sábado, 22 de setembro de 2007

Sobre a derrota de Jospin em 2002

Como Lionel Jospin em seu livro volta a analisar as razões de sua derrota em 2002, me permito reproduzir a seguir uma parte do meu artigo sobre aquela derrota publicado pelo CEBRAP em 2002. LF

AS LIMITAÇÕES DA ESQUERDA PLURAL

A constituição da esquerda plural e sua ação de governo durante cinco anos permitiu uma convergência bem mais consistente que a simples assinatura de um documento de intenções programáticas, como fora o caso com o Programa Comum da defunta União de Esquerda.

Durante cinco anos, com poucas divergências e atritos, Socialistas, Comunistas, Verdes e Radicais de Esquerda, governaram aportando respostas a os problemas e desafios confrontados pelo Estado francês. Certamente estas respostas foram insuficientes em diversas áreas, provocando ás vezes debates e incompreensões. Mas, indiscutivelmente, a esquerda agiu unida no governo e votou unida no parlamento.

Em contrapartida, nenhum processo de unificação ou de consolidação de maneira estruturada desta frente unida foi encaminhado. Nem sequer a questão da escolha eventual de um candidato único da esquerda governamental, baseado no balanço positivo de cinco anos de governo conjunto e de perspectivas para o país, foi cogitado.

Apesar de ter sido evocada, no período 1993-1994, a questão da reconstituição da “casa comum” entre Socialistas e Comunistas, em uma espécie de Congresso de Tours ao contrario, a idéia é deixada de lado. O critério que persiste entre os dirigentes da esquerda é que uma união maior abriria espaço para uma extrema-esquerda refratária a qualquer unidade, mesmo o de desistir-se no segundo turno em favor da esquerda.

Enquanto a direita experimentava listas comuns nas eleições municipais de 2001, com dificuldades e divisões é verdade; a esquerda plural limita-se a acordos pontuais de repartição eleitoral, desistência recíproca e governo conjunto.

Os resultados negativos das eleições municipais para a esquerda, ocultados pelas vitórias de Paris e Lyon, eram um alerta sobre os humores do corpo eleitoral e de rejeição da coabitação. Alem das abstenções, o voto em favor da extrema-direita e da extrema-esquerda confirma o descontentamento dos setores excluídos e de parte das camadas populares. Em tanto Jospin se recusa a apreciar estes resultados em toda sua dimensão e persiste em manter o rumo, preservando a coabitação até o fim.

Resulta paradoxal que seja após a derrota nas eleições presidenciais que a esquerda tenha decidido criar listas comuns da “Esquerda Unida” e ainda assim exclusivamente nas circunscrições em que a forte presença da extrema-direita punha em risco sua passagem para o segundo turno.

Não menos paradoxal é o fato que o estado maior das três formações de esquerda tenha fechado um acordo, com repartição de circunscrições, para ás eleições legislativas e isto antes do primeiro turno das presidenciais. Ao mesmo tempo ninguém alertará sobre a necessidade de uma candidatura unitária que possa garantir uma dinâmica de vitória já no primeiro turno das eleições presidenciais, que por decisão de Jospin, precediam de alguns dias ás legislativas.

Após a eliminação de Jospin no primeiro turno, o diretor do Le Monde constata amargamente em editorial:
“O terremoto político deste primeiro turno da eleição presidencial tem, no plano estritamente eleitoral, uma única causa: a dispersão, absurda, da esquerda. Esta, considerando exclusivamente os “moderados”, ou incluindo a extrema-esquerda, não recua de um escrutínio presidencial para outro; ao contrario da direita moderada que perde cinco a dez pontos em relação aos escrutínios precedentes. (...)
“A esquerda foi vitima de ela mesma e do espírito estreito dos seus dirigentes em seus diversos componentes que preferiram se desmarcar e criticar Lionel Jospin e seu balanço. Foram ouvidos. Mas não era fatal que assim acontecesse. Faltaram simplesmente dirigentes a altura do que estava em jogo” (Le Monde 22 de abril 2002 editorial La blessure, Jean-Marie Colombani).

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