quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A queda nos juros americanos

Coluna Econômica - Luis Nassif

A redução dos juros americanos em meio ponto pelo FED – para 4,75% - é a comprovação cabal que, desta vez, a crise veio para valer.

Até o início do governo Bush, a administração de Alan Greenspan à frente do FED (o Banco Central americano) sempre privilegiou o mercado financeiro. Essa mesma postura era adotada pelo FMI.
Quando alguma bolha ameaçava explodir, Greenspan reduzia os juros. A redução dos juros provoca, automaticamente, a valorização dos ativos. E esses movimentos ajudavam a criar um colchão para reduzir o impacto da queda dos preços dos ativos provocado pelo furo da “bolha”.

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Externamente, cada vez que um país entrava em crise, o FMI aportava empréstimos que permitiam aos especuladores sair sem perdas maiores. Foi assim com o acordo fechado com o Brasil, em fins de 1998.
Essas duas facilidades aumentaram extraordinariamente a imprudência dos fundos “hedge”(fundos que visam ativos de alto risco). Valiam-se das altas taxas proporcionadas por países em crise, ou por ativos mal avaliados. Depois, na hora de pagar a conta, o FMI e o FED vinham em seu socorro.

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O primeiro a pular fora foi o FMI, depois de uma forte declaração do primeiro Secretário do Tesouro do governo Bush, de que o país não iria mais amparar especuladores.

Mas a era Greenspan prosseguiu por mais algum tempo, amenizando o estouro da grande bolha da Nasdaq (as ações de tecnologia), mas preparando o terreno para novas bolhas que só agora começaram a explodir.
O sucessor de Greenspan, Ben Bernanke, de sólida formação acadêmica, assumiu com o discurso de que tinha acabado a era do apoio indiscriminado aos mercados. O FED só reduziria os juros quando crises financeiras pudessem abalar a economia real.

Os últimos indicadores apontaram para um desaquecimento da economia americana em ritmo mais pesado do que as previsões iniciais, logo após a crise do “subprime”.

Hoje, o Departamento do Trabalho anunciou que o PPI (índice de preços por atacado) registrou deflação de 1,4% em agosto. Na semana passada, foi anunciado o fechamento de 4 mil postos de trabalho – o menor índice desde 2003. Finalmente, as vendas no varejo, segundo o Departamento de Comércio, teriam caído 0,4%, se se descontasse a venda de automóveis. Os primeiros balanços pós-crise indicaram uma queda acentuada nos resultados das companhias abertas.

Tudo isso pesou para que Bernanke aceitasse reduzir os juros, e em nível mais forte do que o mercado vinha prevendo.

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Há um conjunto de conseqüências:

1. Confirma-se que a crise é mais séria do que as previsões iniciais. Esse gesto, se de um lado alivia o mercado de capitais, de outro deverá manter o mercado de crédito travado por mais algum tempo.

2. Antes do sinal do FED, os bancos de investimento tinham voltado a recomendar o Brasil para seus investidores, devido às altas taxas de juros locais e às contas externas em ordem. Com a redução dos juros, esse fluxo deverá aumentar, a não ser que o Banco Central volte a acelerar a queda da taxa Selic.

3. Com a redução dos juros, haverá tendência de desvalorização ainda maior do dólar, chamando a atenção para os fundos soberanos (reservas de países emergentes aplicadas em mercados desenvolvidos)

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