Ofensiva de DEM por Kassab irrita Alckmin e aumenta divisão tucana
Raimundo Paccó/Folha Imagem
Rodrigo Maia: tom duro ao entrar na reunião,
trocado por suavidade depois de conversar com o prefeito paulistano
trocado por suavidade depois de conversar com o prefeito paulistano
César Felício e Cristiane Agostine
VALOR
A demonstração pública de apoio ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), dada pelo governador paulista, José Serra (PSDB), na segunda-feira, acalmou a cúpula do DEM, mas elevou a agressividade de aliados do ex-governador Geraldo Alckmin, possível candidato tucano à disputa da capital. A reação divide-se entre críticas aos integrantes do DEM e o combate interno: os aliados do ex-governador lembram que Serra não é o único presidenciável tucano e portanto não haveria razão para o partido desistir da candidatura própria neste ano para favorecê-lo em 2010.
Momentos antes de entrar na reunião do conselho político do partido, presidida ontem por Kassab em um hotel de São Paulo, o presidente da legenda, deputado Rodrigo Maia (RJ), foi enfático ao dizer que o partido "não tem problema de ir para a disputa", mas que uma divisão agora "pode abrir espaço para o PT na Prefeitura de São Paulo e depois na sucessão do presidente Lula". Rodrigo Maia reforçou a candidatura de Kassab e disse que em maio o prefeito paulistano estará "à frente de Alckmin nas pesquisas".
A declaração de Maia provocou irritação imediata. "Considero natural Serra ir ao encontro de aliados, mas totalmente anti-natural as declarações da direção do DEM que visam impedir o PSDB de ter chapa própria em São Paulo. O Geraldo tem respeitado a vontade do DEM de ter candidato", disse o deputado Edson Aparecido (SP). "O Serra não esconde sua preferência por Kassab, mas as bases querem o candidato mais forte para fortalecer o partido em 2010, e não uma aliança para fortalecer o projeto de um presidenciável. Até porque Serra não é o único pré-candidato a presidente", comentou o deputado Silvio Torres (PSDB-SP).
Serra e Alckmin encontraram-se pouco antes do Natal, mas tiveram uma conversa protocolar, sem debater a sucessão municipal. Segundo relato de um tucano que procura manter a eqüidistância, a relação entre os dois nunca esteve tão ruim. Na avaliação dele, o apoio a Alckmin é majoritário nas bancadas federal e estadual do PSDB.
O conselho político do DEM discutiu por três horas às portas fechadas. Após o fim da reunião - e do discurso do prefeito paulistano - o tom de Rodrigo Maia foi muito mais ameno e conciliador. "A discussão (sobre o fim da aliança com o PSDB) deve ser feita no momento adequado, depois que todas as tentativas e discussões com o PSDB se encerrarem. Enquanto isso não ocorrer, temos de lutar pela aliança que tem sido vitoriosa em São Paulo", declarou.
Rodrigo Maia minimizou o impacto nos acordos DEM-PSDB em outros Estados, com uma eventual ruptura entre os dois partidos em São Paulo. "São poucos os Estados que essa aliança está tão amarrada como em São Paulo."
Porta-voz da reunião, o prefeito Kassab foi comedido em seus comentários. "Os entendimentos para manter aliança são mais importantes que os projetos pessoais. Jamais algo que é natural, que é minha candidatura à reeleição, será colocado como entrave à manutenção da aliança", disse o prefeito.
Pai do presidente da sigla, o prefeito do Rio, Cesar Maia, brincou com Kassab e disse que tem recebido muitas mensagens eletrônicas com pedidos para levá-lo como candidato para disputar o governo municipal do Rio. Demonstrando menos preocupação sobre a aliança com o PSDB, Cesar Maia reforçou a tese de Alckmin para 2010, no governo de São Paulo, e Kassab em 2008, conforme defesa já feita pelo presidente de honra dos tucanos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Não há nenhuma razão para que uma disputa entre nós fortaleça o adversário. Porque obviamente no primeiro turno só quem sairá fortalecido de uma candidatura PSDB e DEM será Marta Suplicy. Não há nenhuma razão para Kassab não ser candidato. Chapa vitoriosa: Kassab hoje, Alckmin amanhã", disse o prefeito.
Antes de integrantes do conselho político concederem entrevistas, ao fim do encontro, o DEM divulgou uma nota sobre o encontro, em que a discussão eleitoral não aparece, mas se faz um apelo à manutenção da aliança. "A gravidade do momento pede a união das oposições, a exemplo do que ocorreu no Congresso na extinção da CPMF, a fim de impedir retrocessos e mais prejuízos às pessoas", diz a nota.
Os dirigentes do DEM aproveitaram o encontro para gravar entrevistas e imagens com a produtora GW, para o programa de televisão partidário. A empresa presta serviços tanto para a prefeitura paulistana quanto ao partido. É a mesma produtora que fez a campanha eleitoral de Alckmin em 2006. Segundo assessores de Kassab, a produtora, deve continuar com o prefeito na campanha eleitoral, fazendo com que Alckmin perca o marqueteiro da campanha anterior, o jornalista Luiz González. Aliados de Alckmin duvidam da possibilidade, por considerar que a presença de Gonzalez em uma campanha de Kassab seria visto como um rompimento público entre Serra e o ex-governador, o que não deve ocorrer.
Ontem, Alckmin se reuniu com FHC. Na conversa, reafirmou a defesa de lançamento de candidatura do PSDB à Prefeitura de São Paulo. FHC, por sua vez, pregou a manutenção da aliança com o DEM na cidade. Segundo tucanos, a conversa não foi conclusiva. Hoje, Alckmin se reunirá com o ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen. A articulação suspendeu a ofensiva do DEM. A avaliação foi que não seria prudente avançar na véspera do encontro entre Bornhausen e Alckmin. A conversa foi acertada na segunda-feira, quando Bornhausen almoçou com o presidente municipal do PSDB, José Henrique Lobo. Bornhausen também se reuniu com FHC. " Não é o momento de constrangimentos " , disse o líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN).
Com as dificuldades dentro do partido, Alckmin tem procurado apoio em outras lideranças políticas. Ontem, o tucano marcou um novo encontro com o presidente do PMDB-SP, o ex-governador Orestes Quércia. Nos próximos dias, os dois devem se reunir para discutir uma eventual aliança. No fim de dezembro do ano passado, Quércia teve encontros com Kassab, Alckmin e com interlocutores da ministra Marta Suplicy, provável candidata do PT à prefeitura.
As conversas com o PT não avançaram na reunião que Quércia teve ontem com o presidente do diretório estadual do PT, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva. Apesar do aceno feito pelos dois partidos sobre uma aliança em 2008 e 2010, as negociações ficaram travadas. Quércia tem demandas antigas que não foram contempladas: a indicação para disputar o Senado na chapa e a indicação para cargos no governo. (Com agências noticiosas)
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