Raquel Salgado
A continuidade do crescimento econômico brasileiro passa pela existência de um mercado interno robusto. A "supervalorização" do câmbio, no entanto, pode abortar o desenvolvimento desta demanda, uma vez que ela não será forte se estiver apoiada apenas na mineração e na agricultura. É fundamental dar condições para a indústria se desenvolver, mas com o real apreciado o governo caminha em sentido oposto a tal necessidade. A avaliação é do ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto.
Para o economista, que também é ex-deputado federal, hoje a moeda brasileira está cerca de 10% a 15% mais valorizada em relação ao dólar do que seria um patamar considerado razoável. Uma maneira de reconduzir o câmbio a níveis menos elevados seria através da continuidade da redução dos juros básicos. "Não acho que o juro real deveria ser muito maior do que 3% ou 4% ao ano", disse Delfim, em sabatina realizada ontem pela "Folha de S. Paulo". Atualmente, o juro real está na casa de 8%. "Quando o governo começa a falar muito de câmbio, pode crer que é porque há problemas", afirmou. |
Delfim aponta ainda um outro entrave ao crescimento sustentado: os gastos fiscais. Para ele, enquanto o país gastar o que gasta com o custeio da máquina e tiver uma carga tributária de 37% do Produto Interno Bruto (PIB), será muito difícil vislumbrar expansão econômica no futuro. Há cerca de 15 anos, segundo Delfim, o governo investia o equivalente a 4% do PIB e a carga tributária estava em 24% do PIB. "Agora temos uma carga de impostos de 37% do PIB e se investe 2% dele." Para Delfim, este processo foi consumindo a infra-estrutura brasileira e sem ela, o Brasil não crescerá de maneira sustentada. |
Nesse ritmo de gastos com custeio, diz Delfim, o PIB vai murchar, "porque estaremos transferindo dinheiro do setor mais eficiente (o privado, por meio da alta carga tributária) para o menos eficiente." |
Faltou fazer a tão falada lição de casa na área fiscal. Por que o país conseguiu, mesmo que de forma tímida, crescer sem ela? Porque, segundo Delfim, "ganhamos de presente algo em torno de US$ 60 bilhões a US$ 70 bilhões decorrentes do aumento dos preços dos produtos exportados pelo país e também da expansão da quantidade exportada desses produtos", o que só foi possível graças ao forte crescimento da economia mundial, com destaque para a China. |
Ao mesmo tempo, o ex-ministro se diz consciente de que não é possível mudar a estrutura de gastos do país da noite para o dia. A saída, então, é o governo fazer parcerias com o setor privado. "O governo não tem condição de fazer obras de infra-estrutura, tem outras obrigações constitucionais, por isso precisa chamar empresas privadas para atuarem junto a ele", argumenta. Leia mais no jornal
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