"Um dia de luto para a saúde"
Ministro José Gomes Temporão
foto: Tasso Marcelo/Agência Estado
CORPO A CORPO
JOSÉ GOMES TEMPORÃO
Menos de 24 horas depois da derrota no Congresso, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, sentenciou: ontem foi um dia de luto para a saúde pública no país.
O ministro teve taquicardia durante a votação e dormiu mal após o resultado.
Todos os senadores que votaram têm plano de saúde particular e são atendidos nos melhores hospitais brasileiros.
A disputa foi por poder. Votaram de olho em 2010. O interesse público ficou de lado. Isso ficou evidente para mim.
Evandro Éboli
GLOBO: Como o senhor avalia o resultado?
JOSÉ GOMES TEMPORÃO: Hoje é um dia de luto para a saúde pública. A perda é incomensurável.
Foi um grande baque. A história do SUS sempre foi um processo difícil.
Nos anos 90, chegou a ser preciso pegar empréstimo do FAT para pagar hospitais. Aí, veio a luta do Adib Jatene pela CPMF. Depois, Emenda 29
Que sensação o senhor teve logo após ver o placar eletrônico com o resultado?
TEMPORÃO: Deixou um travo amargo para todos que militam na saúde pública. É frustrante. Eu, que milito há 30 anos na saúde pública, tinha a expectativa de um grande acordo. O governo acenou com essa proposta. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) foi claro ao dizer que como pode alguém recusar uma proposta assinada pelo presidente da República e garantindo que todo o dinheiro vai para a saúde? Foi um choque. Estou chocado.
O resultado prático foi o pior possível. Pergunto: quem ganhou com essa decisão
O senhor acreditou que o apelo de Simon pudesse sensibilizar a oposição?
TEMPORÃO: Fiquei impressionado com o não-acatamento.
A decisão foi política e não levou em consideração a necessidade do homem comum, que depende do SUS.
Todos os senadores que votaram têm plano de saúde particular e são atendidos nos melhores hospitais brasileiros.
A disputa foi por poder.
Votaram de olho em 2010. O interesse público ficou de lado. Isso ficou evidente para mim.
Quais serão as conseqüências para o atendimento?
TEMPORÃO: Quem depende do SUS perdeu. O impacto será muito grande. As medidas previstas no PAC da Saúde, como universalização da atenção básica, a ampliação do Samu, o aumento de medicamentos subsidiados na farmácia popular, a construção de hospitais e prontossocorros estão correndo sério risco. Na prática, significa que as filas irão se manter, o mau atendimento e o tempo de espera elevado também.
Vou tentar seguir o que me determinou o presidente, de que a saúde seja prioridade.
Faltou sensibilidade à oposição?
TEMPORÃO: A oposição...
Olha o que ocorreu nos últimos 15 dias: o Pnud mudou o Brasil de país em desenvolvimento para desenvolvido; o IBGE anunciou queda da mortalidade infantil; a expectativa de vida continua crescendo; a economia cresce mais de 5%; o governo Lula aparece na pesquisa CNI/Ibope com aprovação altíssima.
Isso é insuportável para a oposição. Ninguém tolera. É demais. Paradoxalmente, esses indicadores foram avanços na saúde
Deu vontade de deixar o ministério?
TEMPORÃO: Não! Nunca! O que é isso? A guerra nem começou.
Os gastos da Saúde com verbas da CPMF em 2006, de acordo com o Ministério da Saúde: Consultas especializadas: R$ 546,8 milhões
Exames de patologia clínica: R$ 443,1 milhões
Raio X:R$ 468,3 milhões
Ultra-som: R$ 163,9 milhões
Tratamento de câncer: R$ 227,7 milhões
Hemodiálise: R$ 324,5 milhões
Doenças cardíacas e vasculares: R$ 336,2 milhões
Doenças respiratórias e pulmonares (adultos): R$ 320,5 milhões
Doenças respiratórias e pulmonares (crianças): R$ 193,1 milhões
Partos normais e cesarianas: R$ 927 milhões
Transplantes: R$ 147,9 milhões
Procedimentos associados a transplantes: R$ 34,7 milhões
Outros atendimentos ambulatoriais: R$ 334,7 milhões
Outras internações: R$ 903,7 milhões
Total: R$ 15,3 bilhões
Nenhum comentário:
Postar um comentário