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segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Marta fala na Alemanha para trazer investimentos para o Brasil

Na Alemanha, Ministra do Turismo destaca o crescimento econômico a estabilidade do Brasil, em discurso para atrair investidores Munique (28/01/08) – A ministra do Turismo, Marta Suplicy, destacou, hoje (28), em Munique (Alemanha), ao participar da Sportsponsorship Conference (Ispo), que o Brasil tem crescido com equilíbrio, mais crédito, empregos e distribuição de renda.

Marta proferiu palestra na abertura da conferência e das seis feiras de negócios, sobre o tema “As oportunidades no Brasil". A ministra destacou particularmente as oportunidades de investimentos que surgiram a partir do anúncio da realização, no Brasil, da Copa Mundial de Futebol de 2014.

O tema despertou grande interesse, tendo em vista que a Agência Federal de Comércio Exterior Alemã recomendou o investimento no país, segundo lembrou a ministra, citando a edição de novembro de 2007 da revista preparada pela agência, dirigida a empresários. A Ispo, realizada anualmente, é o mais importante congresso de patrocinadores esportivos da Europa. Reúne, nesta edição, 180 palestrantes em 17 painéis, além de expositores de equipamentos esportivos, moda e estilo de vida.

"A estabilidade monetária, com a redução e controle da inflação, resultou no crescimento do PIB por 23 trimestres consecutivos. Conseqüentemente, a relação Dívida Pública/PIB, que em 2003 era de 52,4%, diminuiu para 42,6% em 2007. As taxas de investimento e consumo também acumularam índices positivos nos últimos 15 e 16 meses, respectivamente. E a taxa de juros básicos, que chegou a 26,5% ao ano em 2003, tem sido reduzida de forma responsável, sendo atualmente cotada em 11,25%", afirmou a ministra.

Marta Suplicy também observou que "o risco país" tem estado bem abaixo dos 200 pontos, e as reservas internacionais cresceram de US$ 59,8 bilhões para US$ 185 bilhões, em apenas um ano. Mais um ponto relevante no discurso da ministra aos participantes da Ispo foi sobre a redução da taxa de desemprego, que caiu para 8,2%, o menor patamar desde a criação, em 2002, da série histórica. "Como conseqüência, constatou-se importante melhoria na distribuição de renda e redução de pobreza, que, segundo o relatório ‘Perspectiva Econômica Mundial’ do FMI, caiu de 28,2% em 2003 para 19,3% em 2006. A renda média dos trabalhadores aumentou 3,12% em relação a 2006."

Diante de bons resultados, como esses apresentados, em 2007, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) qualificou o Brasil como o quinto melhor país do mundo para se investir. "Nesse mesmo ano, segundo dados do Banco Mundial, o Brasil passou a ocupar o sexto lugar na economia mundial, em um ranking com 146 países, analisado o PIB quanto à paridade do poder de compra. Aqui, na Alemanha, temos a Agência Federal de Comércio Exterior Alemã também recomendando o investimento em nosso país", observou a ministra.

A ação do governo federal na redução das desigualdades sociais fez com que o país melhorasse sensivelmente seu IDH, passando a ocupar a categoria dos países de alto desenvolvimento humano. Para a ministra do Turismo, "ainda há muito o que fazer, mas o desenvolvimento econômico e social consolidou um mercado interno bastante dinâmico e uma nova presença política e econômica do Brasil no cenário mundial". A ministra citou, como exemplo, que a indústria dos cartões de crédito deverá faturar no Brasil US$ 122,5 bi em 2008, atingindo 104 milhões de usuário, frente os atuais 92 milhões. "Esses dados representam um aumento de 13%."

Perspectivas positivas – Justamente esse cenário de estabilidade econômica, associada à estabilidade político-institucional, na opinião da ministra, contribuiu para que a candidatura do Brasil fosse acatada para sediar a Copa Mundial de Futebol de 2014. E as perspectivas, a partir dessa definição, são muito positivas: "As competições esportivas do calendário mundial têm um efeito multiplicador na economia dos países que as sediam. Têm a capacidade de reestruturar a paisagem urbana dos países-sede, deixando um legado para a economia do país e a qualidade de vida da população. Além disso, a promoção do futebol, como de outros esportes, está associada à promoção de outros segmentos da economia".

Por fim, a ministra observou que, para abrigar competições esportivas internacionais com excelência, são necessários inúmeros investimentos prévios e um planejamento fortemente estruturado. Ela explicou que "o governo brasileiro se mobiliza e se organiza para identificar as demandas e os investimentos públicos e privados, nos âmbitos nacional e internacional, que serão necessários para habilitar as cidades que sediarão os jogos. Estão previstos projetos em aeroportos, transporte público, hotelaria, saneamento básico, telecomunicações, dentre outros".

"No que se refere a investimentos em infra-estrutura urbana, o planejamento da Copa de 2014 já está em parte contido no Programa de Aceleração do Crescimento, lançado pelo Governo Federal em 2007, com o objetivo de criar um ambiente favorável ao crescimento econômico e despertar o espírito empreendedor do empresariado. Até 2010, esses investimentos em infra-estrutura urbana serão da ordem de US$ 288,7 bi, dentre os quais US$ 33 bi serão destinados a investimentos em infra-estrutura turística", informou Marta Suplicy, explicando, também, que o Ministério do Turismo já iniciou seu planejamento. "Contratamos um estudo junto a uma renomada entidade brasileira – a “Fundação Getúlio Vargas” –, o qual apontará a infra-estrutura necessária para o desenvolvimento turístico no Brasil, com o objetivo de alcançar um nível internacional em 65 destinos prioritários até 2010. Esses destinos incluem as 18 cidades brasileiras que pleiteiam sediar os jogos." O objetivo é contribuir para a excelência da recepção das seleções, torcedores, imprensa e turistas que visitarão o Brasil tanto durante a Copa de 2014 quanto depois de sua realização.

Plano Nacional do Turismo – O investimento realizado para a Copa de 2014, além de atrair mais turistas estrangeiros, ajudando a posicionar o Brasil como um dos principais destinos internacionais, também contribuirá para que o turismo avance nas metas previstas no Plano Nacional do Turismo (2007-2010). Até 2010, as metas são: alcançar 217 milhões de viagens no mercado interno, criar 1,7 milhão de novos postos de trabalho, gerar US$ 7,7 bilhões em divisas e desenvolver 65 destinos turísticos com padrão de qualidade internacional.

Ass. de Comunicação do Ministério do Turismo - ASCOM

Ass. de Comunicação da Embratur - ASCOM

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Sustentabilidade do crescimento brasileiro


Legenda: Lançamento do novo modelo do Ford Ka, em São Bernardo do Campo.
Foto: Milton Michida

Antonio Corrêa de Lacerda*

O ESTADO DE SÃO PAULO

Para alguns, o surpreendente desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, superior a 5% em 2007, tem gerado discussões quanto a sua sustentabilidade. O longo período de oscilações no desempenho justifica um certo ceticismo por parte de alguns setores. Há, de fato, riscos, tanto no horizonte internacional - o principal deles quanto aos desdobramentos da crise da economia norte-americana - e mesmo local, como o abastecimento energético e outras carências de infra-estrutura, a pressão inflacionária e a questão fiscal.

No entanto, a despeito desses riscos inegáveis, a economia brasileira encontra-se numa situação inédita nas últimas três décadas pós “milagre econômico” 1960-70. O grande “pulo do gato” do Brasil foi reduzir espetacularmente a sua vulnerabilidade externa nos últimos cinco anos, favorecido pelas excepcionais condições da economia internacional que combinou crescimento econômico com alta liquidez, taxas de juros baixas e elevação de preços das commodities.

Além disso, dois fatores internos foram determinantes. Do ponto de vista da política macroeconômica, a mudança do regime cambial, de administrado para flutuante em 1999, e a conquista da quase auto-suficiência em petróleo nos deram uma condição extraordinária.

A inversão do saldo de contas correntes do balanço de pagamentos brasileiro de um déficit superior a US$ 30 bilhões em 1999/2000 para um superávit de US$ 13 bilhões em 2002/2003 viabilizou a redução da relação dívida externa/PIB e a forte ampliação das reservas cambiais líquidas, que cresceram de pouco mais de US$ 16 bilhões no início de 2003 para US$ 180 bilhões no final de 2007.

Muitos questionam o custo de carregamento das reservas cambiais, mas poucos ousam mensurar o custo hipotético de não possuí-las. Elas têm sido determinantes para dar maior autonomia para a política econômica brasileira.

Do ponto de vista fiscal, apesar das flagrantes distorções, como a elevação da carga tributária, hoje em 34% do PIB, e uma excessiva expansão dos gastos correntes, há uma notória recuperação dos investimentos públicos, com a manutenção de um superávit primário expressivo. Falta aprimorar o conjunto da política macroeconômica para diminuir o ainda elevado custo de financiamento da dívida pública (juros) de R$ 160 bilhões ao ano.

A recente pressão inflacionária, especialmente decorrente do preço dos alimentos, que cresceu 10% no ano passado para um IPCA geral de 4,5%, é um fator de limitação no curto prazo. No entanto, não a ponto de abortar o crescimento. Aqui vale destacar a importância da decisão do Conselho Monetário Nacional em meados do ano passado em confirmar a meta de inflação para 2008 de 4,5% e mantê-la no mesmo nível em 2009. Muitos questionaram a decisão, argumentando que seria importante sinalizar uma meta menor para favorecer as expectativas baixistas do nível de preços.

Apoiei na época a decisão e continuo sustentando que foi uma escolha acertada. Uma meta mais apertada, diante dos previsíveis choques de custos de alimentos e combustíveis engessaria ainda mais a política monetária.

Uma mudança para pior no quadro econômico internacional também tende a tornar as coisas menos fáceis para a economia brasileira, mas isso também não vai inviabilizar o crescimento, hoje fortemente calcado na dinâmica do mercado interno.

Se as condições conjunturais viabilizam a continuidade do crescimento de curto prazo, isso não substitui o necessário fortalecimento da estratégia para o desenvolvimento econômico-social de médio e longo prazos. A questão não é só o ano em curso, mas as próximas décadas.

