Reeleito, Berzoini diz que PT terá candidato próprio em 2010
Paulo de Tarso Lyra
Valor
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Ricardo Marques/Folha Imagem
Berzoini: "Seria absolutamente incongruente
que um partido com o nosso histórico de disputas
e a experiência de governar o país
não apresentasse candidato
Pouco mais de um ano depois do escândalo dos aloprados - que o afastou temporariamente da presidência do partido - o deputado Ricardo Berzoini foi reeleito para presidir o PT no biênio 2008/2009. Com mais de 75% das urnas apuradas, Berzoini liderava com folga a disputa, com 62,03% dos votos válidos, contra 37,97% do também deputado Jilmar Tatto (SP). O novo presidente do PT, que foi convencido pelo Palácio do Planalto a disputar a reeleição após o veto do campo majoritário a Marco Aurélio Garcia, teve sua candidatura fortalecida com o apoio explícito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E terá como principal missão preparar o partido para a primeira eleição presidencial sem Lula candidato. "A política é feita de liderança pessoal, mas também de coletivo, é feita de programas", afirmou.
Apesar do desejo expresso de Lula de não antecipar o debate sucessório e da torcida para um consenso entre os aliados em 2010, Berzoini deixou claro, ontem, que não faz sentido o PT abrir mão da candidatura própria. "Um partido do nosso tamanho, com o perfil ideológico do PT, o histórico de disputas presidenciais que tivemos nos últimos cinco embates - o que significa todas as eleições após a redemocratização -, aliado à experiência de governar o país com o presidente Lula durante 8 anos, seria absolutamente incongruente não apresentar candidato em 2010". Até ser eleito presidente do PT Berzoini vinha defendendo que o PT apresentasse um nome aos aliados, para disputar a indicação com os candidatos dos outros partidos da base de Lula.
Berzoini não quer, contudo, adiantar os nomes que poderão disputar a sucessão presidencial pelo PT. Para ele, o momento é de fortalecimento partidário e elaboração de um programa político para o partido. "Não podemos ficar presos apenas aos nomes, mas trabalhar um programa político que seja capaz, por exemplo, de dar consistência para um arco de alianças políticas".
Essa escolha de qual será o candidato do PT em 2010 - pesquisas recentes reforçaram que o partido não tem um nome forte para suceder Lula - caberá, segundo Berzoini, à direção partidária que assumir a legenda daqui a dois anos. "A direção do PT que for eleita em 2009 terá que receber o trabalho feito. A preparação dos nomes e a administração de um programa político. Ela vai fazer as conversas com todos os partidos para as composições".
O petista nega que a legenda esteja com uma postura arrogante, apesar de integrar uma coalizão governamental com outros 10 partidos. "O PT terá candidato em 2010 porque construiu uma história para isso. Outros partidos poderão ter também e nós, partidos da coalizão, podemos não estar todos unidos. É desejável que estejamos? É desejável. Mas sabemos que essa não é tarefa e caminho fácil", disse.
Ele lembra que nas eleições de 2006, com Lula candidato, alguns partidos optaram por projetos políticos próprios e, temendo os efeitos da verticalização, não compor oficialmente a chapa presidencial. Uma dessas legendas é o PSB. "A complexidade do sistema partidário brasileiro se torna um obstáculo alto para composição. O PSB, que tinha ministros importantes como Ciro Gomes, Sérgio Rezende, que teve o governador Eduardo Campos como ministro, não compôs aliança formal".
Mas se as alianças acontecerem, o presidente reeleito do PT afirmou que a tendência é de que elas privilegiem as legendas com as quais o PT tem maior afinidade: justamente o PSB, PC do B e PDT. Essas três romperam com o PT - não com o governo - após o acordo firmado entre os petistas e o PMDB na eleição de Arlindo Chinaglia (SP) para a presidência da Câmara, em fevereiro de 2007 e formaram o chamado "bloquinho de esquerda".
Berzoini reconhece que um empecilho para a aproximação é o projeto político eleitoral desses partidos, sobretudo um dos fiéis mais históricos, o PCdoB. "O PC do B preparou nomes para lançar em várias capitais. Em alguns locais, eles estão tendo sucesso em reproduzir o bloco de esquerda e em outros, estão com dificuldades. Em algumas capitais têm aproximação mais histórica conosco. Já fiz contatos antes das eleições para buscar ampliar esse diálogo", declarou ele.
Para 2008, o PT deve mesclar o lançamento de candidatos próprios com as alianças envolvendo os demais partidos da coalizão. "A decisão vai depender de cada município. O PT tem tido a tradição de lançar candidatos nas grandes capitais. E isso tem dado um resultado positivo". Berzoini acredita que, após administrar capitais importantes, como Belo Horizonte, Recife, Vitória, Fortaleza, Palmas, Rio Branco e Porto Velho, o PT conseguiu amadurecer sua atuação como gestor municipal. "O fundamental é, onde tivermos chance de lançar um candidato ou chances de fazer o PT crescer, lançar e disputar, porque candidato próprio sempre enseja a apresentação do programa do partido".
Ontem, enquanto o ex-presidente do partido, José Genoino (SP) e o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP) faziam depoimento à Justiça Federal acusados de envolvimento com o escândalo do mensalão, Berzoini confirmava a criação do código de ética do partido. Disse que as punições permanecerão as mesmas e que o objetivo é fazer com que episódios como a crise de 2005 não se transformem meramente em "disputa política interna". Sobre o fato de sua vitória representar ou não a superação da montagem de falsos dossiês contra adversários eleitorais do PT, que agiam na campanha de 2006 sob sua coordenação, Berzoini disse que, como em todo veículo, "temos de ter um retrovisor para olhar bem o passado, mas também olhar bem para a frente, senão desgovernamos o carro".
Para Tatto, centro petista sai fortalecido
Caio Junqueira - Valor
Embora as urnas não o tenham feito presidente do PT, o deputado federal Jilmar Tatto (SP) apontou ontem o que considera duas vitórias políticas do seu grupo no processo eleitoral interno da legenda: o fortalecimento do centro do partido e o afastamento da hipótese do apoio do partido a uma não-candidatura petista à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Uma das marcas da nossa campanha foi a candidatura própria para 2010. Demos ênfase muito grande a essa questão e é evidente que, nesse particular, o debate político nós ganhamos. Todos os candidatos acabaram defendendo isso", afirmou.
Tatto rechaçou a possibilidade de que o vencedor da disputa, o também deputado federal Ricardo Berzoini (SP), abra mão da candidatura petista em prol de um nome da base governista, como o do deputado Ciro Gomes (PSB-CE). "Ele defendeu no processo eleitoral que o PT tem que ter candidatura própria. A militância ficará vigilante em relação a isso para que não aconteça uma negociação por cima onde o PT ficaria vendido. Mas a dinâmica que imprimimos no debate interno leva para uma candidatura própria. Isso é muito bom, tem um ganho político muito forte."
O petista é um crítico do comportamento dos aliados, em especial na derrota da votação da CPMF. "Se não for para votar com o governo nas matérias que tem dificuldade não tem sentido estar na base e ter espaço no governo. Deveria dar o exemplo e demitir três ou quatro desses para aprenderem. O PT deveria ter um papel mais estratégico nesse processo. É um partido solidário, dá exemplo de unidade e de compromisso com o governo e muitas vezes não temos isso em relação aos outros partidos."
Ontem pela manhã o partido confirmou a vitória de Berzoini, mesmo sem a totalidade dos votos apurados. Na terceira parcial divulgada, ele alcançou 62,2 % dos votos (69.869), contra 37,7 % (42.292) de Tatto. Foram apurados 118.499 votos (65% do total estimado de petistas que votaram). De acordo com a Secretaria Nacional de Organização da sigla, com essa projeção não haveria mais a possibilidade de reversão do resultado. Das 81 cadeiras do diretório nacional, 34 foram ocupadas pelo grupo de Berzoini, o antigo Campo Majoritário, 16 vão para a tendência de Tatto e duas outras para os que o apoiaram. Outras 14 cadeiras foram para o grupo Mensagem ao Partido, cujo candidato a presidente era o deputado José Eduardo Cardozo (SP).
Com essa configuração, Tatto disse que se consolidou no partido um grupo de centro, capitaneado por três forças políticas: o seu, PT de Lutas e de Massas, que tem como principal figura a ministra do Turismo, Marta Suplicy; o dos deputados federais paulistas Cândido Vaccarezza, Carlos Zarattini, Devanir Ribeiro e José Mentor e estadual Rui Falcão, intitulado Novos Rumos; e o Movimento PT, encabeçado em São Paulo pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia.
"O centro do partido sai fortalecido nesse processo eleitoral. Houve um deslocamento de forças que se agrupou na minha candidatura, mas que na verdade sao três forças política que estão construindo um centro político no PT muito importante e que consegue dialogar com as outras correntes", afirmou.
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