'Se os ricos não abrirem a agricultura, não tem negócio'
Presidente Lula reafirma posição brasileira nas negociações da Rodada Doha
Leonencio Nossa e Leonardo Goy
Às vésperas de uma viagem para discutir com dirigentes europeus o impasse nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou que o Brasil não recua da posição assumida na semana passada, na Alemanha, de só falar de redução de tarifas de importação de bens industriais se os Estados Unidos e a União Européia diminuírem os subsídios da agricultura.
'Não podemos trabalhar com eles no século 21 como se trabalhou no século 20', disse ele, no lançamento do Plano Agrícola e Pecuário, no Palácio do Planalto. 'Devem compreender que os países emergentes precisam ter a oportunidade de disputar com eles', ressaltou. 'Não tem acordo.'
Foi a primeira manifestação pública de Lula desde o fracasso da reunião da OMC em Potsdam, Alemanha. Durante o encontro, Brasil e Índia não concordaram em reduzir em 50% suas tarifas de importação de bens industriais. Os Estados Unidos e os países europeus criticaram a posição dos dois emergentes de se retirar das negociações.
Lula disse que, 'no fundo', os países ricos queriam abrir o mercado de bens dos emergentes sem aceitar a abertura do mercado agrícola, setor em que as nações em desenvolvimento são mais competitivas. 'Então, não tem negócio', afirmou.
O presidente relatou que, numa conversa na sexta-feira passada por telefone, o então primeiro-ministro britânico, Tony Blair, tentou convencê-lo a aceitar os termos do acordo propostos por americanos e europeus.
'O Tony Blair me ligou ponderando que, se o Brasil não aceitasse o coeficiente que eles iam propor para a indústria, não tinha acordo', contou. 'Eu falei: então não tem acordo, porque, mais uma vez, vocês querem que os países emergentes, os países pobres, abram as suas porteiras e vocês lacrem as de vocês.'
Lula também relatou que, na conversa com Blair, disse que aceitaria viajar para qualquer lugar para discutir a retomada das negociações. A visita de Lula a Portugal, na próxima quarta-feira, inclui encontros com a chanceler alemã, Angela Merkel, o chefe de governo da Espanha, José Luiz Zapatero, e o presidente de Portugal, Cavaco Silva. 'Mas, se eles não abrirem a agricultura, não tem mais conversa', avisou. A platéia, formada por representantes do agronegócio, aplaudiu.
PRESSÃO
Lula lembrou que os Estados Unidos queriam aumentar de US$ 15 bilhões para US$ 17 bilhões o limite de subsídios aos agricultores e o Brasil queria que esse limite ficasse em US$ 12 bilhões. Ele reclamou ainda da pressão dos países ricos para que os emergentes, como Brasil e Índia, abrissem seus mercados para produtos industrializados. Leia mais no jornal O Estado de São Paulo (para assinantes)
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