segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Crise USA: Aumento dos gastos com educação e saúde podem evitar recessão



Michael Mandel, BusinessWeek

VALOR

Uma queda do consumo parece, agora, inevitável. O mercado habitacional está em queda livre, e empréstimos para aquisição de casa próprias, que muita gente usava como se fossem "porquinhos de poupança", estão ficando mais caros e de mais difícil acesso. Agora, as grandes emissoras de cartões de crédito, como American Express e Citigroup, estão registrando crescimento da inadimplência, o que resultará em critérios mais rigorosos para concessão de crédito. O resultado líquido será um aperto sobre o crédito ao consumidor que poderá deter os impulsos até mesmo dos consumidores mais febris.


Mas existe uma força surpreendente que poderia deter o esfriamento da economia: uma máquina de US$ 3,5 trilhões - os setores de educação e saúde - que criou 640 mil novos postos de trabalho apenas no ano passado.


Aquecidos pela demanda dos "baby boomers" (os atuais idosos) e pelo crescente número de matrículas de estudantes, hospitais e escolas continuam contratando, enquanto quase todos os outros setores estão cortando despesas.


A contratação de mais enfermeiras, professoras e ajudantes hospitalares poderiam realmente afastar uma recessão? A resposta é sim - com uma ressalva. O que as pessoas não se dão conta é que os setores de educação e saúde agregados constituem a maior fonte individual de trabalho nos EUA, empregando 28 milhões de pessoas, ou cerca de 20% da mão-de-obra total. E além disso, é dinheiro público que remunera muitos desses trabalhadores, seja direta ou indiretamente, tornando-os menos sujeitos ao ciclo econômico.


O perigo oculto, agora, é que a queda na receita de impostos possa implicar em que governos estaduais e municipais reduzam seus orçamentos para cobrir gastos com escolas e atendimento de saúde, o que poderia debilitar os gastos com saúde e educação exatamente no momento de esfriamento do consumo, um duplo impacto adverso que poderia empurrar a economia para a recessão.


Infelizmente, outras fontes potenciais de fortalecimento econômico nem de longe são tão promissoras. Por exemplo, os investimentos empresariais não serão de grande ajuda para o crescimento econômico, em 2008, quando muitas companhias americanas estão freando suas aquisições de tecnologia. E não devemos esperar que exportações socorram os EUA, mesmo com o dólar mais desvalorizado. Em vista da aparente desaceleração européia, a demanda importadora de produtos "made in US" também poderá diminuir.


Em contraste, a demanda por trabalhadores para os setores de educação e saúde continua em alta. Poucos anos atrás, em 2002, o Ministério de Educação publicou projeções mostrando que o número de matrículas em cursos elementares e ginasiais atingiria um pico em 2005. Atualmente, o número de alunos está 2 milhões acima de seu suposto pico - e continua crescendo. O mesmo está acontecendo com as matrículas em educação superior.


Atendimento de saúde e ensino responderam por cerca de 63% do crescimento total do emprego desde o último pico do ciclo econômico, em março de 2001. Agregados, os dois setores criaram 3,7 milhões de empregos. Em comparação, a segunda maior fonte de novos empregos, o setor de lazer e hospitalidade, acrescentaram apenas 1,7 milhão de oportunidades de trabalho.


Até agora, a expansão dos setores de saúde e ensino parece apenas suficiente para contrabalançar os efeitos adversos do colapso no mercado habitacional e da retração no consumo. Considere o seguinte: bancos, corretoras imobiliárias e outros intermediários de crédito criaram cerca de 350 mil empregos desde 2000. Mesmo se todos esses trabalhadores fossem despedidos, equivaleriam a apenas sete meses de crescimento dos sistemas de saúde e educação.


Mas, e se a economia ainda assim começar a entrar em recessão? Então, as autoridades econômico-financeiras têm diversas opções, se quiserem experimentar um estímulo fiscal. Podem oferecer cortes de impostos, como o presidente George W. Bush fez durante seus primeiros anos de mandato. Podem proporcionar ajuda aos proprietários de casas próprias sob risco de perdê-las ou enfrentando elevados preços da energia, como sugeriu Hillary Clinton.


Ou poderiam fazer algo distinto: incrementar os gastos com educação e saúde. É preciso lembrar que na década de 1930, John Maynard Keynes defendeu vigorosamente a idéia de que gastos governamentais poderiam fortalecer a economia em um período recessivo. No momento atual, ampliar as dotações federais para saúde e educação nos Estados, embora uma iniciativa politicamente controversa, poderia ser uma maneira rápida e eficaz de reduzir os cortes de postos de trabalho quando ocorrerem as quedas nas receitas tributárias. Se isso for feito, Keynes poderá estar de volta: breve, em todas as escolas e hospitais.

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