sábado, 5 de janeiro de 2008

Um perigoso factóide francês e seu entusiasta tupiniquim


Mídia entusiasta com Sarkozy e a dir. Clovis Rossi, igualmente.

Enquanto Nicolas Sarkozy, presidente da França, passa seu week-end na Jordania em visita privada, sua "genial invenção" para avaliar os resultados do seu governo ganharam um entusiasta apoiador na figura do jornalista Clovis Rossi, da Folha de São Paulo.

O perigoso factóide do presidente francês consiste em contratar uma empresa privada, a Mars & Co, criada nos Estados Unidos em 1979, para dar nota ao desempenho dos ministros e aos resultados obtidos. Uma espécie de "privatização" da Res-pública (coisa pública), que não passa de um factóide demagógico de vésperas de eleição (em março acontecem as eleições municipais e a "idéia" vai no sentido demagógico de mostrar rigor e objetividade na "avaliação").

Clovis Rossi está extasiado: vocês imaginam como ficariam os ministros de Lula perante uma notação assim de objetiva?

Quando perguntaram ao primeiro ministro da França, François Fillon, se a empresa avaliaria também o desempenho do próprio presidente ele respondeu que não. Quem avalia o presidente é a mídia e os eleitores, disse.

A avaliação dos eleitores seria válida só para o presidente? o governo é uma coisa técnica que será subtraída desta avaliação?

No sistema institucional da França o presidente escolhe o primeiro-ministro e este nomeia os ministros, apresentando o governo ao voto de aprovação ou não, do parlamento. Este último detém a prerrogativa de, em qualquer momento, emitir um "voto de confiança" que confirma ou acaba com o governo e provoca sua troca ou novas eleições. O parlamento será soberano nesta avaliação, ou deverá se guiar pela notação "objetiva" da empresa privada?

Pior, como mostrou a crise das hipotecas nos USA, as agências privadas de avaliação levaram milhares de cidadãos a acreditar na saúde financeira do sistema imobiliário, dando notas estupendas a papéis para lá de podres. Porque não será assim com esta nova invencionice?

Se um ministro receber um boa nota e sua pasta for bem avaliada pela empresa, mas contestada está notação pela oposição, pela mídia, pelas pesquisas, como fica? Se o Ministro do Interior tem a meta de reduzir a criminalidade e expulsar os estrangeiros em situação irregular, um exemplo dado na Folha, e consegue estes resultados utilizando métodos que ferem os princípios humanitários e as vezes a própria lei, qual é a nota? quem vai dar? com quais critérios?

Por último, como fica a mídia nesse sistema? Clóvis Rossi tería qual nota, se o presidente Lula recebesse a nota máxima por ter conseguido aumentar o emprego, reduzir a desigualdade social, reduzir o endividamento público, um crescimento econômico consistente? Ele que diariamente considera o governo Lula a maior catástrofe já advinda ao Brasil e que deve pensar que o povo não sabe votar? Talvez por isso ele esteja entusiasmado pela idéia. Vocês imaginaram que delícia, um sistema no qual o voto do povo seria um dos critérios para escolher os governantes, junto com ele estaria o Datafolha, as notas da empresa e o conjunto examinado por um júri composto por clones do jornalista da Folha.

Uma verdadeira república de bananas.

Luis Favre

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