sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Mulher tem dupla jornada de trabalho

DIANA BRITO
Colaboração para a Folha Online, no Rio

No país, 109,2 milhões de pessoas, de 10 anos ou mais de idade, declaram exercer atividades domésticas, aponta a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2001 e 2005. O levantamento, divulgado nesta sexta-feira, afirma que as mulheres têm um percentual de participação em afazeres de casa de 90,6% (71,5 milhões), enquanto 51,1% (37,7 milhões) dos homens realizam esse tipo de tarefa.

A menor participação dos homens foi observada no nordeste, onde 46,7% realizam atividades domésticas. No sul, foi registrada a maior taxa do sexo masculino, 62%. Segundo os pesquisadores, a explicação para esta participação um pouco mais baixa dos homens nordestinos nos afazeres domésticos pode estar ligada aos aspectos culturais locais, que valorizam o "machismo" já que existe uma correlação positiva entre a realização dessas tarefas e o sexo feminino.

São os homens de 60 anos ou mais de idade que dedicam parte do tempo em afazeres domésticos, 13 horas semanais. Já as mulheres, a partir dos 50 anos, são as que mais consomem tempo, 31 horas semanais, cerca de três vezes mais do que os homens. Já em termos absolutos, é a população adulta de 25 a 49 anos, que mais realiza afazeres domésticos.

A PNAD destaca que os afazeres de casa constituem um grupo de atividades predominantemente femininas. As meninas desde cedo são orientadas para o exercício do trabalho doméstico, cerca de 83% delas realizam tais afazeres, enquanto que entre os meninos a proporção é de 47,4%, O tempo despendido diferencia significativamente entre os sexos: meninos 8,2 e meninas 14,3 horas semanais.

As crianças e adolescentes, com idade entre 10 e 17 anos, que deveriam dedicar a maior parte do tempo à escola, tiveram uma parcela significativa no grupo de realização de atividades em casa. Apesar das meninas terem menos tempo para o lazer e o estudo, o rendimento delas na escola tem sido melhor do que o dos meninos. A pesquisa ressalta que um forte argumento seria a entrada precoce dos meninos no mercado de trabalho, com um percentual de 28,6%, já 18% das meninas começam a trabalhar fora mais cedo.

No Brasil, a cor/raça mostrou-se como uma variável de pouca influência na condição de cuidar ou não de afazeres domésticos, 36, 3 milhões de mulheres brancas se dedicam aos afazeres domésticos, já 34, 6 milhões de negras e pardas fazem o mesmo. Verificou-se que as mulheres de cor preta e parda investem mais tempo no cuidado de atividades domésticas (25,7) do que as brancas (24,9).

A menor participação está entre o grupo menos escolarizado 67,9%. De acordo com a jornada média em afazeres domésticos, o que se verifica é uma maior intensidade deste trabalho para a população com até quatro anos de estudo, 21,8 horas semanais. Pessoas com 12 anos ou mais de estudo se dedicam menos tempo a essas tarefas.

A PNAD mostrou alguns aspectos da desigualdade de gênero no âmbito da família no que se refere à realização do trabalho doméstico. Na sociedade este serviço ainda se constitui uma tarefa das mulheres, embora a pesquisa mostre um pequeno aumento da participação masculina nessas atividades, principalmente entre os mais velhos.

O IBGE também diz que não se observou um compartilhamento das atividades domésticas das mulheres com os cônjuges, pelo contrário, fatores reforçam essa desigualdade de gênero, como a baixa participação dos meninos no trabalho doméstico, ou seja, desde cedo se constrói a idéia de que o trabalho doméstico é uma tarefa para as mulheres.

O objetivo da PNAD é analisar as informações de jornada de trabalho para que se possa compor um número aproximado do tempo gasto nessas atividades e a disponibilidade para outras atividades como lazer e estudos. A pesquisa, com informações coletadas de pessoas de 10 anos ou mais de idade, serve de base para as funções sobre trabalho não remunerado e gênero.

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