Reflexões pessoais sobre o pleito municipal de 2008
Ainda é cedo para as definições partidárias ao respeito das eleições municipais de outubro de 2008, porem já aparecem algumas movimentações que merecem um acompanhamento e intervenção, tanto no campo governamental, como nas hostes oposicionistas.
Na base de sustentação do governo aparece escancarada a movimentação do chamado "bloco de esquerda" para lançar candidatos próprios, desafiando abertamente a intenção manifestada pelo Presidente Lula de procurar candidaturas unificadas nos principais municípios do pais. Para Lula isto é necessário porque em certa medida as eleições de 2008 implicarão, além de um certo julgamento da metade do segundo mandato, nas condições para emplacar um candidato a sucessão com alguma chance.
Parece evidente que após ter encomendado ao presidente do PMDB, Michel Temer, a organização do processo unitário visando 2008, Lula é desafiado abertamente pelo movimento deslanchado pelos partidários de Ciro Gomes. Isto mostra que a missão de Temer estará fadada ao fracasso e que cada um dos atores cuidará de seu próprio quintal em cada município. A menos de uma ação de peso do próprio Lula e do PT para tentar reverter o processo em curso.
A provável filiação de Patrícia Saboya ao PDT, em Fortaleza, para ser candidata a Prefeita contra a atual detentora do cargo é a mais recente ilustração deste processo. Ao que tudo indica a candidatura de Ciro Gomes em 2010 está determinando a atuação política dos partidos que compõem o "bloco", PSB, PCdoB, PDT, PR.
Mas não é só com eles o problema. No Rio de Janeiro o acordo de Garotinho e César Maia, leva o PMDB do atual governador Sérgio Cabral para a oposição e o mesmo pode acontecer com o PMDB em São Paulo, se prosperar os entendimentos entre Quercia e Alckmin.
No campo da oposição as coisas também estão desarrumadas. O DEM parece considerar, não sem razão, que sua própria existência depende da apresentação de candidatos da sigla no máximo de municípios, o que implica eventuais conflitos com seu parceiro tradicional, o PSDB. Isto traz implicações especialmente nas capitais , sendo São Paulo a principal delas.
A oportuna publicação das negociações de Alckmin e Quercia constitui uma mensagem dirigida pelo tucano ao governador Serra: o aliado DEM pode ceder o lugar ao PMDB, a menos que Serra e Kassab renunciem a candidatura do atual prefeito. As dificuldades em selar um acordo para 2008, entre os dois rivais paulistas da tucanagem, , tem mais a ver com a disputa pela candidatura a presidente em 2010 entre Serra, Aécio e o próprio Alckmin.
Acontece que sem um resultado significativo nas eleições municipais nas principais cidades do pais, o PSDB, e qualquer um de seus eventuais candidatos a presidente, encontrará dificuldades para estruturar um bloco hegemônico com chances de provocar a alternância em 2010. É hoje. na questão municipal, o favoritismo tucano parece limitado a São Paulo e com muito isolamento em outras capitais.
Paradoxalmente é no PT, tradicionalmente muito "trapalhão" para utilizar um epíteto usado pela mídia (ou eufemismo, dependendo de onde se observe), que o Presidente Lula tem obtido êxito em evitar a precipitação de candidaturas, mesmo se o recente congresso do partido aprovou uma vaga resolução sobre esse tópico em relação a 2010. Incluso em relação a 2008 o partido tem respeitado o processo indicado por Lula com Michel Temer, não precipitando discussões que dificultem uma eventual composição unitária.
Acontece que no PT poucos são os caciques consensuais e diferente do que acontece em outras siglas dominadas por caciques, a decisão, quando não é consensual, é tomada pelos índios, no caso os Diretórios municipais e seus filiados. A medida que se aproxima o momento das definições as possibilidades para reverter movimentos e corrigir rumos poderá ficar comprometida. Ao contrário de uma filosofia muito em voga entre caciques petistas e que se resume na frase "é urgente não fazer nada", o planalto deveria acordar, antes que seja tarde demais e a base governista comece a cuidar de sua própria vida.
Se como disse Marx "tudo o que é sólido, desmancha no ar", imaginem então uma coalizão heterogênea de 11 partidos.
Luis Favre
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