terça-feira, 4 de setembro de 2007

Três tristes tigres

Como aconteceu com o romance do cubano Guillermo Cabrera Infante, publicado numa primeira versão em 1964 e depois de remanejada pelo autor, publicada em 1967 com novo título de "Três tristes tigres" , a oposição PSDB-DEM esta procurando refazer sua imagem e apresentar um nome para 2010.

Acontece que o livro do escritor cubano foi profundamente modificado, ao ponto que entre as duas versões poderia se afirmar que são dois livros distintos. Já para a oposição a mudança exige ser mais radical ainda, pois são muito grandes as possibilidades do título ser o mesmo.

Se em 2010 o candidato for o governador José Serra, o mesmo candidato de 2002, ou Geraldo Alckmin, o mesmo candidato de 2006, a necessidade de remanejar o libreto é uma questão de vida ou morte para a oposição. Não fazê-lo é aumentar a chance de um repeteco dos resultados obtidos nas duas últimas eleições presidenciais ou seja, uma derrota.

Neste dilema de to be or not to be, neoliberal ou de esquerda, social ou de direita, com programa e propostas ou udenistas e demagogicos, é que a oposição encara a briga pela candidatura de 2010.

Aécio Neves, José Serra, Geraldo Alckmin, tristemente recuam das necessárias clarificações pressionados pelo radicalismo de uma parte da mídia e pela onipresença de Fernando Henrique Cardoso no debate público e na defesa de "seu legado" (como na novela de Alexandre Dumas os três mosqueteiros, são quatro).

Repetem como um mantra que Lula não sendo candidato em 2010, bastaria aguardar, que o planalto cairia no colo de qualquer um deles.

O governador Serra é talvez o mais consciente que sem uma diferenciação clara em relação ao "Fernandismo" as suas chances diminuem. Acontece que sendo em São Paulo onde o legado "neoliberal" é mais apreciado pela elite e por um setor da mídia, menor é sua margem de manobra para promover o "aggiornamento". Resultado: está paralisado neste quesito e exclusivamente dedicado a estrepar seus concorrentes diretos, a começar pelo Geraldo Alckmin.

Contra as aparências e opiniões, - e da mão de Serra por trás das opiniões de muitos colunistas -, as pesquisas mostram Geraldo Alckmin competitivo como candidato a presidente. Ele é favorito para a Prefeitura de São Paulo em 2008, aparecendo, nas simulações para 2010, com percentuais próximos dos de Serra e bem à frente de Aécio. Uma vitória em 2008 e sua entrada na Prefeitura da principal cidade do país reduziria ainda mais as possibilidades de Serra realizar sua obsessão de suceder a Lula.

Paradoxalmente é Aécio, o mais fraco nas pesquisas por enquanto, quem melhor se encontra posicionado na troika peessedebista. Conta com indiscutíveis vantagens: não é de São Paulo, não foi adversário eleitoral de Lula, articula bem com a direita e a esquerda, constrói consensos. Last but not least, poderia receber o apoio de Alckmin, e vice-versa, o que arrepia o sono diurno de Serra.

Ciro Gomes vê nele o principal adversário, visão que pode ser talvez a expressão duma atração desmedida pelo concorrente - uma espécie de "síndrome de Estocolmo". Ou Ciro utiliza os elementos descritos acima como "espantalho" para manifestar sua ojeriza contra Serra.

Acontece que Aécio parece encarnar como ninguém a peculiaridade tucana de ficar acima do muro, salvo que seja a tradicional habilidade mineira para esconder o jogo e surpreender os incautos. O prazo para mudar de partido é curto e Aécio parece conformado a brigar dentro do PSDB.

Por enquanto as luzes do palco estão apagadas e os atores da "commedia del arte" tucana estudam seus papeis só nos bastidores. Mas no ensaio para 2008, as cortinas que dificultam a visão destes personagens da oposição serão suficientemente entreabertas para que possamos exclamar: Que la fête commence!

Luis Favre

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