É crucial definir e implementar uma estratégia de desenvolvimento que nos torne menos dependentes da exploração de recursos naturais. Até mesmo para poder fazê-lo de forma sustentável é determinante que sejam fortalecidas as competências em outras áreas, principalmente indústria e serviços, em alguns casos fortalecendo vantagens competitivas já existentes, em outros, criando novas. São desafios ousados, porém factíveis, desde que haja determinação e não se cometa o erro de cair na armadilha da acomodação.

*Antonio Corrêa de Lacerda, professor doutor da PUC-SP, é doutor em Economia pela Unicamp e autor, entre outros livros, de Crise e Oportunidade: o Brasil e o cenário internacional (Lazuli). E-mail: aclacerda@pucsp.br

sábado, 29 de dezembro de 2007

Decolou


Celso Ming, celso.ming@grupoestado.com.br

O presidente Lula talvez tenha exagerado quando disse que 2007 foi o melhor ano econômico da história econômica do Brasil. Mas não dá para negar, há o que comemorar.

Esta é apenas uma lista limitada de fatos que poderão ser tomados como linhas divisórias entre antes e depois.

(1) Consolidação da área externa - Os físicos deram a isso um nome esquisito: resiliência. É a capacidade que tem um corpo de voltar à forma anterior depois de receber um impacto que o deformou. Uma bola de borracha tem alta resiliência. De um bom lutador de boxe espera-se que não tenha “queixo de vidro”.

A boa novidade do ano é que a economia se mostrou resiliente à crise externa. Levou pancadas, mas recuperou-se rapidamente. Isso mostra que as bases estão mais fortes. De caloteiro de anteontem, o Brasil tornou-se credor externo líquido. Quando chegarem a US$ 195 bilhões, as reservas externas serão superiores à dívida externa do setor público somada à do privado. É um bom chão para construir o futuro.

(2) Volta ao crescimento econômico - Ninguém mais fala em vôo de galinha. O crescimento do PIB não é só o dobro (acima de 5%) do padrão do início da década, mas é percebido como consistente, pois vem sendo obtido com inflação dentro da meta, a despeito dos juros ainda altos e do câmbio adverso. E essa consistência puxa para o ponto seguinte.

(3) Avanço do investimento - 2007 foi também o ano em que o investidor externo redescobriu o Brasil. O Investimento Estrangeiro Direto (IED) líquido deve fechar o ano por volta dos US$ 38 bilhões, volume próximo do que será obtido no saldo do comércio exterior (cerca de US$ 40 bilhões). A Formação Bruta de Capital Fixo, expressão que os especialistas usam para falar do investimento na economia, cresce 12,4%, mais do que o dobro do PIB. E essa é uma boa indicação de que a oferta vai dar conta do aumento do consumo, o que dá consistência ao crescimento.

(4) O Campo de Tupi - A comprovação de que abaixo da camada de sal há enormes jazidas de petróleo e gás tem tudo para virar o jogo energético. As declarações de que vamos entrar na Opep são patriotadas, porque é preciso furar mais e medir mais. Mas a conversa agora é outra. É antes e depois do Campo de Tupi.

(5) O novo modelo de licitação - Os leilões das concessões rodoviárias e da Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, inauguraram outra relação entre o público e o privado. Os preços caíram, as tarifas tendem a cair e já não há mais medo de ser feliz com o sistema adotado. Nem mesmo o PT está vendo isso como privataria. Cai um tabu.

(6) A derrubada da CPMF - Ainda devem ser avaliados os efeitos da rejeição da CPMF pelo Senado. Mas alguns são notórios: a oposição ressurgiu dos mortos; o governo terá de conter as despesas públicas; a reforma tributária voltou à pauta; os políticos parecem ter entendido que não poderão expandir a carga tributária impunemente; e um imposto fácil de arrecadar, mas de má qualidade, foi revogado.

(7) Discurso esvaziado - O crescimento econômico parece consistente; a inflação está sob controle; os juros, ainda altos, não estão atrapalhando nem a atividade econômica nem o aumento do emprego; o câmbio baixo não destruiu nem o mercado externo nem a indústria nacional. Em outras palavras, o discurso da ala desenvolvimentista dos economistas nacionais está perdendo sentido. Mais dois anos nessa toada e ninguém mais dirá que a política econômica está errada e que é preciso mudar tudo.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Lula diz que terá que ser convencido sobre necessidade da criação de novo imposto

Gerson Camarotti - O Globo; Globonews TV; Agência Brasil; O Globo Online

Presidente Lula desautoriza declaração de ministro da Fazenda sobre a possível criação de um novo imposto para a saúde / Agência Brasil

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enquadrou na manhã deste domingo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que sábado anunciou o projeto de um tributo permanente para financiar a saúde, nos moldes da CPMF. O presidente desautorizou as declarações precipitadas de Mantega do novo imposto. (No blog de Miram Leitão: os vários erros de Mantega)

Em nota neste domingo, o ministro Mantega afirma que suas declarações foram mal interpretadas.

Lula foi enfático ao afirmar que Mantega terá que convencê-lo da necessidade do novo tributo.

- Eu avalio que ele (Mantega) vai ter que me convencer da necessidade disso. Ele falou para vocês (jornalistas) e agora vai ter que colocar (a proposta) na minha mesa. Eu vou decidir se vamos ou não vamos, se precisamos ou não precisamos. Eu quero ver todas as contas. Obviamente que eu trabalho com a expectativa de que se a economia crescer mais, nós vamos arrecadar mais porque as empresas vão produzir mais, vão ganhar mais dinheiro e, portanto, vão pagar mais - advertiu Lula, depois de votar no diretório nacional do PT, em Brasília, no segundo turno da eleição que escolhe o presidente do partido.

No próprio sábado, Mantega já havia sido desautorizado pelo governo e obrigado a recuar. Ele voltou atrás e disse que, na verdade, isso seria feito por emenda constitucional, e não sairia neste ano .

De acordo com o presidente, a derrota do governo no Senado , que rejeitou a prorrogação da CPMF até 2011, não representa motivo de nervosismo nem justifica aumento da carga tributária.

" Não existe nenhuma razão para que alguém faça alguma loucura de tentar aumentar a carga tributária "

Para ele, o crescimento em torno de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano pode compensar a perda de arrecadação da CPMF.

- Trabalho com a expectativa de que se a economia crescer mais, vamos arrecadar mais porque as empresas vão produzir mais, ganhar mais dinheiro e, portanto, vão pagar mais. Não existe nenhuma razão para que alguém faça alguma loucura de tentar aumentar a carga tributária - disse Lula, que manifestou confiança de que o governo encontrará a saída, mas descartou medidas imediatas:

- Estou tranqüilo de que o país vive um momento bom e portanto precisa entender que o momento é mais de reflexão do que de reação - completou o presidente, reafirmando que enviará ao Congresso a proposta de reforma tributária no começo do próximo ano.

Na avaliação no Palácio do Planalto, Mantega atropelou os entendimentos com a oposição e até mesmo o presidente. O Palácio do Planalto já estava em negociações adiantadas com setores da oposição. Segundo o jornal "O Globo", já estava marcado para terça-feira um encontro do ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, com o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, para analisar as medidas do governo. Desde que o governo foi derrotado no Senado, Guerra e Múcio negociam uma solução para compensar a perda dos recursos para a saúde.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

PIB cresce 1,7% no 3º trimestre e 5,7% frente a 2006, diz IBGE


CIRILO JUNIOR
da Folha Online, no Rio


A economia brasileira cresceu 1,7% no terceiro trimestre deste ano frente ao trimestre imediatamente anterior, divulgou nesta quarta-feira o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na comparação com o mesmo trimestre de 2006, o PIB teve um crescimento de 5,7%. Em valores, o PIB brasileiro totalizou no trimestre passado R$ 645,2 bilhões.

O desempenho superou as expectativas dos analistas de mercado que projetavam crescimento de 1,5% contra o segundo trimestre de 2007 e de 5,1% ante o terceiro trimestre de 2006.

O destaque principal da economia brasileira no período foi o setor agropecuário, que mostrou crescimento de 7,2% em relação ao segundo trimestre deste ano. Na mesma comparação, a indústria teve crescimento de 1,8% e o setor de serviços, de 1,2%.

Entenda o que é o PIB e como é feito seu cálculo

De janeiro a setembro de 2007, o PIB teve expansão de 5,3% na comparação com igual período de 2006, ficando no maior patamar desde 2004. No acumulado dos 12 meses até setembro, o crescimento foi de 5,2%, na comparação com os 12 meses imediatamente anteriores --também a maior expansão desde 2004.

Pela ótica da demanda, o consumo das famílias e a Formação Bruta de Capital Fixo (que sinaliza os investimentos) apresentaram respectivamente expansões de 1,5% e 4,5% --na comparação com o segundo trimestre deste ano. Pelo lado do setor externo, as exportações apresentaram crescimento de 1,4%, enquanto as importações tiveram elevação de 9,1%.

Na comparação com o terceiro trimestre de 2006, o maior destaque foi o crescimento de 14,4% da Formação Bruta de Capital Fixo, explicado principalmente, segundo o IBGE, pelo aumento da produção e da importação de máquinas e equipamentos. Já o consumo das famílias teve taxa positiva de 6%, o 16º crescimento consecutivo nessa comparação.

As exportações, por sua vez, mantiveram-se em crescimento (1,8%), apesar da desaceleração, e as importações de bens e serviços cresceram 20,4%.

Setor

Por setor de atividade, no terceiro trimestre o maior destaque foi a agropecuária (que cresceu 7,2%), seguida pela indústria (1,8%) e pelos serviços (1,2%). Em relação ao terceiro trimestre de 2006, a agropecuária teve crescimento de 9,2%; a indústria registrou expansão de 5%; e o setor de serviços, de 4,8%.

No acumulado do ano, o setor industrial foi o destaque, com crescimento de 5,1%, seguido pelo setor de serviços, com expansão de 4,7%, e pela agropecuária, com 4,3%.

