Financial Times joga a Cassandra ou se, se, se...
O Financial Time utiliza o obvio para visar América latina e o Brasil.
Numa economia globalizada e com a excessiva desregulação dos mercados, em particular financeiros, todas as economias são atingidas pela crise financeira quando ela estoura nos centros do sistema. O que aparece na crise atual é que o centro do sistema, os USA, são o fator de desestabilização do sistema em seu conjunto. Tudo mostra que a falta de controle sobre as "bolhas" da sobre-valorização especulativa, arrastaram bancos e ameaça a economia real no país rei do liberalismo, com obvio impacto no mundo todo.
Não é a falta de "responsabilidade" dos países periféricos, nem o excesso de regulamentação destes mercados ou os "gastos públicos", mas o elemento central da suposta auto capacidade do mercado a assegurar "naturalmente" um desenvolvimento econômico estável, o provocador do estouro.
O custo do "risco USA" é fabuloso e o FT deveria explicar porque nenhum controle detetou tamanha montagem fictícia de papeis. Em lugar disto, prefere arrombar portas abertas.
Paradoxalmente o estrondo atual não foi provocado pela divida ou a inadimplência do Brasil ou da Tailândia, mas pelo endividamento excessivo da economia americana que graças a sua situação mundialmente dominante suga o capital internacional para financiar sua gastos desenfreados.
A novidade no impacto desta crise no Brasil é sua diferencia com o passado. Antes era a economia brasileira a doente do sistema. Quando o "efeito tequila" ou o estouro tailandês, o Brasil entrava em colapso por conta de seus "fundamentos" (divida, sobre-valorização, excesso de gastos públicos, ausência de superávit etc). Era quando toda a mídia silenciava sobre a irresponsabilidade tucana.
Hoje, os efeitos da crise no país, bem que reais e que não devem ser subestimados, são provocados pela necessidade dos investidores cobrirem os buracos de suas desastradas aventuras nas hipotecas americanas. O Brasil esta simplesmente melhor armado para enfrentar este solavanco e as autoridades sabem recusar aventuras ou planos milagrosos para assegurar a estabilidade tão duramente conquistada.
O Brasil vai bem, obrigado. Mas os doadores de lições deveriam varrer nas suas próprias portas.
Luis Favre
América Latina está vulnerável a contágio pela crise, diz "FT"
da BBC Brasil
Em uma análise publicada nesta segunda-feira em sua edição online, o jornal "Financial Times" (FT) afirma que, ao contrário do que muitos líderes latino-americanos acreditam, a região está vulnerável ao contágio pela atual turbulência nos mercados financeiros internacionais.
"Na maior parte da última década, os políticos na América Latina vinham acreditando que o contágio financeiro era uma coisa do passado. A crise que agora atinge os mercados mundiais pode mostrar que eles estavam errados", afirma o texto, assinado pelo correspondente do jornal em São Paulo, Jonathan Wheatley, e pelo editor de América Latina, Richard Lapper.
"Longe de estar desconectada do mundo exterior, a América Latina seguiu Wall Street como um bonde segue outro. Muitos investidores foram forçados a retirar seu dinheiro da região para cumprir com obrigações em outros mercados, derrubando as ações, os títulos públicos e as moedas da América Latina junto com outros ao redor do mundo", diz a análise.
Para o "FT", a questão do contágio não é somente uma conseqüência da falta de liquidez nos mercados. "A aversão ao risco está de volta", avisa o jornal.
O texto cita a desvalorização do real na última semana para dizer que "este é um sonoro alarme sobre a inflação". "A força da moeda vem sendo um grande aliado do Banco Central no controle da inflação. Ele não pode mais contar com isso", comenta o texto.
O jornal afirma ainda que se a falta de liquidez persistir no mercado mundial, isso poderia ameaçar os preços das commodities e, por extensão, os superávits em conta corrente dos países da região, baseados justamente nas altas cotações das commodities.
"O Brasil, novamente, está na linha de frente", diz o texto. "Sua relativa prosperidade nos últimos anos tem sido baseada na demanda global, liderada pela China, de suas exportações de commodities."
"Todas essas coisas acontecendo ao mesmo tempo são uma ameaça clara para a recém-conseguida estabilidade da região. Se o Federal Reserve (Fed, o BC americano) e os outros bancos centrais conseguirem conter a crise, seu impacto será limitado: a normalidade retornará em um nível diferente, com preços de ativos mais realistas e uma análise mais profunda de risco pelos investidores", diz o texto.
Se a volatilidade persistir nos próximos meses, porém, a crise terá implicações de longo prazo, avalia o "FT". "Balanças comerciais e outros fundamentos da economia se deteriorarão. Investimentos produtivos serão mais difíceis de conseguir. As ineficiências ficarão mais evidentes. A aversão ao risco se tornará mais pronunciada. A região pode não ser tão blindada como seus líderes acreditam", conclui a análise.
Investimentos da Petrobrás
Uma reportagem publicada pela versão impressa do "Financial Times" nesta segunda-feira afirma que a Petrobras planeja investir US$ 112 bilhões para aumentar sua capacidade de produção e exploração de petróleo e gás nos próximos cinco anos e se tornar uma das maiores companhias de energia do mundo até 2020.
"Para financiar esse investimento, a Petrobras canalizará mais de US$ 104 bilhões de seu fluxo de caixa livre (que não precisa ser distribuído como dividendos) e gerar mais receita com a produção de gás e petróleo de suas novas reservas comprovadas", diz o texto.
Segundo o presidente da petrolífera estatal brasileira, José Sérgio Gabrielli, a companhia terá investido US$ 25 bilhões até o final deste ano. "Encontramos uma base para o crescimento orgânico", disse ele ao jornal.
Gabrielli observa ainda que a Petrobras é uma das únicas grandes companhias internacionais do setor que gera a maioria de sua receita no seu mercado doméstico --85%.
"A Petrobras é controlada pelo Estado, mas tem a maioria de suas ações nas mãos de investidores e viu a cotação de suas ações aumentar significativamente nos últimos cinco anos, tornando-se a sétima maior produtora de petróleo do mundo a preço de mercado", diz a reportagem.
Segundo o jornal, a Petrobras "aprendeu a competir com as grandes companhias independentes e é líder no setor de desenvolvimento em águas profundas". "A companhia também aumentou suas atividades internacionais em áreas como Nigéria e o Golfo do México", relata a reportagem.
A Petrobras estima uma queda no preço futuro do barril de petróleo para US$ 35 (na sexta-feira, a cotação do barril fechou acima dos US$ 70) e custos de produção estáveis, segundo o jornal.
Gabrielli afirma que isso significa uma receita adicional de US$ 500 milhões à companhia a cada aumento de US$ 1 no preço do petróleo acima dos US$ 35.
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