terça-feira, 7 de agosto de 2007

Reflexões pessoais sobre as pesquisas Datafolha e seu desdobramento na cidade de São Paulo

Tenho analisado o resultado da pesquisa Datafolha no post de domingo (aqui) e mostrado como era abusiva a pregação de alguns sobre a oposição da classe média e dos mais ricos ao governo Lula.

Hoje o comentarista do jornal O Globo, Merval Pereira, volta com a mesma cantilena do Bolsa-familia como explicação da popularidade de Lula e da oposição das classes médias. O jornalista Luis Nassif responde a Merval hoje com analise semelhante a minha (aqui).

Agora, gostaria de analisar a situação na cidade de São Paulo na medida em que aqui se concentra a oposição mais estruturada ao governo Lula, apoiada em organizações não só partidárias (PSDB e DEM, além de outras menores) mais também em associações e organizações como a OAB-SP, a FEBRABAN, a FIESP, Cansei e outras. É também em São Paulo onde o peso dos grandes veículos de comunicação é maior, com mais leitores e impregnando a difusão radiofônica e o que se denomina formadores de opinião. Por último, em São Paulo o governo estadual é do PSDB. José Serra foi candidato a presidente e aspirante a ser-lo novamente agindo como catalisador político da oposição. Por sua vez, a cidade é governada por um aliado, Gilberto Kassab, numa coligação DEM-PSDB.

Convém ter em mente que existe também uma diferença sociológica de monta entre São Paulo e o resto do Brasil. Se o segmento que ganha acima de 10 salários mínimos é segundo o Datafolha de 7% da população do Brasil, eles são na cidade de São Paulo o equivalente de 12%. Os que ganham entre 5 e 10 salários são no país 11%, já em São Paulo equivalem a 15%. Nestes segmentos, vale lembrar, se concentra o maior índice da avaliação ruim e péssimo para o governo Lula da última pesquisa Datafolha nacional: 32% nos mais ricos (empatado nacionalmente nesta categoria com os ótimos e bom) e de 19% entre os de renda entre 5 e 10 salários (bem menos que os 39% de ótimo e bom).

Qual é o resultado da pesquisa Datafolha na cidade de São Paulo realizada imediatamente após o acidente da TAM (públicada na Folha de SP em 22 de julho 2007)?

Na cidade onde os ricos e a classe média são mais numerososos que no resto do Brasil, os que consideram o governo Lula ótimo e bom são 32% do total da população da cidade (48% na pesquisa nacional publicada no último domingo). Já os que o consideram ruim e péssimo são 29% (estes são 15% no Brasil).

Convém lembrar que esta pesquisa Datafolha feita após o acidente da TAM mostra incluso melhora na avaliação do governo Lula (em julho 2006 os ótimos e bom eram 27%; regular 39%; ruim e péssimo 34%). O seja queda na avaliação negativa e crescimento de opiniões positivas. Mesmo assim a diferença entre os resultados na cidade e no país são consideráveis, apenas ligeiramente favoráveis ao governo Lula.

Em São Paulo a população não avalia majoritariamente o governo Lula como ruim, os a favor são um pouco mais numerosos. Porem, a cidade esta mais disputada e divida que na população do Brasil em geral. Estes resultados expressam a diferença sociológica e o impacto ideológico dos elementos indicados acima.

Mas, ao mesmo tempo é bom destacar que as avaliações do prefeito Kassab e do governador Serra não são muito diferentes das do governo Lula. Kassab tem 30% de ótimo e bom (um crescimento indiscutível) e Serra 37% no mesmo quesito. Os ruim e péssimo de ambos são de 35% e 23% respectivamente. Nada do que possam se ufanar perante o Lula.

O conservadorismo em São Paulo se sustenta na influencia combinada de fatores ideológicos e sociológicos que a distinguem do resto do Brasil. Os aparatos econômicos, políticos, ideológicos e culturais da direita estão sustentados em uma presença numérica mais importante das classes abastadas e numa ação partidária da oposição melhor estruturada e que conta com os governos estadual e municipal; onde o candidato da oposição venceu no último escrutino presidencial.

Mesmo assim, os ótimo e bom para Lula são mais numerosos que os ruim e péssimo. Na cidade a classe média esta dividida e uma boa parte faz bloco com a oposição contra o governo. As relações de força estão mais equilibradas em grande medida também pelos erros e desacertos do campo do governo (incluído aqui, além da ação do governo federal, a dos partidos e entidades que o apóiam)

A ação do governo, corrigindo os erros políticos e de gerenciamento e resolvendo os problemas da crise aérea, ao mesmo tempo que deslanchando as ações do PAC no Estado e a cidade de São Paulo são urgentes. Elas deveriam ser complementadas por uma ação de explicação política de envergadura, não só do governo federal, mais dos partidos e organizações sociais que o sustentam para mudar o equilíbrio atual de maneira decisiva em favor do governo Lula.

Luis Favre

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