O IBGE também revisou para cima o resultado do PIB de 2006, que passou de crescimento de 3,7% para 3,8%.

Metodologia

O PIB é a soma das riquezas produzidas por um país. É formado pela indústria, agropecuária e serviços. O PIB mostra o comportamento de uma economia. No passado, por exemplo, quando o Brasil atravessou uma recessão, o PIB encolheu 0,2%.

O PIB também pode ser analisado a partir do consumo, ou seja, pelo ponto de vista de quem se apropriou do que foi produzido. Nesse caso, o PIB é dividido pelo consumo das famílias, pelo consumo do governo, pelos investimentos feitos pelo governo e empresas privadas e pelas exportações.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Crescimento da produção surpreende em outubro

Cibelle Bouças - Valor

O vigor da atividade econômica surpreendeu em outubro. As previsões mais otimistas foram superadas e a expectativa dos analistas é que a produção industrial a ser divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na próxima semana aponte um aumento entre 8% e 10% sobre outubro de 2006 e uma alta entre 1,3% e 2,6% sobre o resultado de setembro. Esta expectativa levou analistas a projetarem para o ano um crescimento na produção industrial brasileira superior a 5,5%, o melhor resultado desde 2004, quando o crescimento ficou em 8,3%.


O ABN Amro Real projeta para o ano crescimento de 6,2%, tendo como base a estimativa de um crescimento industrial de 5,9% entre janeiro e outubro. Para outubro, o banco estima que tenha havido um crescimento de 10,2% (ou de 2,5% na comparação dessazonalizada com o mês de setembro). O cenário traçado, afirma Zeina Latif, economista-chefe do banco, levou em consideração o crescimento das importações de bens de capital registrado em outubro e a retomada na produção de bens intermediários, após um fraco desempenho em setembro. "O varejo registra um crescimento forte, as importações e a produção de bens de capital aumentam. A tendência é de retomada na produção", diz.


A economista também observa que este será o quarto ano consecutivo de crescimento na produção industrial - em 2006 foi de 2,8%; em 2005, de 3,1%; e em 2004, de 8,3%. "É uma seqüência de crescimentos razoáveis com aceleração no fim do ano. Em um contexto de redução dos ganhos com exportação por conta do câmbio, esse desempenho comprova que a demanda interna está mais forte", afirma Zeina.


A LCA Consultores estima para o ano crescimento na produção industrial de 5,8%, 0,2 ponto percentual acima da estimativa feita em outubro. O resultado é sustentado pelo bom desempenho nos setores automotivo e de bens de capital. Bráulio Borges, economista da consultoria, observa que a cadeia automotiva responde por quase 20% da produção industrial e a previsão é que as vendas para o mercado interno em 2007 sejam 27% maiores que no ano passado. "O desempenho do setor automotivo, sobretudo em outubro, foi muito forte e é o que explica a surpresa no setor industrial", afirma Borges. Ele pondera que os investimentos na formação de capital fixo também superaram expectativas, com incremento de 12% no ano, ante previsão inicial de 10%.


No mês de outubro o crescimento é estimado em 8,2%, comparado a igual mês de 2006, e em 1,3% na comparação dessazonalizada com setembro. O cálculo da LCA baseou-se na avaliação de indicadores antecedentes da produção industrial, como o consumo de energia, importações de matéria-prima e expedição de papel ondulado (ver gráfico).


Para 2008, a LCA prevê crescimento menor na produção industrial, de 4,6%, também em função do desempenho do setor automotivo, deverá crescer 11% em vendas no país, 16 pontos percentuais abaixo do registrado neste ano, segundo Borges. A taxa de juros (Selic) é projetada em 9,75% no fim de 2008, ante 11,25% neste ano.


A Tendências Consultoria também projeta para 2008 desaceleração na produção industrial, com crescimento de 4%, ante 5,5% neste ano, afirma a economista Marcela Prada. "A tendência para 2008 é de que haja desaceleração na geração de renda e na disponibilidade de crédito", diz. A consultoria projeta aumento de 4,4% no PIB do próximo ano, ante crescimento de 4,8% em 2007. Em outubro, o incremento é estimado em 9,3%, ou 1,9% sobre setembro (com ajuste sazonal). Um dos indicadores avaliados foi o aumento de 27% na arrecadação de IPI no país em outubro.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

IDH: Brasil entra para o grupo de 'alto desenvolvimento humano'

O Globo e O Globo Online Melhoria na alfabetização infantil melhorou no país / Arquivo O Globo

BRASÍLIA - Favorecido em especial pelo aumento da renda, o Brasil entrou pela primeira vez para o grupo dos países com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em 70.º lugar, no ranking de 177 países avaliados anualmente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O IDH do Brasil subiu de 0,798 para 0,800 de 2004 para 2005, na escala de 0 a 1.

Apesar do aumento no índice, o Brasil perdeu três posições no ranking mundial em relação ao estudo anterior, caindo do 67º para 70º lugar. Além disso, outras sete nações conseguiram entrar para o grupo dos países desenvolvidos, que antes tinha apenas 63 integrantes.

Leia também: Clima ameaça desenvolvimento humano da América Latina.

De acordo com o novo relatório da Pnud, a Islândia, no noroeste da Europa, e Serra Leoa, na África, são a nova face da desigualdade mundial. O país europeu desbancou a vizinha Noruega e assumiu a liderança no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com 0,968, na escala de 0 a 1. Na ponta de baixo, Serra Leoa perdeu uma posição em relação ao ano passado e, com índice 0,336, tomou o último lugar do Níger.

Confira os ranking elaborado pelo Pnud

Ao nascer, por exemplo, um bebê islandês tem uma expectativa de vida de 81,5 anos. É quase o dobro do que sobrevive, em média, um cidadão de Serra Leoa: 41,8 anos.

O Relatório de Desenvolvimento Humano 2007, que usa dados de 2005, tem como tema o aquecimento global e seu lançamento mundial foi realizado hoje no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No texto , a organização defende o fim das tarifas de importação que os demais países impõem sobre o etanol do Brasil .

O presidente Lula disse nesta terça-feira que o Brasil estará numa posição ainda melhor no IDH no fim de seu governo. Segundo ele, quando o Pnud divulgar o relatório de 2012, que trará os dados de 2010, as condições de vida dos brasileiros estarão bem melhores do que em 2005, ano analisado no relatório divulgado hoje. Lula citou o Bolsa Família como um dos instrumentos que possibilitaram a melhora do país no índice da ONU .

- Todo governo que vier vai se sentir na obrigação de fazer o Brasil crescer um ponto no relatório - disse o presidente, que participou do lançamento do relatório de desenvolvimento humano 2007/2008.

Criado pelos economistas Mahbub ul Haq e Amartya Sen, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mede a qualidade de vida por outros indicadores que não apenas o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país). Leva em conta renda (PIB per capita), saúde (expectativa de vida ao nascer) e educação (taxa de alfabetização de adultos e matrículas no ensino fundamental, médio e superior).

Renda ajudou país a subir no ranking de desenvolvimento

De acordo com o novo estudo da ONU, o PIB per capita do Brasil subiu de US$ 8.325 para US$ 8.402, entre 2004 e 2005, considerando a Paridade do Poder de Compra. O IDH da Saúde (expectativa de vida ao nascer) melhorou de 71,5 anos para 71,7 anos entre os dois anos. Com isso, nosso IDH subiu de 0,798 para 0,800.

Os dados de Educação _ taxas de matrícula no ensino fundamental, médio e superior combinadas _ ficaram inalterados em relação aos do ano anterior, mas devido a problemas na entrega dos números ao Pnud, atribuição da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), também um órgão das Nações Unidas. O índice atribuído foi de 87,5%. Isso pode ter prejudicado o Brasil na classificação, reconhece o Pnud.

O acréscimo no IDH foi suficiente para o país atingir o patamar de alto desenvolvimento humano, que vai de 0,800 a 1, mas não para subir no ranking. O Brasil deixou para trás a ilha caribenha de Dominica, que estava à frente no levantamento anterior, mas foi ultrapassado pela Albânia e a Arábia Saudita, que subiram respectivamente cinco e quinze posições.

Maior desigualdade do grupo entre ricos e pobres

Embora tenha passado a integrar o grupo de países com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), onde já estão hoje Chile, Uruguai, Argentina e México, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para melhorar as condições de vida de sua população, de acordo com o assessor especial do Pnud e especialista em desenvolvimento humano Flávio Comim.

" O aumento de número de alunos matriculados em escolas foi o fator que mais contribuiu para a melhora do IDH do país no longo prazo "

Ele lembra que, quando comparado com os países que estão no mesmo patamar de IDH, o Brasil perde de forma significativa em, pelo menos, cinco outros indicadores: pobreza, desigualdade, saneamento, mortalidade infantil e mortalidade materna.

- Se eu tivesse que dizer se o copo está meio cheio ou meio vazio no caso do Brasil, eu diria que ele está meio vazio - afirmou Comim.

Quando se considera o Índice de Pobreza Humano, por exemplo, o Brasil tem um percentual de 9,7% (da população), enquanto no México esse valor é de 3,8%.

Nesse índice estão pessoas que costumam morrer antes dos 40 anos, não têm qualquer acesso a educação ou saúde e vivem em condições precárias de saneamento. Por exemplo, enquanto a taxa de saneamento brasileira está em torno de 75%, na Argentina ela é de 91% e no Uruguai, de 100%.

Comim destaca ainda o alto nível de desigualdade. A renda dos 20% mais ricos da população é 21,8 vezes superior à renda dos 20% mais pobres do país.

Outro indicador que mostra a disparidade está nos índices de mortalidade infantil e materna. No Brasil, a mortalidade entre as crianças de menos de cinco anos é de 33 para cada grupo de mil nascidos. No entanto, entre os 20% mais pobres da população, esse número sobe para 99. Já a taxa de mortalidade materna é de 110 para cada 100 mil nascimentos, sendo que nos demais países ela gira em torno de 20 a 30.

