quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Kassab diz que acordo eleitoral com Alckmin ainda está distante

César Felício e Cristiane Agostine
VALOR




Rivaldo Gomes/Folha Imagem

Kassab participa de lacração do Shopping Pari:
imagem de moralizador urbano ficará em segundo plano neste ano


"Não existem negociações. O que tem ocorrido até agora são legítimas manifestações de dirigentes dos diferentes partidos em procurar transmitir sua vontade de terem candidaturas próprias nas grandes cidades", afirma Kassab, colocando-se como candidato. "Qualquer um que esteja à frente de uma prefeitura e que a lei lhe permita ser eleito é um candidato natural. Então é natural uma candidatura minha à reeleição", diz.


O prefeito procura tirar Serra e, por tabela, a eleição estadual em 2010, do foco do processo eleitoral deste ano. Afirma que se sente "desrespeitado" quando comentam que o governador mantém ingerência sobre a prefeitura, a qual renunciou em 2006, abrindo caminho para que o então vice Kassab assumisse. "Temos uma excelente relação, pessoal e política. Isso não significa ingerência", diz o prefeito. Nos primeiros meses da administração de Kassab, a influência de Serra nos assuntos administrativos da prefeitura era tão grande que o político tucano ganhou o apelido irônico de "prego", o prefeito e governador, de petistas aliados da ex-prefeita Marta Suplicy.


Há um ano, Kassab chegou a definir Serra como o seu líder político. "A aliança em São Paulo tem um líder. Esse líder é a figura maior da aliança, o governador de São Paulo, José Serra, que com sua competência e sua sensibilidade política saberá liderar o processo", afirmou o prefeito em 30 de janeiro de 2007. Hoje, afirma que as negociações por uma aliança se darão entre as direções dos dois partidos.


Kassab pondera que a divisão entre DEM e PSDB no processo eleitoral enfraquece as chances dos dois partidos de manterem o controle sobre a prefeitura. "Tenho certeza de que os dirigentes partidários vão ter como prioridade a manutenção da aliança. No Recife, houve uma decisão do grupo do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), do DEM e do PSDB de cada um ter seu candidato, mas os partidos estão fora do governo. Em São Paulo, a aliança governa. É evidente que se for mantida, a tendência de continuidade aumenta", analisa.


Neste sentido, deixa uma porta aberta para um apoio a Alckmin, de quem indiretamente cobra o mesmo desprendimento. "Candidatura natural não significa que seja impositiva. Seria um desrespeito aos partidos aliados eu dizer que meu partido fechou questão, que é uma candidatura minha. Sendo assim, para que a aliança?", indaga.


Terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, com cerca de metade dos índices obtidos por Alckmin e pela ex-prefeita e ministra do Turismo, Marta Suplicy (PT), Kassab afirma que se considera em situação "excelente". O prefeito comenta que as taxas de aprovação da sua administração estão crescendo e planeja centrar o discurso de sua eventual candidatura à reeleição no binômio social: Educação e Saúde. A imagem de moralizador urbano, que cultivou com ações como a retirada de painéis publicitários e fechamento de boates suspeitas ficará em segundo plano.


"Agi para que a lei fosse cumprida em circunstâncias em que não era. Foram fechados postos de gasolina clandestinos e grandes depósitos de mercadoria contrabandeada. Mas meu propósito não foi moralista", diz Kassab. As ações de Kassab neste sentido geraram, no ano passado, um momento constrangedor para o prefeito, que empurrou e agrediu verbalmente um comerciante de placas publicitárias que protestava contra a prefeitura na inauguração de um ambulatório. O episódio foi televisionado durante dias. "Não me arrependo de minha indignação, mas da forma como me expressei. E já pedi desculpas diretamente ao atingido", afirma.


No comando da capital, em vez de modificar a linha de ação adotada por Marta Suplicy (2001/2004), a administração de Kassab ampliou o alcance dos programas petistas. A petista teve como carro-chefe a construção de 21 Centros Educacionais Unificados (CEUs) na periferia. Kassab pretende entregar 25. Marta destacou a introdução do bilhete único no transporte coletivo de ônibus. Em parceria com o governador Serra, o bilhete foi ampliado para a integração com metrôs e trens metropolitanos, ainda que com uma tarifa maior.


A Saúde, ponto fraco na gestão de Marta, será um alvo estratégico de Kassab, que, em parceria com organizações sociais, está ampliando a rede de ambulatórios e unidades básicas de saúde (AMAs e UBS), além de ter aberto o Hospital de Cidade Tiradentes, uma obra inconclusa no governo da petista.

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