do vestuário, poderão ser afetados negativamente.


Rajendra Hinduja, diretor financeiro da Gokaldas Exports, importante exportadora de roupas, disse que os varejistas estrangeiros informam que as vendas de seus artigos estão em queda de 4% a 5%.


As companhias chinesas estão reagindo, tentando desenvolver novos produtos e estimulando vendas na Europa e em outros mercados fora dos EUA.


A Meisida Electronic Toys, em Jinjiang, uma cidade na província de Fujian, do cinturão exportador no sudeste, está ouvindo reclamações de clientes americanos sobre alta nos preços, diz Chen Junling, gerente de exportações da companhia. Ela disse que a companhia tem 1,2 mil empregados e no ano passado exportou 90% de sua produção. "Não tenho uma idéia exata de em que medida a recessão americana afetará nossos negócios, mas poderemos ver um declínio nos volumes de compras", disse Chen. "Vamos desenvolver novos produtos para atender a demanda do consumidor, mas não vamos reduzir os preços."

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