quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Mercosul intensifica ofensiva anti-China

Sergio Lamucci para Valor

Os países do Mercosul intensificam a adoção de medidas contra as importações da China. O movimento no bloco é capitaneado pela Argentina e pelo Brasil, que passaram a adotar com mais freqüência medidas para combater a enxurrada de produtos exportados pelo país asiático. Na sexta-feira, o governo argentino anunciou restrições à importação de produtos como bicicletas, pneus calçados e equipamentos de informática, para dificultar a entrada de artigos da China e de outros países asiáticos.

O governo brasileiro, por sua vez, decidiu inspecionar com mais rigor remessas de mercadorias importadas, a começar pelos brinquedos.


O diretor de relações internacionais e comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, acredita que essa tendência deve se acentuar daqui para a frente, tanto no Mercosul como no mundo. Para ele, é necessário endurecer o jogo com a China, por meio de medidas de proteção comercial e aduaneira. Em junho, o Brasil adotou direito antidumping provisório para escovas de cabelo, alto-falantes e ferros de passar roupa. A indústria espera a adoção de medidas semelhantes para outros produtos nos próximos meses, também para conter as importações de artigos chineses.


Para Giannetti da Fonseca, elas são necessárias para combater o comportamento "predatório" da China, que vende produtos a preços que prejudicam a indústria e o emprego locais, além de muitas vezes não atenderem especificações técnicas e não mostrarem preocupação com o consumidor. A Fiesp, conta ele, tem oferecido cursos a agentes aduaneiros para ajudar na identificação de subfaturamento, falsificação de produtos e classificação tarifária errada - estratégia usada para driblar eventuais restrições à importação de determinados produtos.


De janeiro a junho, o Brasil teve um déficit de US$ 295,3 milhões no comércio com a China - no mesmo período do ano passado, o país registrara um superávit de US$ 166,4 milhões. A balança comercial da indústria, porém, já era largamente deficitária - em 2006, o saldo ficou negativo em US$ 5,7 bilhões, podendo atingir US$ 8 bilhões neste ano, segundo a Fiesp.


O presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fiesp), Mário Marconini, também acredita que a adoção de medidas de restrição de importações da China devem se intensificar daqui para a frente. No Mercosul, a Argentina é quem deve comandar o movimento, acredita ele, o que pode ter algum "efeito-dominó" sobre o Brasil. Marconini mostra, porém, alguma preocupação com o fenômeno. Ele não vê com maus olhos a adoção de medidas antidumping ou de salvaguardas, mas acredita que é um erro a elevação de alíquotas de importação, por causar ainda mais distorções na já complexa estrutura tributária brasileira.


Para Marconini, é um equívoco o aumento para até 35% das tarifas de importação de calçados e confecções e até 26% das de tecidos, medida que pode entrar em vigor na próxima semana, depois que a Comissão de Comércio do Mercosul formalizar a decisão. "Eu prefiro medidas de defesa comercial, como salvaguadas e as antidumping, por serem mais focadas."

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