terça-feira, 26 de junho de 2007

Os barcos de fogo

do Blog de Tereza Cruvinel

Pensando bem, este aí é um bom título para um romance.

Mas por ora, estamos escrevendo apenas um relato de viagem, a ida a Estância, com o governador Marcelo Déda, ver os folguedos juninos da cidade. O prefeito Ivan Leite nos leva a ver a quadrilha e me conta a origem dos barcos de fogo: o primeiro foi feito por um certo Chico Surdo, no início do século. A moda pegou e de lá para cá virou tradição, a criatividade só aumento. Vamos para o estádio, ou coisa que o valha, um grande espaço público onde milhares novamente dançam. Reencontro Alceu Valença, que nesta noite canta em Estância, ele e outros grupos. Numa outra parte desta grande áera acontecem as estripulias pirotécnicas deste povo que ama o fogo e seu brilho.Aqui a roda política está bem eclética: Déda, do PT, o prefeito Iva Leite, que é do PSDB, e o deputado e ex-governador Albanco Franco, também do PSDB. Mas são civilizados, estão ali para confraternizar com o povo.

(...)

Uma jóia barroca no sertão

Antes de Estância, fóramos a São Cristóvão, antiga capital, cidade colonial cheia de charme, com igrejas e prédios setecentistas razoavelmente conservadas, a sombra da história cortando as ruas. O barroco lembra o de Minas mas tem algo que o diferencia das edificações do ciclo do ouro. Algo nas torres, na cantonaria. Mas estão lá, sob o telhado, a eira, a beira e a tribeira. Discutimos muito isso, eu e Raimundo Costa, sem chegar a uma conclusão. Decidimos estabelecer - até que um historiador da arte nos corrija (alô, Virgílio Costa, preciso de seus préstimos!) - que a sutil diferença deve-se ao fato de serem aqueles prédios mais do final dos 1600 do que dos anos setecentistas.

D. Pedro II esteve lá, no final do reinado. Desembarcou no rio Sergipe, num ancoradouro que hoje fica no centro de Aracaju. A Ponte do Imperador, é como chamam, mas na verdade é um pier com um portal em arco. Ali a prefeitura instalou, há dois anos, uma grande maquete da cidade ainda jovem, no início do século passado. Obra pequena, baratinha, um mimo. Mas mexe com a memória e com a auto-estima, diz Déda. As pessoas estão mesmo sempre por lá, buscando a casa que era da avó, coisas assim.

Mas volto a São Cristóvão, pouco badalada mas não menos importante no circuito nacional das cidades históricas. Lá está, bem preservado ainda, o sobrado onde D. Pedro dormiu. Esperando minha comitiva, fiquei na velha praça a pensar nas voltas do mundo. Um governante saía do Rio, pegava um navio, depois um barco menor, subia um rio, entrava então numa carruagem, se é não montava um cavalo. Era preciso subir 70 km de agreste para chegar à capital de um pequeno estado do Nordeste. Hoje, o presidente pega um avião e no espaço de uma semana, visita três continentes, como fez Lula há duas semanas. Bem, ele teve que cancelar Marrocos, mas teria ido. Foi apenas à India e à Alemanha.

O IPHAN está fazendo algum investimento em São Cristóvão mas há muito ainda a recuperar ou conservar, e falta pôr a cidade no mapa do turismo cultural.

Energia do crescimento

Há um boom do turismo em Sergipe. Grupos estrangeiros estão fazendo grandes investimentos em hotelaria na orla. Giacomo di Lauro, do grupo Wyndham Resorts, gerencia a implantação de um grande empreendimento, o Viva Resort, na Ponta do Saco, que dizem ser lindíssima. Não fui, não deu tempo. Diz-me ele que é imenso o potencial de atrair para ali o turismo de familias europeu. Bem, muito melhor que o turismo sexual que assola outras capitais do Nordeste.

Déda e seu secretário de Turismo, João Augusto Gama, apostam muito nesta inserção do estado nos roteiros internacionais. No plano doméstico, precisam vencer dois gargalos rodoviários. Com duas pontes, todo o litoral poderá ser percorrido de carro, a partir da Linha Verde, que vem da Bahia, chegando-se depois a Maceió. Hoje, é preciso pegar a BR-101, que passa pelo meio do estado, para se chegar depois a Aracaju. O governo briga para incluir estes recursos no PAC. Li certa vez um artigo de Delfim Netto onde ele dizia que Sergipe é o estado que mais cresce no Brasil. Segundo Déda, o Nordeste está crescendo mais que o Brasil, e Sergipe mais que o Nordeste. Soa estranho, mas é preciso ir lá para sentir a energia do crescimento. É tangível. Leia a integra do relato no Blog de Tereza Cruvinel

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