segunda-feira, 25 de junho de 2007

Revolução à vista

Consumidores brasileiros serão atingidos em cheio pelo choque energético que está se formando

Por Raul Pilati
raul.pilati@correioweb.com.br

Duas linhas de evolução econômica do planeta conspiram a favor do Brasil. A crescente demanda por energia está ampliando um mercado já bastante aquecido. Some-se ao consumo em alta o desafio de atendê-lo reduzindo as emissões de poluentes que alimentam o efeito estufa. Os segmentos da área de biocombustíveis não poderiam estar mais entusiasmados.

Como o Brasil é o maior exportador de álcool do planeta, está em posição privilegiada. Não resta dúvida de que uma grande mudança de paradigma está a caminho. Junto com as oportunidades de negócios, porém, vem uma polêmica: os efeitos sobre os demais produtos agropecuários. Não é uma falsa discussão, como tentam apresentar alguns especialistas. Começou com os artigos de Fidel Castro, que questionou a destinação de terras e o trato aos trabalhadores. A iniciativa causou estranheza. Mas veio então a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) e fez um alerta parecido.

Pressões
A demanda por biocombustíveis, segundo o organismo, vai fazer subir os preços dos alimentos a níveis recordes ainda em 2007. A elevação deve ser de 5%, com custo adicional de US$ 400 bilhões, segundo estudo recente. Principalmente devido às cotações do milho e dos óleos vegetais, como o de soja. Os mais afetados, afirma a FAO, serão os países em desenvolvimento, que gastarão este ano 9% a mais com importação de alimentos. Em relação a 2000, a alta será de 90%.

O Brasil respondeu por 42,5% da produção mundial de etanol em 2005 e os Estados Unidos, com o uso do milho, por 44,5%. A produção de biodiesel respondeu por 3,8 bilhões de litros. Segundo artigo da Foreign Affairs, para produzir 95 litros de etanol a partir do milho são necessários 200 quilos de grãos, o suficiente para alimentar uma pessoa por um ano.

Efeitos internos
Mesmo para os consumidores brasileiros, o movimento trará múltiplos efeitos. A popularização mundial do etanol como combustível implica mais concorrentes pelo mesmo produto. A inexpugnável lei do mercado vai levar usineiros e plantadores a optar pelo melhor preço — seja interno ou externo —, o que é um risco adicional de abastecimento.

Existem muitos investimentos em novas usinas em andamento. A produção brasileira pode atingir 38 bilhões de litros em 2012, mais do que tudo que foi produzido no mundo em 2005 (36,5 bilhões de litros). Bilhões de dólares estão sendo carreados para o segmento. Só a Petrobras está colocando US$ 2,5 bilhões. Mas até as novas usinas terão conseqüências. Avançando sobre áreas ocupadas por outras culturas, estão estimulando sua conversão em canaviais. O plantio de grãos e a criação de gado estão sendo empurrados mais para o interior do país, para fronteiras ainda incipientes. Portanto, mais distantes das estruturas de transporte e dos centros consumidores, o que leva a fretes mais caros.

É inevitável que o setor sucroalcooleiro brasileiro se beneficie da onda que está apenas começando. O choque de combustível, como descrito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é real e está só no início. Há uma revolução em curso. Mas não será indolor, nem neutra. É preciso responsabilidade dos produtores e bom senso do governo para não ficarmos apenas deslumbrados com a oportunidade que se abre. Leia a integra da coluna de Raul Pilati, no Correio Braziliense (para assinantes)

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