maravilhas da tolice
Por definição, qualquer debate em torno das 7 maravilhas do mundo tende à idiotice; mistura a mania pop das listas ao sentimento retrô de uma realidade em ruínas. Mas não posso deixar de protestar diante das escolhas veiculadas na última edição do Mais!, que cedeu a essa vulgaridade.
Luiz Pinguelli Rosa esquece Newton e Copérnico para falar de Freud e Marx. A ciência, entretanto, poderia esquecer perfeitamente os dois últimos. Não que eu queira contestá-los. Mas Newton e Copérnico contribuíram para a ciência. Freud e Marx para a cultura, sem que qualquer hipótese deles pudesse ser comprovada cientificamente.
Lúcia Nagib, falando de cinema, escolhe “O Império dos Sentidos” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Se escolhesse “Cidadão Kane” e “Amarcord” seria tola. Escolhendo Oshima e Glauber, foi pior que isso.
Olgària Mattos é um erro de vocação, ou provavelmente um caso de falta de leitura, escolhendo “A Divina Comédia “ e “José e Seus Irmãos” no lugar da “Critica da Razão Pura”, da “Fenomenologia do Espírito” ou do “Discurso do Método”, no âmbito da filosofia.
Cristiano Mascaro cita São Paulo, Lisboa, Havana e Rio em vez de Veneza, Paris, Viena e Praga: faltou viajar um pouco mais.
Não há o menor sentido nas escolhas de Lisette Lagnado sobre artes plásticos, falando nas “esculturas rupestres” de Ana Mendieta e omitindo Lascaux, ignorando a Capela Sistina para falar de um quadro pornográfico de Courbet (“a origem do mundo”).
Walnice Nogueira Galvão apostou no cânon além de todos os cânones, o que faz razoavelmente sentido na falta de sentido de todo o projeto. Com isso, substitui o “Dom Quixote” pelo “Mahabharata”.
Maravilhas” em jogo exceto para os que são tontos o suficiente para acreditar que com 7 maravilhas dão conta da riqueza da cultura humana. Tudo entretanto poderia ser menos ridículo do que foi, se os escolhidos para a enquete tivessem um mínimo de cultura... São ativistas da cultura, não pessoas de cultura. Se alguém prefere Havana a Paris, Courbet a Michelangelo, Benjamin a Kant, não é preciso dizer muito: profissionalizou-se em cultura, mantendo-se na mais profunda ignorância. Blog de Marcelo Coelho no Folha Online
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