sexta-feira, 22 de junho de 2007

O tempo na internet

PERFIL

Marcelo Coelho Marcelo Coelho, 48, é membro do Conselho Editorial da "Folha" e escreve semanalmente na "Ilustrada" desde 1990.


Pediram-me um artigo sobre a "pressa" no mundo contemporâneo, e sobre a aceleração que as mudanças tecnológicas impuseram sobre a profissão do jornalista. Aqui vai um trecho do artigo, que provocou, aliás, a minha ausência deste blog nas últimas horas.

A internet determina, sem sombra de dúvida, o fim do jornalismo impresso, e, com este, o dos prazos fixos de edição. O intervalo de tempo entre a apuração de uma notícia, a redação de um texto e sua divulgação pública simplesmente desapareceu. A idéia de uma mediação entre o fato registrado e a sua tradução em linguagem escrita entra em colapso. O prazo, que todo jornalista se orgulhava de cumprir à risca, entre ver e escrever, entre ver e pensar, desapareceu.


Os “sites” noticiosos, por enquanto, se assemelham a jornais escritos. Quem navegar pelas páginas de www.folha.uol.com.br ou de http://g1.globo.com encontra, grosso modo, a mesma estrutura de um jornal impresso: manchetes, matérias de destaque, textos noticiosos e comentários. Inscreve-se nessas páginas, contudo, mais do que a simples narração feita pelo repórter. Através de links, é possível ver cenas dos acidentes de trânsito, dos discursos parlamentares, dos relatórios estatísticos nos quais cada notícia se baseou. A distância entre o signo e o referente, por assim dizer, diminuiu de modo radical. Naturalmente, o leitor pode não ter todo o tempo de acompanhar uma sessão completa de debates no Senado, confiando, portanto, no relato jornalístico à sua disposição. Acontece que o próprio relato vai sendo feito “em tempo real”, à medida que o jornalista acompanha cada parlamentar que discursa: o resumo da sessão, nesse sentido, tende a ser menos conclusivo, e a narrativa do que aconteceu se dispersa ao longo do dia, nos diferentes “flashes” informativos que alimentam o conteúdo do site, renovado de tempos em tempos.


Fosse apenas isto, e o jornalismo escrito pela internet se resumiria a uma espécie de versão visual do jornalismo radiofônico, e quanto a isso, só teria vantagens a oferecer. Não concorreria diretamente com o jornal diário, aliás, uma vez que a este cabe oferecer um relato minimamente conclusivo das turbulências do dia.


Ocorre que o campo da análise e do comentário, teoricamente mais próximo do jornalismo impresso, sofre uma devassa ainda mais intensa por parte da internet, e conhece, com os “blogs”, uma modificação extrema na sua temporalidade habitual.


Cada “blogueiro” tem à sua disposição um indicador eletrônico das visitas que são feitas à sua página. O esquema concorrencial da circulação, que antes interessava exclusivamente aos diretores de jornal, passou a ser assunto dos cuidados de cada comentarista “free-lancer”. Para cada um deles, torna-se tentador responder com máxima rapidez aos acontecimentos: o primeiro comentário “on line” sobre o assunto de impacto do dia merecerá, justificadamente, destaque nos sites de busca e nos portais informativos. Entre a opinião e o fato, o analista e o locutor radiofônico, a diferença diminui. Leia mais aqui

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