Sempre Há Um Outro Lado
A Voz do Vale
Quarta-feira, 27 de junho de 2007
Tão logo a dona Marta viajou com o seu “relaxa e goza” busquei ligar a frase infeliz por ela proferida à do Maluf no seu “estupra, mas não mata”.
Passada a turbulência, fiquei com a impressão de que exagerei na comparação. Na edição de ontem, página 2 da Folha de São Paulo, o articulista Fernando de Barros e Silva jogou a pá-de-cal em meus argumentos.
Reconsidero, pois. E fico com a opinião daquele jornalista – bem mais lúcida e lógica (o que não é novidade). Renego a minha e assino a que se segue: ” Não resta nenhuma dúvida sobre a infelicidade da frase de Marta Suplicy. A própria ministra logo percebeu a bobagem e tentou corrigir-se, pedindo desculpas. Não funcionou. A “dica de viagem” está incorporada à sua biografia política e certamente ainda irá lhe render vários constrangimentos. De imediato, serviu para conecta-la ao apagão aéreo, problema sobre o qual a titular do Turismo tem tanta responsabilidade quanto a sua colega do Meio Ambiente, Marina Silva, - isto é, nenhuma.
“Relaxa e goza!” Marta foi vítima da sua autoconfiança, acabou traída pela espontaneidade. Ofendeu quem já estava sendo desrespeitado em seus direitos e/ou humilhado nos aeroportos. Deveria ficar por aí.
Impressionam, no entanto, a insistência e a violência dos ataques à ministra, as facilidades e os exageros comparativos, os estupros do bom senso cometidos nos últimos dias. Não é preciso ir muito longe para constatar a fúria machista recalcada na fala dos marmanjos.
Marta não é Maluf. Muita gente quis comparar a frase da primeira ao célebre “estupra, mas não mata”. Não faz nenhum sentido. Maluf se referia a um caso concreto de estupro seguido de morte quando formulou sua sentença singela. Alegar que “relaxa e goza” tem como premissa a frase “se o estupro é inevitável” equivale a usar uma verdade fora de contexto para produzir uma mentira como resultado. É má-fé.
Goste-se ou não, boa parte da vida pública de Marta está ligada a posições avançadas sobre comportamento e sexualidade, ao esclarecimento e à emancipação da mulher à defesa de minorias.
O auge do obscurantismo, o supra-sumo da boçalidade pertence a Alexandre Garcia, que no “Bom Dia, Brasil” comparou o ‘relaxa e goza” da ministra à inscrição “o trabalho vos libertará”, dos pórticos dos campos de concentração do nazismo. O deboche é o mesmo, disse.
Ainda somos um país de sorte. Seria bem pior se o jornalista Garcia fosse ministro da Propaganda”.
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