Revisão da metodologia é questionada

O IDH é um índice usado pela ONU para medir o desempenho dos países em três áreas: saúde, educação e padrão de vida. O índice é composto por estatísticas de expectativa de vida, alfabetização adulta, quantidade de alunos na escola e na universidade e o produto interno bruto (PIB) per capita.

O Brasil subiu não só devido a melhoras reais nos campos avaliados pelo IDH, mas também em função de revisões de estatísticas nos bancos de dados da Unicef e do Banco Mundial - órgãos que fornecem os números para o PNUD, normalmente baseados em dados produzidos pelos próprios países. Essa mudança de metodologia é questionada por alguns especialistas .

Por exemplo, uma recente revisão de metodologia do IBGE alterou para cima o crescimento do PIB brasileiro em 2005. Em vez de 2,9%, o IBGE declarou que a economia do Brasil cresceu 3,2% naquele ano.

Revisões estatísticas do IBGE também revelaram que os padrões de educação e expectativa de vida no Brasil aumentaram em 2005. A expectativa de vida média subiu de 70,8 anos, no relatório do ano passado, para 71,7 anos, e a porcentagem de alunos matriculados em escolas e universidades aumentou de 86% para 87,5%.

O Brasil vem melhorando em ritmo estável

De 2004 para 2005, o Brasil melhorou em todos os itens que compõem o IDH, com exceção da alfabetização adulta - que ficou estável em 88,6% da população com mais de 15 anos.

O desempenho econômico do país também contribuiu para melhorar o padrão de desenvolvimento humano. O PIB per capita anual aumentou 2,5% de 2004 para 2005, atingindo US$ 8.402 (por paridade de poder de compra).

De 1990 a 2005, o PIB per capita brasileiro cresceu em média 1,1% por ano, ritmo idêntico ao da Argentina, mas bastante inferior ao do Chile - que cresceu em média 3,8% ao ano.

O PNUD começou a divulgar o IDH desde 1990, mas traz dados para vários países retroativos a 1975. Desde então, o Brasil vem melhorando o seu índice de desenvolvimento humano em um ritmo estável.

Em 1975, o IDH brasileiro era calculado em 0,649. Desde então o Brasil vem mantendo uma média de crescimento de cerca de 0,050 no índice a cada dez anos.

Segundo o economista Flavio Comim, especialista em desenvolvimento humano e assessor especial para o PNUD, o aumento de número de alunos matriculados em escolas foi o fator que mais contribuiu para a melhora do IDH do país no longo prazo. Desde 1990, o índice subiu de 67,3% para 87,5%.

Subir no ranking de IDH tem importância 'simbólica'

Para Comim, a importância de entrar na lista dos países de alto desenvolvimento humano é "simbólica, mas significativa, pois abre espaço para uma agenda mais ambiciosa no Brasil".

Segundo ele, um dos motivos que faz o Brasil ficar em último lugar entre as nações de "alto desenvolvimento humano" no IDH é o fato de que os indicadores sociais brasileiros estão muito abaixo do nível de renda do país.

Comim identifica cinco áreas em que o Brasil ainda precisa melhorar para subir no ranking: combate à pobreza e à desigualdade, saneamento, mortalidade infantil e mortalidade materna. Nessas áreas, segundo ele, o Brasil está muito atrás dos demais países, mesmo os latino-americanos.

Comim afirma que, baseado em dados já disponíveis sobre 2006, o Brasil deve melhorar ainda mais o seu IDH no relatório do ano que vem. Entretanto, alerta que outros paises em desenvolvimento vêm obtendo resultados melhores .

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Blog de Alon: Quanto pior, melhor

Do DCI:

Varejo prevê a maior expansão dos últimos 10 anos, aponta instituto

Felipe Oda

SÃO PAULO - O varejo brasileiro tem motivos de sobra para comemorar 2007 e os números comprovam o ótimo desempenho. No ano, o setor registrou um crescimento de 12% no faturamento total das empresas e projeta uma expansão de 9,2% em relação a 2006. O resultado equivale ao maior crescimento do varejo nos últimos dez anos, de acordo com informações do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). A expansão do varejo segue uma trajetória ascendente. Em 2006, o setor obteve crescimento de 6,3% em relação a 2005, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ritmo alcançado e já superado no terceiro trimestre deste ano. Ainda com dados das 28 empresas associadas ao IDV (correspondentes a 27% de todo o varejo brasileiro), que representam diversos setores, por exemplo, vestuário (Renner, Riachuelo, C&A), material de construção (Telhanorte, C&C - Casa&Construção, Leroy Merlin), alimentos (Bob´s, McDonald´s, Grupo Pão de Açúcar), entre outros, o número de lojas das redes aumentou 7,4%, ou 9.436 unidades, em todo território nacional e a área total das lojas (m2) foi ampliada em 11% em relação a 2006. (
Continua...)

Clique aqui para ler a reportagem completa. O que sustenta a expansão econômica do Brasil num ambiente de inflação baixa? A rigidez fiscal. Que por sua vez é o alicerce sobre o qual repousa o crescimento do crédito. Que por sua vez é a mola mestra do crescimento do consumo. Se estivéssemos falando de Química, poder-se-ia dizer que a ortodoxia fiscal produz um efeito-tampão que relativiza o papel do vetor externo na amplitude das oscilações da economia brasileira. Para saber por que chegamos a esse momento especial da história econômica do Brasil, sugiro a leitura de Política Econômica e Reformas Estruturais, de Marcos Lisboa, então (abril de 2003) secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Um trecho:

Uma relação dívida/PIB crescente diminui a taxa de crescimento econômico de longo prazo. Por um lado, o financiamento do gasto público passa a exigir uma fração crescente dos recursos da sociedade, reduzindo o crédito disponível para o setor privado. Por outro lado, o próprio Estado perde a capacidade de investir em áreas essenciais. Ademais, a não sustentabilidade de uma relação dívida/PIB crescente acarreta um aumento da desconfiança sobre a capacidade do governo em honrar seus compromissos futuros, resultando em maiores prêmios de risco dos títulos da dívida pública e em aumentos da taxa de juros, desestimulando o investimento privado e reduzindo a taxa de crescimento econômico.

Clique aqui para baixar o texto. Quem o leu com atenção na época percebeu que eram grandes as chances de o governo Luiz Inácio Lula da Silva dar certo. O texto do Marcos Lisboa (que está a merecer, faz tempo, uma homenagem em algum desses encontros do PT) foi, portanto, um precioso instrumento para a adoção de posições políticas adequadas. Mas o passado é o passado. Por que estamos revolvendo o passado? Porque só é possível compreender a tenacidade do movimento contra a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) se se entender a centralidade do virtuosismo fiscal no cenário econômico brasileiro. Em resumo, quando a oposição radical luta com todas as forças contra a CPMF não é por achar que o país pode prescindir da CPMF. É por saber que sem quebrar as pernas da solidez fiscal não há como sonhar com uma crise que ponha fim ao ciclo virtuoso da economia brasileira. Para usar um chavão, trata-se do famoso "quanto pior, melhor". Para tentar emparedar Lula e impedi-lo de jogar um papel decisivo na própria sucessão. É natural que a oposição radical aja assim. Quando o PT era oposição radical ele também agia assim. Guerra é guerra. Como é que a oposição radical vai endossar uma política que proporciona a Lula dinheiro suficiente para 1) manter a dureza fiscal, 2) expandir programas sociais e 3) retomar investimento público? Quando a oposição radical joga o tudo ou nada contra a CPMF ela sabe muito bem o que está fazendo. E ela mostra, simplesmente, que morre de medo de um 2010 que repita 2006.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

How Brazil Reversed the Curse

SPECIAL REPORT
NEWSWEEK


Latin America used to suffer the deepest gap between rich and poor.

Now it is the only region narrowing the divide.

Christopher Anderson / Magnum Photos for Newsweek
Upwardly Mobile: Middle-class Brazilians

By Mac Margolis | NEWSWEEK
Nov 12, 2007 Issue



Way back in the 1970s, when Brazil's economy seemed unstoppable, South America's biggest nation earned a disparaging moniker: Belindia. Society, by this metaphor, was divided into two lopsided parts—a petite and prosperous Belgium surrounded by a vast and destitute India. Pundits spent years parsing the reasons.

But the underlying meaning was hard to miss. While the overall economy boomed, only a tiny elite was blessed. So Brazil rose to become one of the top 10 economies—and one of the most unequal societies—in the world.

Now Brazil may need a new metaphor. One of the most reliably abysmal income gaps in the world has finally started to shrink, and it may herald a region-wide shift. Thanks to a complex cocktail of economic gains such as the end of chronic high (at times hyper-) inflation and plummeting interest rates, soaring enrollments in primary schools and, more recently, plenty of well-targeted cash handouts going directly to the poorest households (bypassing wasteful welfare bureaucracies), Brazil managed to slash the number of people living on $2 a day or less from about 36 percent in 1992 to just over 19 percent last year. Now the gaping divide between Brazil's haves and have-nots, as measured by the Gini coefficient, is also starting to narrow. Brazil's fell by 5 percent (.59 to .56) from 2001 to 2006. So have Mexico's (.543 to .509) and, more modestly, Chile's (.563 to .562) over the past decade—thanks largely to the same mix of anti-poverty strategies. So rapidly have fortunes turned that Brazil is being hailed by some analysts as an unlikely bellwether for fighting poverty policies worldwide. "The '90s were the years of economic stabilization," says economist Marcelo Neri of the Getúlio Vargas Foundation, a Brazilian business school. "This decade is going to be remembered as the era of falling inequality."

Once again the sages are asking why. Boilerplate economics deserves part of the credit. While the Latin American Street may grumble over "neoliberals," it was free-market reforms that helped break down a long-encrusted social order that grated especially against the poor.

Greater fiscal responsibility curbed compulsive government borrowing, bringing down interest rates and encouraging lenders to spread credit to even low-income consumers, long written off as unbankable. Chronic high inflation was practically eliminated by the mid-'90s, ending one of the more pernicious taxes on the poor; while governments could be refinanced through bonds that paid just a bit more than the inflation rate, workers watched helplessly while their cash wages melted in their pockets.

