domingo, 26 de agosto de 2007

O que mais me interessou da excelente entrevista do Presidente Lula no jornal O Estado de São Paulo hoje

Tânia Monteiro, Vera Rosa, Rui Nogueira e Ricardo Gandour
O Estado de São Paulo

O que é unificar o País?

É que as pessoas estavam acostumadas a ver o Brasil assim: uma parcela, metade da sociedade, que conquista a cidadania; outra metade, que está marginalizada, e não vai ter direito a nada. O que nós fizemos: primeiro, manter o status quo dos que já têm (cidadania); garantir uma política forte para trazer a parcela que está fora para dentro do mercado. É isso que nós estamos fazendo. Vamos ser francos: durante oito anos, a classe média não teve reajuste na tabela da alíquota do Imposto de Renda, e nós já fizemos dois reajustes. Agora, nós já colocamos 360 mil jovens no ProUni. Quando nós criamos o ProUni, lembro que teve uma manchete que disse: “Governo nivela educação por baixo”, ou seja, eu estava baixando o nível da universidade. Qual foi o resultado? Nos testes do MEC, em 14 áreas, os melhores alunos foram os do ProUni. De 1909, quando Nilo Peçanha criou a primeira escola técnica, até 2003, foram criadas 140 escolas técnicas. Eu vou deixar o País com 314 escolas técnicas. Vou fazer, em oito anos, 164 escolas técnicas, um pouquinho mais do que se fez em 93 anos. Inventamos o Luz para Todos. Essas coisas é que começam a fazer a diferença na vida do povo brasileiro. Acho que muitas dessas coisas não são retratadas (na imprensa) com a veracidade necessária. Mas a liberdade de imprensa foi o que garantiu que eu chegasse à Presidência da República. A minha tranqüilidade é que hoje a gente tem uma sociedade mais experimentada. Se o jornal mentir, quem vai dizer se ele mentiu ou não é o leitor, que vai deixar de comprar. Se a TV mentiu, quem vai desligar o aparelho é o telespectador, não sou eu.

Quem são as pessoas que não querem que o governo invista nos pobres, adote esses programas sociais?

Se você ler alguns colunistas, o que eles escreveram sobre a recente crise (da especulação financeira com créditos podres), você vai perceber o seguinte: no fundo, as pessoas estavam torcendo para que a crise americana afetasse o Brasil. Tem determinado tipo de gente que trabalha contra porque ele percebe que a única chance dele é o governo dar errado.

Mas quem são essas pessoas?

Não me perguntem quem são porque vocês sabem quem são. Isso está estampado em discurso, em manchetes. Quando eu criei a política de desoneração do material de construção civil, qual foi uma das manchetes hilariantes que eu vi: “Lula contribui para a favelização do Brasil.” Quando eu crio o Bolsa-Família, qual é a manchete? “Lula faz assistencialismo.”

A crítica que se faz é que o governo está fornecendo uma série de bolsas para famílias, para policiais, para jovens, como se fossem mesadas.

O caminho de saída é o crescimento do País.

A Bolsa-Família, por exemplo, é uma coisa temporária?

É lógico que é temporária. É temporária enquanto tiver pobre abaixo da linha da pobreza. Mas qual é o caminho de saída? O que vocês acham que significa o crédito consignado? Por que durante tantos anos nenhum economista neste país utilizou as palavras “crédito consignado”, que nós adotamos e permitiu colocar milhões de brasileiros, que nunca haviam entrado em um banco, com acesso a crédito mais barato. Por que nós saímos de quase trezentos e poucos bilhões de dinheiro de crédito para quase R$ 800 bilhões de crédito?

Então, o Bolsa-Família é a primeira alavanca, é aquela máquina de oxigenação que a gente dá para a criança quando está com asma. É o primeiro suspiro dos mais miseráveis. Quando a economia cresce, essa gente vai saindo do Bolsa-Família. Quando a gente sai de R$ 2 bilhões investidos no Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) para R$ 12 bilhões, alguma coisa acontece. Alguma coisa vai acontecer neste país.

A tendência do Bolsa-Família, então, é chegar ao final do governo com menos gente?

A tendência do Bolsa-Família é chegar ao final do governo com menos gente, na medida em que vai diminuindo a pobreza. Isso é o ideal.

Seria o indicador de sucesso do País?

Lógico. E já aconteceu, porque os estatísticas da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/IBGE) mostram que 8 milhões de pessoas já deixaram a pobreza, mostram que o crescimento do consumo no Nordeste é maior do que o crescimento chinês. Quando nós entramos no Nordeste comprando leite é porque o mercado oferece para o pequeno produtor R$ 0,30 o litro do leite de vaca e R$ 0,70 pelo litro de leite de cabra. Nós pagamos R$ 1 pelo litro de leite de cabra e R$ 0,70 pelo litro de leite de vaca. Antes, as pessoas não conseguiam vender o leite na feira, ele azedava e era jogado fora. Agora, essas pessoas voltam para casa e, em troca do leite, compram uma galinha ou um quilo de carne. As pessoas vão se retirando do Bolsa-Família, na medida em que o mercado de trabalho vá oferecendo oportunidades.

O último perfil do Bolsa-Família diz que é um sucesso a distribuição do dinheiro, mas as condições de saneamento e coleta de lixo nas áreas pobres continuam precárias. Por que não há um programa, no governo do PT, promovendo uma verdadeira redenção sanitária?

Essa pergunta só pode ser feita se deixarmos de ver o que acontecia antes de eu chegar à Presidência. Passamos anos sem liberar um centavo para saneamento básico. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) tem R$ 40 bilhões para saneamento e urbanização de favelas, atacando, em primeiro lugar, as regiões metropolitanas do País, porque é lá que está a concentração de degradação da estrutura da sociedade brasileira. O PAC da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) tem R$ 4 bilhões para levar água potável e esgotamento sanitário para 90% das comunidades indígenas. Vamos ter 50% dos quilombolas legalizados neste país. Temos R$ 3 bilhões para atacar os problemas em cidades com menos de 50 mil habitantes, que têm maior índice de mortalidade infantil, doença de Chagas e malária. Grande parte dessas obras começa a acontecer a partir de fevereiro - antes, fizemos os acordos do governo federal com os prefeitos e os governadores.

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