O 1º round de Serra e Aécio
A cúpula do DEM transmitiu ao governador de São Paulo, José Serra, a seguinte mensagem: está disposta a abrir mão da vaga de vice na chapa presidencial do PSDB em 2010, seja para acomodar um peemedebista, seja para alojar um tucano. A oferta é um lance para ajudar Serra a consolidar o favoritismo na disputa interna do PSDB pela candidatura ao Palácio do Planalto.
Obviamente, há uma contrapartida: apoio do PSDB à reeleição de Gilberto Kassab para prefeito de São Paulo no ano que vem. No entanto, há um tremendo obstáculo. Pesquisa Datafolha publicada no domingo 12 de agosto mostrou que o ex-governador e ex-candidato a presidente Geraldo Alckmin lidera a corrida paulistana com boa vantagem em relação aos demais concorrentes. No cenário atual, Alckmin se elegeria prefeito da maior cidade do país.
Para ajudar Serra, o DEM se comprometeria a apoiar a candidatura de Alckmin a governador em 2010. Ou seja, o cenário ideal para Serra seria reeleger Kassab e ser candidato a presidente com Alckmin precisando do seu apoio para voltar ao Palácio dos Bandeirantes.
Detalhe: Alckmin está mais interessado em ser prefeito de São Paulo. Se ele optar por esse projeto, fará o jogo de outro presidenciável tucano, o governador de Minas, Aécio Neves. Serra sabe disso, e está preocupado.
As articulações para as eleições municipais do ano que vem são uma espécie de primeiro round entre os dois presidenciáveis tucanos. Serra tem a seu favor o apoio de caciques tucanos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e a liderança em todas as pesquisas sobre a sucessão presidencial de 2010.
Já Aécio busca se viabilizar por meio de amplas articulações políticas. Flerta com o PT, sinalizando para Lula que não seria um candidato a presidente hostil à sua administração. Uma vez na Presidência, trataria bem Lula e o PT.
Aécio também busca pontes com PSB, PDT e PC do B, três legendas que hoje tem expectativa real de poder com a possível candidatura do socialista Ciro Gomes. Ciro conta com a simpatia de Lula.
Num cenário admitido no Palácio do Planalto, Lula assistiria o jogo sucessório de camarote. O PT lançaria um candidato --por exemplo, o governador da Bahia, Jaques Wagner. Ciro concorreria com apoio de forças que hoje sustentam o lulismo. Aécio seria um oposicionista amigo, que, se naufragar na disputa tucana, poderia ainda tentar a sorte pelo PMDB.
Lula acha que já passou da hora de Aécio migrar do PSDB para o PMDB, pois avalia que o tucanato não lançará o mineiro. Mas Aécio teme essa aventura. Se perder a disputa no PSDB, poderá se enfraquecer para sair candidato por outro partido. Nesse dilema, vai ficando onde está.
A Serra, que mantém boa relação política e pessoal com Lula, resta o caminho de uma oposição mais dura. Seus aliados preferenciais são os democratas (pefelistas). E ele pode pescar apoios no PMDB, partido que o apoiou em 2002 e no qual tem bases sólidas. Exemplos: dois ministros de Lula o adoram, Nelson Jobim (Defesa) e Geddel Vieira Lima (Integração Nacional). O governador paulista tem outro grande sonho. Chegar a um acordo para que Aécio aceite ser o seu vice. O mineiro, porém, tem dado sinais de que prefere holofote próprio.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos. E-mail: kalencar@folhasp.com.br |
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