"There is clearly now much stronger political commitment to macroeconomic stability and keeping inflation low," says Anoop Singh, head of the International Monetary Fund's Western Hemisphere department. "This is good news for bringing down both poverty and inequalities."

Policymakers also did their part through massive campaigns in the 1990s to get children out of the workplace and into the classroom. Brazil, for example, had 97 percent of school-age kids in the classroom as early as a decade ago; those students are now being rewarded with better jobs.

But one of the most celebrated government initiatives is a new brand of grant to the extremely poor known in policy argot as conditional cash transfers (CCTs). All turn on the same principle of paying a small stipend—say, $10 to $50 per month—to the poorest families on condition that they keep their children in school and take them for regular checkups at the local health clinic.

The most rigorous of the CCT schemes is the decade-old Chile Solidario, which awards small two-year grants to families who must not only keep their children in school but also report to social workers and look for jobs. Mexico's Oportunidades, begun in 2002, tracks the progress of some 5 million families on a sophisticated computer database, which has caught the attention of officials from Ankara to New York. After a visit to Mexico, New York Mayor Michael Bloomberg launched his own version, Opportunity NYC, last March. The grandest scheme by far is Brazil's Bolsa Família, or the Family Stipend, which gives some 11.1 million families—nearly a quarter of the 183 million population—up to $50 a month for an unspecified period. (Officials are still debating a cutoff point.) Several stipend programs had been launched in the mid-'90s but they were unified and spread across Brazil after 2003, under the government of Luiz Inácio Lula da Silva.

Economists generally applaud targeted cash transfers on the ground that paying the poor to improve their own lot is far more efficient than throwing money at top-heavy poverty-relief bureaucracies. It is also far cheaper. A textbook case is Brazil, where the government spends more than $500 billion, close to half its GDP, on social programs such as the loss-making pension system that mostly benefits the nonpoor. "With Bolsa Família you reach a quarter of the population by spending just 1 percent of GDP," says Neri. "That's a far better deal." Because of its sharper focus on the poor, Bolsa Família was just as effective in lowering Brazilian inequality as the massive pension system, at only a fifth the cost, Neri says.

Not everyone agrees, of course. In the wrong hands, aid can easily turn into an old-fashioned populist handout. Nicaragua's Zero Hunger project gives families a cow and three chickens, which is unlikely to change lives, while studies show Brazilian leaders crank up the stipend awards around election time. More worrisome, much less attention has been paid to getting people off the stipend. "There's something wrong when 50 million people are getting income transfers," says economist Eduardo Giannetti of Ibmec, a São Paulo business school. "I fear that Bolsa Família is being sold as a way of life and not as an emergency aid program." Skeptics also point out that the rising poor may sink again if the Brazilian economy softens and the government supply of cash dries up.

Longer-term, transforming society will take much more. "We have to improve education in order to see a real reduction in inequality," says Naércio Menezes, an education specialist at Ibmec. If not, critics warn, globalization can actually worsen the opportunity gap. "As countries grow faster and globalize, there's going to be increasing demand for people with tech skills. Unless the education system is geared to meeting those needs, you'll [find] that the benefits will go to a narrow group of people, and inequality will increase," says the IMF's Singh. And Belindia will re-emerge.

With Monica Campbell in Mexico City

© Newsweek, Inc.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

CPMF: A conta não fecha, constata Palocci

Lula Marques/Folha Imagem
Antonio Palocci entre pilhas de abaixo-assinado contra a CPMF


Carga tributária só cai com cortes, diz ex-ministro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os constantes pedidos de redução da carga tributária só serão atendidos quando houver corte do gasto público. O aviso foi dado pelo ex-ministro da Fazenda e atual deputado federal Antonio Palocci (PT-SP). Para ele, é impossível manter o discurso de que a CPMF vai acabar e, ao mesmo tempo, a saúde vai receber mais verbas. "A conta não fecha", diz.
Em sessão na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, muitos questionaram Palocci sobre a alta da carga tributária no período em que era ministro. "É perfeitamente possível fazer uma redução da carga tributária se também houver uma redução dos gastos. Se isso não acontecer, teremos um impasse nas contas", disse.
O discurso mais forte de Palocci aconteceu no mesmo dia em que governo e senadores da oposição fecharam o aumento da verba para a saúde. "Se de dia a gente cortar a carga tributária e à tarde aumentarmos os gastos, a conta não vai fechar", disse.
Na mesma audiência, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, entregou um abaixo-assinado contra a prorrogação.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A conta não fecha

Ribamar Oliveira, email: ribamar.oliveira@grupoestado.com.br

O Estado de São Paulo

A aritmética está sendo desrespeitada pelos políticos que negociam com o governo a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Não é possível destinar 10% das receitas brutas da União para a saúde e, ao mesmo tempo, reduzir a carga tributária do País. A conta não fecha. Mais recursos para a saúde resultarão em pressão adicional por mais receita, mantida a diretriz da atual política fiscal, em que todos os gastos sobem. Pelo andar da carruagem das negociações, a tendência é de elevação da carga tributária e não de queda.

Já está claro que o governo não conseguirá resistir às pressões da bancada da saúde no Congresso, que luta pela regulamentação da emenda constitucional 29. Esta emenda definiu os recursos mínimos para as ações e serviços públicos de saúde, mas nunca foi regulamentada, pois o governo nunca deixou, com receio de ser obrigado a destinar mais dinheiro para a área.

Mas agora não há como escapar. Com a ajuda do presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chignalia (PT-SP), que é médico sanitarista, o projeto que regulamenta a emenda 29 poderá ser votado esta semana. Ele destina 10% das receitas totais da União à saúde, o que representaria um aumento de R$ 20 bilhões em relação ao que será gasto este ano pelo governo federal.

Os gastos federais com a área de saúde cresceram muito durante o governo Lula. Em 2002, eles totalizaram R$ 24,7 bilhões. Em 2007, a previsão é de que fiquem em R$ 45,8 bilhões - crescimento nominal de 85,4% em cinco anos. As despesas municipais com a saúde passaram de R$ 12 bilhões em 2002 para R$ 23,7 bilhões em 2006. Nos Estados, os gastos passaram de R$ 10,7 bilhões para R$ 18,6 bilhões no mesmo período.

Em reunião com secretários estaduais de saúde, na semana passada, Chignalia disse que não era possível o governo federal elevar suas despesas com a área de saúde em R$ 20 bilhões de um ano para o outro. Ele ponderou que será necessário fazer esse aumento de forma escalonada. Mas faltou explicar como é que serão destinados mais R$ 20 bilhões para a saúde sem cortar os outros programas do governo. É impossível reduzir os gastos de custeio nessa magnitude.

Os senadores do PSDB querem também que o governo comece a reduzir a carga tributária. Uma proposta é diminuir a alíquota da CPMF. Outra é desonerar os investimentos em saneamento básico. O risco que se corre é que mais uma vez a conta seja fechada com um corte nos investimentos públicos em infra-estrutura, tão necessários para a retomada do crescimento.

O governo não quer limite para a dívida

Desde agosto de 2000, o Senado evita votar a resolução que fixa um limite para o endividamento da União. Por uma razão simples: o governo não quer. Os senadores aprovaram limites para as dívidas Estaduais e municipais, que estão em vigor, mas deixaram a União de fora. O governo de Fernando Henrique Cardoso fez de tudo para que a resolução não fosse votada. A mesma coisa acontece com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. É curioso que os senadores tucanos queiram, agora, instituir o limite.

Pela proposta que está no Senado, o endividamento da União não poderá superar 3,5 vezes sua receita corrente líquida. O primeiro relator da resolução foi o ex-senador tucano Lúcio Alcântara (CE), que também era o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), onde está a proposta. Durante o primeiro mandato de Lula, o relator foi o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que era líder do governo. Agora, o relator é o senador Romero Jucá (PMDB-RR), também líder do governo no Senado.

O governo é contra, explicou o senador Mercadante a este colunista, porque em um eventual choque externo de grande magnitude, não haveria como controlar o endividamento. Isto já aconteceu no passado. Na crise cambial de 1998/99, lembrou Mercadante, o País perdeu US$ 70 bilhões em poucos meses. A taxa de juro foi elevada (chegou a 45% ao ano) e a taxa de câmbio disparou. Por causa disso, a dívida explodiu.

A dívida líquida do setor público passou de 42,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em dezembro de 1998 para 53,3% do PIB ao final de 2002. No caso só da União, a dívida consolidada líquida chegou a 3,4 vezes a receita corrente líquida no segundo quadrimestre de 2001. Muito perto do limite.

Para Mercadante, a União não pode ser submetida à limitação do endividamento porque tem a responsabilidade com a gestão da moeda, o que não ocorre com os Estados e os municípios. O senador acha importante discutir outra forma de limitação dos gastos públicos federais, o que parece ser a preocupação dos senadores tucanos. Para ele, é possível construir um pacto pelo crescimento, com o controle dos gastos na base do entendimento.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Governo Lula: País tem ciclo mais longo de crescimento em 30 anos

Sergio Lamucci
Valor

Julio Bittencourt/Valor
Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC: ajuda das contas externas

O Brasil cresce há 22 trimestres consecutivos. Mesmo não sendo muito extenso, é o ciclo mais longo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) pelo menos desde o início dos anos 80. Ele supera os 15 trimestres registrados entre 1984 e 1987, e os 12 que ocorreram entre 1993 e 1995, período turbinado pelo Plano Real. Por enquanto, o ciclo perde para o milagre dos anos 70, embora falte ao país uma única série de PIB capaz de olhar a evolução trimestral em prazos mais dilatados.


Além de longo para padrões brasileiros, o atual ciclo tem outra boa característica: ele combina investimento e consumo. As empresas têm investido em ampliação da capacidade produtiva há 14 trimestres e o aumento simultâneo de crédito, renda e emprego tem permitido às famílias manter seu consumo em alta há 15 trimestres - em todos os casos, na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior.


É essa tripla combinação de PIB em alta, ampliação da capacidade produtiva e expansão da demanda interna - amparada por contas externas sólidas e inflação sob controle - que faz os analistas estimarem que esse ciclo pode se sustentar por muitos mais trimestres, ainda que o ritmo do crescimento esteja aquém do obtido por colegas emergentes como China e Índia.


