sexta-feira, 24 de agosto de 2007

'Brasil deve ignorar EUA', diz Phelps

Para Prêmio Nobel de Economia, crescimento americano não deveria ser motivo de preocupação para o País

Célia Froufe para O Estado de São Paulo

O Brasil não deveria se preocupar com o crescimento dos Estados Unidos nos próximos cinco anos. A opinião é do professor de Economia Política da Universidade de Columbia e Prêmio Nobel de Economia do ano passado, Edmund Phelps. Em palestra dada ontem no 3º Congresso Internacional de Derivativos e Mercado Financeiro, em Campos do Jordão, Phelps disse que não há evidências históricas de que o crescimento em uma parte do mundo signifique necessariamente a expansão de outras economias, como acreditam alguns especialistas.

'É uma falácia dizer que uma maré alta eleva todos os barcos.' Ele citou o crescimento da produtividade nos Estados Unidos de 1920 a 1941 e da Europa de 1955 a 1980, acrescentando que nesses períodos não houve expansões em outras economias do globo. 'Portanto, os brasileiros não deveriam se preocupar com uma taxa de crescimento dos Estados Unidos nos próximos um, três, cinco anos', sugeriu, acrescentando estar consciente de que sua opinião parece uma heresia e pode soar como uma contra-indicação.

'É claro que o desenvolvimento dos Estados Unidos levaria a um crescimento mais rápido das exportações no Brasil', ponderou. Este crescimento, no entanto, leva a outros fatores não tão benéficos, como o aumento das taxas de juros no mundo, que deve ser seguido por outros países, como o Brasil. Isso, segundo ele, desencorajaria a competição de empresas do País.

Sobre o desenvolvimento das economias de países da América Latina, Phelps afirmou que há uma lacuna entre a maneira como os fatos ocorrem nos diferentes países. 'Na América Latina, ouve-se que o sistema econômico é ótimo e o problema é social.'

Segundo ele, alguns especialistas indicam a diminuição da assistência e a adoção de cortes nos impostos como forma de resolver o problema. 'Acho que não há mágica para a prosperidade do crescimento universal. Dizer apenas que cortar impostos e gastos resolve todos os problemas é um erro.'

CRISE IMOBILIÁRIA

Phelps acredita que, até certo ponto, o problema do que chamou de 'colapso do crédito nos Estados Unidos' está relacionado com a falta de transparência do setor. 'Os Estados Unidos tinham o hábito de ditar moral para outros países, mas acabaram sem fazer isso no próprio mercado.'

Para o professor, a economia americana não pode passar muito tempo com esse mercado de crédito travado, sem que hajam tomadores e doadores no mercado por causa da aversão ao risco. O primeiro passo a ser dado, segundo ele, é propiciar a volta da liquidez. Em seguida, os setores produtivos deveriam agir para se adaptarem à nova realidade. 'Temos de fazer com que o mercado de crédito volte a ficar em pé.'

Para que isso ocorra de forma adequada, é preciso que o governo considere novos dispositivos de regulamentação para poder lidar com as inovações dos mercados financeiros, como o de crédito. Phelps cogitou também a possibilidade de criação de novas instituições reguladoras do setor. 'E tudo pode ser feito em três, seis, nove meses.'

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