Finalmente crescimento com distribuição da renda ?
por Jorge Mattoso*
Mesmo que ainda não possamos saber com precisão a profundidade da crise norte-americana e seus efeitos na economia mundial, sabemos que seu impacto no Brasil será menor que em outras crises do passado.
Para que isso ocorresse, foram indispensáveis as novas política externa, de comércio exterior e de ampliação das reservas internacionais brasileiras. Assim, pudemos reduzir sobremaneira nossa dependência e vulnerabilidade. Nos anos 90 éramos muito mais dependentes dos negócios com os EUA (25% das exportações para aquele país em 2002, contra 14,6% em julho de 2007). Enquanto o câmbio era fixo (até 1999) e o país tinha baixas reservas, também o comércio exterior era enfraquecido e ou deficitário, e a economia apresentava grande vulnerabilidade e quase nenhuma capacidade de resposta aos acontecimentos externos. Isto, dada a desmotivação do setor público e sua baixa capacidade de planejamento e de articulação de quaisquer objetivos nacionais. Nos anos 90, frente a qualquer sobressalto financeiro nas economias centrais o país levava um susto e um tombo sem tamanho.
O Brasil de hoje encontra-se em outro patamar: reservas internacionais de porte, menor vulnerabilidade externa, menor dependência da economia norte-americana, maior participação de países emergentes no crescente comércio exterior e crescimento econômico efetivo e potencial mais elevado
Mas não se trata exclusivamente de uma melhora do setor externo. Pelo contrário, observamos também a extraordinária expansão do mercado interno, do crédito (que alcança a maior proporção vis-avis o PIB dos últimos 12 anos e segue ascendente), a elevação dos investimentos há 14 trimestres seguidos e taxas de juros cadentes. A isso temos que somar uma muito bem-vinda melhora na distribuição da renda nacional, graças à baixa inflação, aos programas sociais e - não menos importante - à elevação do salário mínimo real.
O próprio mercado internacional reconhece que estamos em condições novas e promissoras. O Brasil se encontra às vésperas de receber o “grau de investimento”, anunciado todos os dias, mas já prenunciado pelo crescimento do Investimento Direto Externo (cerca de 84% em 2007).
Não sem razão, vários economistas estimam que o país tenha condições de crescer em torno de 5% neste ano. Os números do IBGE para o segundo trimestre mostra que todos os setores expandiram a produção, com destaque para a indústria (6,8%) e o investimento sofreu uma alta de 13,8%. Isto significa que podemos ter deixado para trás a estagnação e o baixo crescimento.
Em 2007, pela primeira vez desde 1996, o Brasil deverá crescer acima da média mundial e – não menos importante – o dobro da média nacional dos últimos 15 anos. Tudo indica que voltamos a crescer de maneira sustentada, superando os períodos recentes e governos anteriores. O período 2003-2007 deverá apresentar crescimento médio superior a 3,7% contra, por exemplo, uma média de 2,3 no período 1995-2002.
Mas mais significativo será o rompimento de uma tendência histórica. O Brasil ao longo de muitos anos cresceu bastante, mas agravando a concentração da renda. Depois estagnou, obviamente sem desconcentrar a renda. Agora caminhamos pela primeira vez em muitas décadas em direção a um crescimento sustentado com distribuição de renda.
A consolidação desse processo e sua extensão aos próximos anos requerem – internamente - a continuidade da queda dos juros, a consolidação do PAC, a expansão do crédito, dos investimentos públicos e privados (sobretudo em infra-estrutura) e do processo de distribuição da renda e redução da pobreza. E externamente, que a economia mundial possa continuar sua expansão, mesmo que a taxas menores devido à crise norte-americana.
*Jorge Mattoso, professor do Instituto de Economia da UNICAMP. Foi Secretário de Relações Internacionais da Prefeitura de SP na gestão Marta Suplicy (2001-2002) e presidente da Caixa Economica federal (2003-2006).
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