O investimento em alta firme é a característica mais celebrada do atual ciclo de crescimento, como aponta o economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria Integrada. O aumento deve ficar próximo de 10% neste ano, seguindo-se ao avanço de 8,7% de 2006. Para o ex-diretor do Banco Central (BC) Alexandre Schwartsman, economista-chefe para a América Latina do ABN AMRO, a queda consistente dos juros reais, num cenário de inflação mais baixa e controlada, é fundamental para explicar o crescimento do investimento na construção civil e em máquinas e equipamentos.


Depois de passar anos muito acima dos 10%, os juros reais (descontada a inflação) estão na casa de 7%. Projetos que não eram viáveis com juros reais de 13% ou 14% se tornam atrativos quando a taxa cai pela metade. "Houve aumento significativo da previsibilidade no país", diz o economista Bráulio Borges, da LCA Consultores. Com a expectativa de inflação tranqüila e expansão firme da demanda por muito tempo, as empresas ganharam confiança para apostar na ampliação da capacidade produtiva.


Ainda que seja vista como excessivamente rigorosa por vários analistas, a política monetária teve papel importante na tarefa de alongar os horizontes de planejamento na economia de 2002 para cá, por ajudar a derrubar a inflação e manter sob controle as expectativas inflacionárias. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que atingiu 12,3% em 2002, deve fechar 2007 na casa de 3,9%.


Schwartsman destaca a virada espetacular nas contas externas como um dos pontos que conferem mais sustentabilidade ao atual ciclo de crescimento. "O balanço de pagamentos deixou de ser um problema. A demanda doméstica e as importações podem aumentar com força, sem prejuízo para as contas externas", resume ele.


O resultado em conta corrente, que mostrou um déficit de 4,5% do PIB em 2001, se tornou superavitário a partir de 2003, e atualmente está na casa de 1% do PIB, graças principalmente aos saldos comerciais superiores a US$ 40 bilhões por ano. O cenário externo benigno, com crescimento expressivo da economia global e baixa aversão ao risco, foi decisivo nesse processo. "Em agosto, os preços das exportações brasileiras estavam 65% acima da média de 2002", nota Schwartsman.


Ao exportar mais, o país pôde passar a importar mais, permitindo que a demanda interna cresça com força sem pressionar a inflação, como diz Jensen. Outra boa notícia é que as importações de bens de capital estão entre as que mais crescem, sustentando a ampliação da capacidade produtiva das empresas. De janeiro a agosto, aumentaram 33%.


O consumo das famílias também mostra um bom desempenho, impulsionado em grande parte pela expansão impressionante do crédito. Com juros menores e prazos cada vez maiores, o total de empréstimos e financiamentos acumula alta de 24,8% nos 12 meses até agosto, mantendo um ritmo forte mesmo depois do crescimento anual na casa de 20% registrado entre 2004 e 2006.


Para o economista-chefe do Morgan Stanley, Marcelo Carvalho, há espaço para o crédito continuar a crescer nesse ritmo nos próximos anos. Ele diz que, com a consolidação da estabilidade macroeconômica, os prazos puderam aumentar significativamente. "Há financiamento de automóveis de sete anos e empréstimos imobiliários de 30", reforça Borges.


Carvalho lembra que os juros dos empréstimos, ainda que elevados, estão em queda. Para completar, houve inovações institucionais importantes, como a do crédito com desconto em folha de pagamento e as relacionadas aos financiamentos imobiliários, caso da alienação fiduciária (medida que permite a retomada do imóvel em caso de inadimplência). "O papel do crédito no atual ciclo de crescimento é muito importante", diz Carvalho.


Borges ressalta ainda o aumento consistente do emprego e da renda para sustentar a expansão de 15 trimestres consecutivos do consumo das famílias. Segundo cálculos da Tendências, a massa salarial real (descontada a inflação) está em alta, no acumulado em 12 meses, desde abril de 2004. Para este ano, a expectativa é de um crescimento entre 5,5% e 6%. Os trabalhadores se sentem mais seguros para consumir e entrar em empréstimos e financiamentos. Outro ponto positivo do atual ciclo é que a indústria voltou a dar sinais de vitalidade, estimulada pelo desempenho do mercado interno.


O economista Alexandre Mathias, diretor de renda fixa da Unibanco Asset Management (UAM), diz que o atual ciclo rompeu com o padrão de arrancadas e freadas que predominou a partir de 1980 porque foram corrigidos ou atenuados os principais problemas macroeconômicos do país. "Nos ciclos anteriores, o próprio crescimento acentuava os desequilíbrios externos, inflacionários ou fiscais, o que levava a crises. Desta vez, o quadro é diferente." Se ainda há muito o que avançar, não parece haver nenhum risco iminente de que a fase atual de expansão seja detida no médio prazo, avalia Mathias.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Por que a carga tributária cresce?

email: ribamar.oliveira@grupoestado.com.br

O governo alega que o forte aumento da arrecadação tributária federal deste ano decorre do crescimento econômico, pois não houve elevação das alíquotas dos impostos e nem criação de novos tributos. O problema é que um cálculo feito pela Receita Federal do Brasil (RFB), e que foi incluído na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2008, não confirma essa argumentação.

Leia mais no jornal O Estado de São Paulo (para assinantes)

'Não vivemos uma penúria fiscal'

Bernard Appy: secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
Ele diz que há espaço para ampliar recursos para o desenvolvimento regional e acredita em acordo pelo fim da guerra fiscal

Sérgio Gobetti, BRASÍLIA para O Estado de São Paulo

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, retomará nesta semana as negociações para a finalização do texto da reforma tributária a ser enviado ao Congresso depois da tentativa frustrada de selar um acordo prévio e inédito entre os Estados para pôr fim à guerra fiscal.

Ele diz que a situação não é mais de “absoluta penúria fiscal”. Ou seja, há espaço para ampliar os aportes de recursos para o fundo de desenvolvimento regional, se os Estados concordarem em abrir mão dos benefícios que dão às empresas.

O sr. ainda acredita em um acordo para o fim da guerra fiscal?

Acredito que um acordo entre os Estados ainda é possível, tanto antes do envio da proposta de reforma ao Congresso, quanto durante sua tramitação. A percepção de que a guerra fiscal é um instrumento inadequado de política de desenvolvimento é hoje generalizada, mas alguns Estados entendem que só podem ceder esse instrumento se tiverem outro instrumento robusto no seu lugar.

Há ganho real dos Estados mais pobres com a guerra fiscal?

A guerra fiscal olhada individualmente por cada Estado constitui um instrumento de desenvolvimento estadual, mas muitas vezes ela interfere na alocação entre os Estados do Nordeste de um investimento que vai ser feito no Nordeste de qualquer maneira. Então, desse ponto de vista, o efeito líquido da guerra fiscal na região é apenas de redução da receita e não de indução do desenvolvimento.

Qual a diferença dessa política com o que o governo propõe?

O importante é encontrar um mecanismo de desenvolvimento que efetivamente contribua para o desenvolvimento da região. Muitas vezes, o foco não deve ser a industrialização a qualquer custo, mas sim procurar explorar as vocações regionais, de forma a aumentar a produtividade e a renda da região.

Há uma desconfiança de que o aporte do governo ao fundo regional será insuficiente.

A reforma tributária tem um custo, implícito na política de desenvolvimento regional, e existe um limite fiscal para esse custo que tem de ser proporcional aos benefícios que o Brasil terá com a melhora da qualidade dos tributos. A proposta do governo pode levar a montantes relevantes de recursos para a política de desenvolvimento regional. Não discutimos valores até agora, mas tem um outro ponto importante: estamos numa situação que não é de absoluta penúria fiscal. É uma situação em que há alguma margem fiscal, cuja alocação deve ser definida pelo governo, seja em desoneração tributária, seja em ampliação de investimentos ou programas sociais, seja em política de desenvolvimento regional.

Não é uma contradição defender uma forma de tributação mais moderna, sem cumulatividade, como o IVA, e resistir em aceitar uma redução da CPMF?

A CPMF alcança operações que você não consegue alcançar com um imposto sobre valor adicionado. Além disso, substituir a CPMF por um IVA não cumulativo implicaria alíquota superior a 2,5% e o impacto sobre os preços dos produtos da economia formal seria mais elevado.

O PPA projeta uma queda na carga tributária a partir de 2011. A política de desoneração não está sendo pouco tímida?

Ainda não temos definição sobre as desonerações dos próximos anos, e não acho que a política esteja sendo tímida. As desonerações desde 2004 montam R$ 30 bilhões. Se houver espaço fiscal, certamente serão consideradas novas medidas.

Uma redução maior da carga tributária não se choca com os planos do governo de expandir os gastos sociais e assistenciais?

O que está ocorrendo nos últimos anos é um aumento da receita tributária como proporção do PIB sem que tenha tido qualquer aumento de alíquota desde 2005. O que observamos é um aumento da arrecadação resultante do processo de formalização da economia e de aumento de rentabilidade das empresas.

Mas há uma percepção de que a carga tributária no Brasil equivale à de países desenvolvidos, mas com um retorno social inferior.

Essa discussão sobre os custos e benefícios dos tributos é pertinente, mas deve ser vista dos dois lados. Aqueles que defendem uma redução mais acelerada devem indicar quais as despesas devem ser reduzidas e de que forma, lembrando sempre que existe grande rigidez na estrutura de despesas do Brasil.


Quem é:
Bernard Appy


Economista graduado pela USP e com mestrado na Unicamp. Secretário de

Política Econômica do Ministério da Fazenda, cargo que já havia ocupado por um período no primeiro mandato de Lula.

Responsável pelas negociações da reforma tributária, como presidente do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz)

domingo, 16 de setembro de 2007

Crescimento econômico e carga tributária

ANTONIO PALOCCI

O aumento da arrecadação, verificado em todos os níveis de governo e, em particular, na esfera federal, colocou o tema da carga tributária no centro do debate econômico atual. Muitos questionam se houve aumento de tributos nos últimos anos. Estudo recente do economista Raul Veloso revela, ao contrário, que nos últimos quatro anos os valores referentes às desonerações fiscais superam em muito os de aumentos de tributos.

Fim do IPI sobre máquinas e equipamentos; desoneração da cesta básica, livros, materiais de informática e produtos da construção civil; redução do Imposto de Renda nas transações imobiliárias; e redução da carga tributária das universidades para constituir o ProUni são alguns exemplos. Mas por que, mesmo assim, o volume de arrecadação continua a crescer? Um olhar mais atento sobre os dados desagregados da Receita Federal mostra com clareza o que está ocorrendo: há um evidente aumento da eficiência da administração tributária, agora fortalecida com a unificação da Receita Federal com a Receita Previdenciária.

Mas há, principalmente, um aumento no recolhimento de tributos referentes a lucros, renda, crédito e maior formalidade da economia. O fato é que o atual ciclo de crescimento vem se mostrando consistente e contribui para expandir o lucro das empresas, os empregos formais e a renda das famílias.

Setores importantes da economia também vêm aumentando de forma vigorosa seus níveis de formalização, resultado da combinação de pelo menos três fatores: ampliação do acesso ao mercado de capitais; expansão do crédito; e ampliação da participação do Brasil no mercado mundial. Um bom exemplo de aumento da formalização que advém da ampliação do crédito e do maior acesso ao mercado de capitais é a construção civil. Em situações como esta é normal a arrecadação crescer acima do PIB nominal.

Mais importante, porém, do que o diagnóstico sobre a expansão da arrecadação no país são as escolhas das políticas que serão adotadas para aproveitar esse ciclo virtuoso e que darão maior sustentabilidade ao crescimento econômico em curso.

Combinar o bom uso desses recursos com novas desonerações fiscais e uma melhoria da qualidade dos tributos é uma opção de eficiência garantida.

A instituição do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) — que levou o presidente Lula a conclamar o seu próprio governo e a iniciativa privada a um esforço concentrado por investimentos de conteúdo social (habitação e saneamento) e de infraestrutura (rodovias, portos, aeroportos, irrigação e energia), combinado com medidas de restrição de gastos correntes, ainda pendentes de votação no Legislativo — mostra que o governo escolheu o bom caminho.

Mas isso não é tudo. Investimento não é um assunto banal. É a mais difícil das tarefas dos governos. O investimento é, em geral, difícil de ser bem escolhido, planejado, financiado e executado. E seus projetos permanentemente disputam recursos com outros tipos de gastos.

Na administração pública, em seus diferentes níveis, os gastos correntes tendem a ganhar de goleada dos gastos com investimentos. Eles são mais fáceis, mais atrativos e mais dinâmicos.

E, na maioria das vezes, são meritórios, como é caso, por exemplo, dos recursos destinados à educação, à saúde e à segurança.

No entanto, uma boa parcela dos gastos correntes deveria ser evitada, em todos os níveis de governo.

Isso porque sua evolução crescente reduz o espaço dos investimentos e da reforma dos tributos, não contribui para avanços sociais e limita o potencial de crescimento do setor privado.

É por isso que a escolha das políticas públicas precisa ser bem equilibrada, além de eficiente. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, acaba de lançar um plano para estimular novos modelos de gestão dos hospitais. Botou o dedo na ferida e merece todo incentivo. É essencial, neste momento, promover reformas para melhorar a qualidade do gasto público e para simplificar a complexa estrutura dos nossos impostos. Esse seria um bom caminho para converter a melhora da arrecadação em mais crescimento para o país e mais bem-estar social.

Publicado no jornal O Globo

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Emprego segue PIB e bate recorde

Criação de postos de trabalho é a maior da era pós-plano Real, diz Fiesp

Marcelo Rehder e Paula Puliti

O emprego na indústria confirma o vigor da economia brasileira mostrado pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre. De janeiro a agosto, a indústria paulista criou 157 mil postos de trabalho. Esse resultado, de apenas oito meses, já supera o de qualquer ano no período pós-plano Real, iniciado em 1994, segundo levantamento divulgado ontem pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Em 2004, melhor ano para a indústria até agora, as empresas do setor haviam criado 144.487 empregos no Estado. Neste ano, o número de empregos criados pelo setor apresenta crescimento de 12,3% em relação ao registrado entre janeiro e agosto de 2004, quando foram abertas 139,7 mil vagas.

Segundo Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, o emprego deve continuar a crescer em setembro e outubro. No entanto, perderá força em novembro e recuará forte em dezembro, dentro de um movimento sazonal já esperado.

No mês passado, o saldo entre as contratações e as demissões correspondeu à abertura de 5 mil postos. A Poly Hidrometalúrgica, fabricante de metais sanitários, está entre as empresas que contrataram no mês passado. A Poly fez oito contratações no período, o que elevou seu quadro de funcionários para 78 pessoas.'Recebemos mais de 40 cotações de construtoras nas últimas semanas', contou Denis Perez Martins, dono da empresa. 'No ano passado, não passava de uma cotação por mês', compara.

Para Francini, da Fiesp, é possível projetar, a partir dos dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que o crescimento do PIB de 2007 fique ao redor de 5,5%. O empresário avaliou, ainda, como saudável e surpreendente o fato de a indústria de transformação ter puxado o PIB do segundo trimestre.

De acordo com o IBGE, o PIB industrial cresceu 6,8% no segundo trimestre ante o mesmo período de 2006. 'Esse dado foi surpresa', afirmou Francini, destacando o papel que a construção civil desempenhou na variação positiva do indicador. Segundo ele, esse setor da economia tem alta capacidade de disseminação por outras áreas.

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Consumo das famílias cresceu 5,9% no semestre

O aumento da massa salarial real e a facilidade na obtenção de crédito reforçaram o poder de compra

Andrea Vialli, Jacqueline Farid e Adriana Chiarini

O Estado de São Paulo

Um dos motores do aumento do PIB no segundo trimestre, o consumo das famílias cresceu 5,7% em comparação com o segundo trimestre do ano passado e alcançou a cifra de R$ 379,575 bilhões, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE. No primeiro semestre, o crescimento no consumo chega a 5,9%, impulsionado pelo aumento da massa salarial real no período e a facilidade de obtenção de crédito para pessoas físicas.

No que depender da professora Maria Tereza Rodrigues Santos, o consumo das famílias vai continuar crescendo até o fim do ano. No final da tarde de ontem, ela fazia compras com o marido em uma loja de móveis e eletroeletrônicos na região Norte da capital paulista.

“Depois de 25 anos de casada, resolvi trocar os eletrodomésticos antigos”, conta a professora, que comprou máquina de lavar roupas, fogão, geladeira, exaustor para cozinha e um colchão de casal. Tudo parcelado no cartão de crédito. “Estou aproveitando este momento de crédito farto. Se não fossem as facilidades, não teria como pagar à vista”, afirma. Com uma renda familiar mensal de R$ 7 mil, a professora vê com bons olhos o aumento do consumo no Brasil. “Acho importante que as pessoas de menor poder aquisitivo possam consumir mais, e as facilidades do crédito contribuem para isso.”

O analista de sistemas Edson Silva, que pesquisava preços de móveis com a mulher, Sabrina Serruya, tem opinião diferente. “O brasileiro está se endividando. Muitas pessoas já comprometeram 80% da renda com financiamentos e isso não é um bom sinal”, diz. “Esse aumento no consumo vai trazer consequências sérias para o País, como superprodução, risco de inflação e problemas de infra-estrutura”, analisa. Silva se diz comedido nos gastos, poupa 20% do salário e prefere pagar suas compras à vista. “Ando na contramão”, diz.

Mas o casal ainda deve contribuir para elevar o PIB até o fim do ano. Recém-casados, estão mobiliando a casa e devem comprar móveis e utensílios domésticos nos próximos meses. E planejam para 2008 a troca dos dois carros que estão na garagem por modelos mais novos.

No entanto, há quem prefira evitar a farra do consumo. A bancária Sueli Mendonça vai evitar grandes gastos até o ano que vem, quando pretende adquirir uma televisão de LCD, “atual sonho de consumo”. Com uma renda média mensal de R$ 1,5 mil, Sueli ainda está quitando prestações do carro - comprado no ano passado e financiado em 24 vezes - e de uma viagem à Cuba. “Até o final do ano, vou evitar gastos maiores e manter só as despesas do dia-a-dia, como roupas e alimentos.”

MUDANÇA

A coordenadora de contas trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, afirma que os bons resultados do consumo das famílias ilustram uma “mudança de composição” que está ocorrendo no crescimento da economia desde o início de 2006, com o mercado interno tomando o lugar das exportações como principal motor da economia.

Segundo Rebeca, o consumo foi influenciado pelo aumento de 5,2% na massa salarial real no segundo trimestre deste ano ante igual período do ano passado e pela expansão, nesse período, de 26,5% no saldo de operações de crédito do sistema financeiro para pessoas físicas. Segundo ela, a queda na taxa Selic também influencia o consumo interno.

Investimento chega a 17,7%, maior taxa desde 2000

O desempenho do investimento foi mais uma vez o grande destaque do resultado do Produto Interno Bruto (PIB). No segundo trimestre, a formação bruta de capital fixo (FCBF, medida do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos) cresceu 13,8% em relação ao mesmo período do ano passado, confirmando que está em curso uma importante ampliação da capacidade produtiva das empresas. No acumulado do ano, a FCBF acumula alta de 10,6%.

O grande destaque foi o consumo aparente de máquinas e equipamentos (a soma de produção mais importação, excluindo a exportação), com crescimento de 19,6% na comparação com o primeiro semestre de 2006, segundo cálculos da Rosenberg & Associados. O investimento atingiu o equivalente a 17,7% do PIB no período de abril a junho, a taxa mais alta para um segundo trimestre desde o começo da nova série do PIB, em 2000.


O consultor de análise econômica do Itaú, Joel Bogdanski, diz que os números do PIB mostraram uma composição saudável da atividade econômica, principalmente devido à expansão firme do investimento. Para ele, o crescimento da FCBF assegura o aumento da capacidade de produção na economia brasileira, o que é fundamental para evitar desequilíbrios entre a oferta e a demanda. Bogdanksi ressalta que o investimento continua a crescer a taxas elevadas mesmo depois de vários trimestres de avanço a um ritmo forte. Em 2006, a FCBF teve alta de 8,7%.




O economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria Integrada, destaca a aceleração do investimento no segundo trimestre, quando houve expansão de 3,2% em relação ao primeiro, na série livre de influências sazonais. "Isso equivale a uma taxa anualizada de 13,4%, um número mais alto que os já expressivos 11,8% registrados no trimestre anterior", afirma ele.


O economista Paulo Miguel, da Quest Investimentos, também ficou satisfeito com o desempenho da formação bruta de capital fixo. Ele acredita que o investimento pode crescer 12% em 2007. Segundo estimativas da Quest, se os juros reais continuarem na casa de 7% a 7,5%, há espaço para a FCBF avançar a taxas acima de dois dígitos por mais dois ou três trimestres.


Os três analistas avaliam que o cenário para o investimento continua favorável, devido à expectativa de continuidade do quadro formado por juros menores, demanda firme, confiança de empresários e consumidores e câmbio razoavelmente estável e valorizado. A aposta é que tanto a produção quanto a importação de máquinas e equipamentos siga em alta.


Além disso, as perspectiva para a construção civil são bastante positivas, como ressalta Jensen. O crédito imobiliário cresce velozmente e há perspectiva de aumento das obras públicas de infra-estrutura. No primeiro semestre, a construção cresceu 4,3% em relação ao mesmo período de 2006, mas houve uma forte aceleração no segundo trimestre - houve crescimento de 6,3% na comparação com abril a junho de 2006. (SL) Valor (para assinantes)

Indústria cresce 7,2% e puxa PIB no trimestre

Ana Paula Grabois

Valor (para assinantes)

A indústria de transformação foi o motor do crescimento econômico do país no segundo trimestre deste ano. O setor apresentou forte expansão, de 7,2%, após subir 2,7% no primeiro trimestre, de acordo com as Contas Trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Depois de uma alta de 4,4% nos primeiros três meses do ano, o Produto Interno Bruto (PIB) acelerou o ritmo para 5,4% no segundo trimestre em relação ao mesmo trimestre do ano passado, na maior taxa desde o segundo trimestre de 2004, quando ficou em 7,5%. Na comparação com o trimestre anterior, em termos dessazonalizados, o PIB aumentou 0,8%.

O governo festejou a 22ª alta consecutiva do PIB (na comparação com igual período do ano anterior), o que consolidaria o mais longo ciclo de crescimento da economia brasileira desde o início dos anos 90.


"A aceleração do crescimento no segundo trimestre deve-se muito à indústria de transformação", disse a gerente das Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis. Os destaques do setor ficaram por conta dos segmentos de máquinas e equipamentos, automotivo, material elétrico, metalúrgico e de produtos químicos.


"A indústria acelerou o ritmo de crescimento influenciada pelo aquecimento da demanda interna, após meses de reforço no investimento" , avaliou a economista Marcela Prada, da consultoria Tendências . Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Estadual (Iedi), a recuperação dos segmentos mais afetados pelo câmbio valorizado foi importante para o bom resultado da indústria de transformação no segundo trimestre. Em relatório, o Iedi, ressaltou que setores como têxtil, calçados, vestuário e madeira, já saíram do fundo do poço e deixaram de pesar negativamente no PIB.


"A alta da indústria de transformação refletiu positivamente no resultado do comércio e do transporte de cargas, ou seja, nos serviços. Por isso, foi mais importante para o PIB", completou a gerente do IBGE. A expansão mais forte se repetiu nos demais segmentos da indústria, especialmente na construção civil, cujo crescimento chegou a 6,3% no segundo trimestre. Além do aumento do volume de crédito direcionado para a habitação, o IBGE atribui o vigor ao aumento do emprego no setor.


Sob o ponto de vista da demanda, o crescimento econômico brasileiro teve como destaque os investimentos das empresas em máquinas, equipamentos e construção (formação bruta de capital fixo). Os investimentos aumentaram 13,8%, pela 14º trimestre consecutivo, estimulados pelo corte da taxa de juros e maior oferta de crédito. Devido ao bom desempenho, a taxa de investimento em relação ao PIB atingiu 17,7%, a maior taxa para um segundo trimestre desde 2000, quando foi iniciada a série histórica da taxa. "O maior investimento confere sustentabilidade ao crescimento, pois aumenta a capacidade produtiva da economia. As empresas apostam na continuidade do aumento do consumo interno", disse o coordenador das Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto.


Sob o efeito da expansão do crédito e da massa salarial, o consumo das famílias manteve-se em expansão pelo 15º trimestre seguido e cresceu 5,9%. Para a economista do Unibanco Giovanna Rocca embora o resultado do PIB tenha vindo um pouco abaixo do esperado pelo mercado, a economia permaneceu em ritmo de crescimento "robusto", sustentado pela demanda interna aquecida.


Ainda pelo lado da oferta, a indústria extrativa, impulsionada pela produção de minério de ferro, cresceu 5,9%, enquanto a indústria de produção e distribuição de energia elétrica, gás e esgoto apresentou aumento de 6,1% no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período de 2006.


O setor de serviços ficou com desempenho ligeiramente abaixo da média da economia, com 4,8% no segundo trimestre. Já a agropecuária apresentou crescimento próximo a zero por conta das safras ruins do café e do arroz. Os técnicos do IBGE afirmam que o setor deve ter maiores crescimentos ao longo do segundo semestre porque o período concentra a maior parte da colheita agrícola.


O coordenador do IBGE diz que as taxas de crescimento do segundo trimestre se aproximaram dos números de 2004, quando o país havia crescido 5,7%, mas com um outro padrão. Em 2004, o país produzia e investia para exportar. Agora, a expansão da economia está ancorada no mercado interno, que além de favorecer os investimentos e a produção, tem estimulado as importações. "Em 2004, a participação do setor externo era maior do que agora. Os fatores que explicam o crescimento em 2007 estão ligados ao consumo interno", disse Olinto. O volume das importações de bens e serviços subiu 18,7% no segundo trimestre do ano. As exportações aumentaram 13%, mas sobre uma base baixa de comparação.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Finalmente crescimento com distribuição da renda ?

por Jorge Mattoso*

Mesmo que ainda não possamos saber com precisão a profundidade da crise norte-americana e seus efeitos na economia mundial, sabemos que seu impacto no Brasil será menor que em outras crises do passado.

Para que isso ocorresse, foram indispensáveis as novas política externa, de comércio exterior e de ampliação das reservas internacionais brasileiras. Assim, pudemos reduzir sobremaneira nossa dependência e vulnerabilidade. Nos anos 90 éramos muito mais dependentes dos negócios com os EUA (25% das exportações para aquele país em 2002, contra 14,6% em julho de 2007). Enquanto o câmbio era fixo (até 1999) e o país tinha baixas reservas, também o comércio exterior era enfraquecido e ou deficitário, e a economia apresentava grande vulnerabilidade e quase nenhuma capacidade de resposta aos acontecimentos externos. Isto, dada a desmotivação do setor público e sua baixa capacidade de planejamento e de articulação de quaisquer objetivos nacionais. Nos anos 90, frente a qualquer sobressalto financeiro nas economias centrais o país levava um susto e um tombo sem tamanho.

O Brasil de hoje encontra-se em outro patamar: reservas internacionais de porte, menor vulnerabilidade externa, menor dependência da economia norte-americana, maior participação de países emergentes no crescente comércio exterior e crescimento econômico efetivo e potencial mais elevado

Mas não se trata exclusivamente de uma melhora do setor externo. Pelo contrário, observamos também a extraordinária expansão do mercado interno, do crédito (que alcança a maior proporção vis-avis o PIB dos últimos 12 anos e segue ascendente), a elevação dos investimentos há 14 trimestres seguidos e taxas de juros cadentes. A isso temos que somar uma muito bem-vinda melhora na distribuição da renda nacional, graças à baixa inflação, aos programas sociais e - não menos importante - à elevação do salário mínimo real.

O próprio mercado internacional reconhece que estamos em condições novas e promissoras. O Brasil se encontra às vésperas de receber o “grau de investimento”, anunciado todos os dias, mas já prenunciado pelo crescimento do Investimento Direto Externo (cerca de 84% em 2007).

Não sem razão, vários economistas estimam que o país tenha condições de crescer em torno de 5% neste ano. Os números do IBGE para o segundo trimestre mostra que todos os setores expandiram a produção, com destaque para a indústria (6,8%) e o investimento sofreu uma alta de 13,8%. Isto significa que podemos ter deixado para trás a estagnação e o baixo crescimento.

Em 2007, pela primeira vez desde 1996, o Brasil deverá crescer acima da média mundial e – não menos importante – o dobro da média nacional dos últimos 15 anos. Tudo indica que voltamos a crescer de maneira sustentada, superando os períodos recentes e governos anteriores. O período 2003-2007 deverá apresentar crescimento médio superior a 3,7% contra, por exemplo, uma média de 2,3 no período 1995-2002.

Mas mais significativo será o rompimento de uma tendência histórica. O Brasil ao longo de muitos anos cresceu bastante, mas agravando a concentração da renda. Depois estagnou, obviamente sem desconcentrar a renda. Agora caminhamos pela primeira vez em muitas décadas em direção a um crescimento sustentado com distribuição de renda.

A consolidação desse processo e sua extensão aos próximos anos requerem – internamente - a continuidade da queda dos juros, a consolidação do PAC, a expansão do crédito, dos investimentos públicos e privados (sobretudo em infra-estrutura) e do processo de distribuição da renda e redução da pobreza. E externamente, que a economia mundial possa continuar sua expansão, mesmo que a taxas menores devido à crise norte-americana.

*Jorge Mattoso, professor do Instituto de Economia da UNICAMP. Foi Secretário de Relações Internacionais da Prefeitura de SP na gestão Marta Suplicy (2001-2002) e presidente da Caixa Economica federal (2003-2006).