quinta-feira, 14 de junho de 2007

Sucessão de gafes e desculpas ofusca o lançamento de plano para turismo

Paulo de Tarso Lyra para o jornal Valor

Um festival de gafes e comentários descabidos marcaram a solenidade de lançamento oficial do Plano Nacional de Turismo 2007-2010, ontem, no hotel Blue Tree, em Brasília. Foi uma manhã desastrosa. A ministra do Turismo, Marta Suplicy, ao aconselhar os passageiros que se vêem obrigados a longas esperas nos aeroportos, em virtude do caos aéreo dos últimos meses: "Relaxa e goza, que depois você esquece todos os transtornos".

A repercussão foi muito negativa, ofuscou completamente o objetivo da solenidade, marcada para divulgar o plano para o Turismo e, menos de quatro horas depois, constrangida, Marta divulgou nota oficial "pedindo desculpas pela frase infeliz proferida por ela ao término da entrevista". Na nota, ela assegura que "não teve intenção de desdenhar, muito menos minimizar os transtornos que estão sendo enfrentados pelos usuários do transporte aéreo". A intenção, de acordo com a ministra, era "dizer aos jornalistas e à população que viajar vale a pena, mesmo que os problemas nos aeroportos demorem um pouco mais".

Pivô da crise aérea, o ministro da Defesa, Waldir Pires, demonstrou surpresa e lamentou a declaração de sua colega de Esplanada. "É uma pena. É evidente que temos de ter muito respeito por essa população (que enfrenta filas nos aeroportos)". Em seguida, Pires ainda tentou contornar a frase dita pela petista. "A ministra é uma mulher inteligente, tem uma boa capacidade de comunicação. Até porque ela é ministra do Turismo e quer que o Turismo tenha êxito no país".

Não foi apenas Marta que esbanjou espontaneidade no evento. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também abusou do improviso para defender os investimentos em turismo. Ao término do discurso Lula pediu, em tom de brincadeira, desculpas pelas palavras usadas.

"Sair de casa, é efetivamente, um estado de espírito", iniciou o presidente. Por isso, "a pessoa tem de estar convencida, ter energia positiva em casa, estar de bom humor e ainda contar com o carinho da esposa. A mulher tem que acordar: amorzinho, vamos, amorzinho. Porque, se ela começar xingando, o marido já não vai, já bota o cuecão, fica deitado ali mesmo e não sai".

Lula defendeu perante os governadores e prefeitos presentes ao evento que a alternativa é investir em propaganda para atrair turista. Criticou as instituições e parlamentares que vêem nessa estratégia desperdício de recursos públicos. "Lá vai o Ministério Público abrir um processo, lá vai um deputado de oposição criticar, já vai fazer um monte de coisa, porque nesse país ainda há um tipo de gente que precisa ter muita desgraça para ele poder existir".

O presidente criticou também a imprensa, alegando que a sucessão de notícias sobre violência não oferece qualquer mensagem de estímulo para que os brasileiros viajem pelo país. "A pessoa diz: espera aí, eu não vou sair daqui não, eu vou ficar dentro de casa. E ainda olha, vê se não tem nenhuma fresta para não vir uma bala perdida", completou.

O plano para o Turismo, anunciado pela ministra, prevê uma entrada de divisas de US$ 7,7 bilhões no país até 2010 e a criação de 1,7 milhão de novos empregos. Serão investidos aproximadamente R$ 984 milhões na promoção interna e externa e R$ 5,63 bilhões em infra-estrutura turística, privilegiando 65 pontos turísticos nacionais.

Um dos pontos chaves do programa é a possibilidade de um crédito consignado para que os aposentados viajem pelo país, com pacotes de até sete dias e preços variando entre R$ 500 e R$ 600. Esse valor poderá ser dividido em até 12 meses, com juros inferiores a 1% ao mês. Lula provocou o governador da Bahia, Jaques Wagner, presente ao anúncio do plano. "Você faz um crédito consignado, Jaques Wagner, e pode fazer uma viagem, porque você já está próximo da terceira idade. E aí, você pode viajar tranqüilo".

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