sábado, 18 de agosto de 2007

"Os mortos que vós matais, gozam de boa saúde"

Marta, Tropicalismo e o Rambo Jobim

Blog de Noblat

A ministra do Turismo, Marta Suplicy, passou como um cometa pela Bahia esta semana. Ela carregou por onde esteve - Salvador, Cachoeira e Costa dos Coqueiros - levas de pessoas em seu encalço. Não apenas autoridades, políticos e figuras diretamente interessadas nos recursos da sua pasta para turbinar uma área crucial no Estado de notória vocação turística e festeira. Também a legião baiana que suspira diante das celebridades, alguns que há 30 anos viram nascer a Tropicália, revolução cultural que os ensinou a ficar atentos aos movimentos de figuras paulistanas como a mãe do Supla, garantia de uma boa polêmica, de um novo adereço da moda, da foto diferenciada. No mínimo, da frase do dia para destaque no jornal ou no blog.

Ao participar no Recôncavo da histórica festa da Irmandade da Boa Morte, ritual de negritude onde antes o desajeitado tucano paulista Geraldo Alckmin em campanha derrapou feio, a ministra petista se deu bem. Desfilou em Cachoeira trajando um terninho clássico, anéis faiscantes nos dedos e sapato alto - um frisson. Repetiu a dose na capital, onde, ao contrário de Alkmin, evitou comer acarajé ou abará com garfo e faca, e no Pelourinho andou sobre pedras molhadas de chuva que têm derrubado muita gente, sem dar um único escorregão. A não ser, talvez, quando falou sobre o apaziguamento da crise aérea: "O ministro Jobim é um Rambo", disse.

Ao contrário do brigadeiro Pereira - o do pepino na Infraero -, que amarelou feio diante da advogada Denise Abreu - a do charuto da Anac - na CPI da crise aérea, a ministra, ao falar ao microfone da rádio BandNews-Salvador, não fraudou a esperança de quem aguardava da musa petista um gesto provocante ou uma frase de efeito para dar suporte de humor à matéria jornalística do dia seguinte. Com um sorriso enigmático de Monalisa, ainda acrescentou: "O acidente (do avião da TAM em São Paulo) fortaleceu Jobim", frase utilizada pelo jornal A TARDE na manchete da sua página 21, da editoria Brasil, na última quinta-feira.

Pisando firme como uma Rita Lee entre um vão e outro da ponte tropicalista Bahia-São Paulo, a elegante petista que costuma aumentar ou encurtar o pavio a partir do painel de vôo à sua frente, aproveitou também para enviar de Salvador recados políticos para a sua paulicéia. Principalmente para tucanos alvoroçados com os resultados da mais recente pesquisa de opinião divulgada pelo Datafolha. Os recados têm como destinatários também outros ouvidos mais próximos da própria ministra, a exemplo do amigo do peito presidente Luiz Inácio Lula da Silva e companheiros do PT, além do gaúcho e novo colega de ministério, Nelson Jobim, do PMDB, que ela comparou ao controvertido personagem do cinema americano, aparentemente com a melhor das intenções. Mas é óbvio que as aparências enganam, como se viu quinta-feira no depoimento do brigadeiro Pereira.

Mas o fato é que Marta assegurou quando perguntada de público ou nos arraiais mais privados do petismo na Bahia: nem de longe lhe passa pela cabeça a idéia de se bater com os tucanos em campanha no ano que vem pela Prefeitura de São Paulo. Mesmo reconhecendo a ampla ressonância do tambor executado pelo prefeito Kassab (DEM) em quase perfeita harmonia com o governador tucano José Serra.

A ministra do Turismo de Lula retoma a sua ênfase habitual ao afirmar: "Vou ficar no ministério nos próximos quatro anos". Em seguida, joga no rosto um ar de pouco caso - ou será de enfado diante da insistência dos repórteres a respeito de um assunto que ela prefere não encarar por enquanto? - em relação aos 26% de pesquisados da Datafolha em São Paulo que disseram não ser o presidente Lula um bom cabo eleitoral. "O PSDB é forte em São Paulo, mas o presidente Lula é sempre um bom cabo eleitoral em qualquer lugar do País", atira Marta.

Sutilmente, a ministra observa ao redor e percebe que a frase conseguiu o efeito que ela aparenta desejar. Marta sorri, agradece e segue pisando firme como uma personagem de Almodóvar nas pedras traiçoeiras do Pelourinho. Vai em direção ao local de assinatura do convênio para execução de mais uma etapa do magnífico sítio histórico tombado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, fonte de marketing e de votos há mais de 16 anos, ao longo de quatro administrações, mas que dá sinais de esgotamento ultimamente. Uma vez estrela, sempre estrela!

Vitor Hugo Soares é jornalista. E-mail: vitors.h@uol.com.br

Nenhum comentário: