quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

O HC é ONG?

O jornal Pravda não tinha ombudsman, a Folha tem.

Ombudsman Folha

O HC é ONG?

MÁRIO MAGALHÃES
ombudsman@uol.com.br

A pergunta, em tom irônico, foi feita hoje por leitor em mensagem ao ombudsman.

Depois do título em uma única coluna na primeira página de ontem para o incêndio no Hospital das Clínicas, o jornal promove hoje o assunto a manchete: "HC adiou obra em central que pegou fogo".

Se conta histórias das pessoas prejudicadas pelo baque no atendimento, a cobertura praticamente omite os vínculos do HC com o Estado de São Paulo.

Não se trata de produzir investigações jornalísticas com cacoetes inquisitoriais, mas, no mínimo, de indagar as autoridades, ainda que o hospital tenha autonomia de gestão.

Nem na primeira página nem em nenhuma das três páginas internas, incluindo a capa de Cotidiano, dedicadas ao episódio a Folha destaca os vínculos do HC com a administração estadual.

O máximo que se lê, no último parágrafo de um texto: "No dia 25, a direção do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, que está sob alçada da Secretaria de Estado da Saúde, informou que nenhum paciente havia morrido durante o incêndio".

A Folha não traz declarações do secretário Barradas Barata, a não ser nos votos de Boas-festas no Painel do Leitor. Nem do governador Serra. Aparentemente, nem foram procurados para se pronunciar sobre a situação do hospital. Eles não são acusados de nada, o governador correu ao local quando soube do fogo, mas é dever do jornal cobrar a palavra deles.

Chama atenção o fato de a Folha não ter tomado nem a providência mais elementar, consagrada pelo próprio jornal, de investigar as despesas públicas. O principal concorrente local fez isso, e obteve a manchete "Estado só gastou 17,8% da verba para obras no HC".

E acrescentou na linha-fina: "Desde 2005 a Prefeitura pede melhorias no prédio que pegou fogo segunda-feira" _outra informação não encontrada na Folha.

Se a Folha descobriu que houve adiamento em reforma elétrica, repetiu insistentemente que o motivo foi "questão burocrática", aceitando um argumento que pode ser correto ou não.

A Folha preconiza, não custa lembrar, um jornalismo crítico.

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