quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O PSDB perdeu

Pensata

Kennedy Alencar

Um dia depois de impor ao governo Lula uma de suas maiores derrotas no Congresso, o PSDB não sabia o que fazer com a "vitória política" que conquistou ao rejeitar a prorrogação da CPMF até 2011. No partido, há um clima de ressaca política. Os dois candidatos do PSDB à Presidência da República, os governadores José Serra e Aécio Neves, foram derrotados pelos tucanos do Senado.

Bastante alardeado, não pára em pé o argumento de que aprovar a CPMF exporia o racha do PSDB. O partido está rachado faz tempo. Há um grupo, liderado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que deseja fazer oposição radical a Lula. Essa ala não tem perspectiva de chegar ao poder. Age com o fígado, numa espécie de vingança pelo que FHC sofreu com o PT no verão passado.

O setor tucano que tem chance concreta de conquistar o Palácio do Planalto deseja contar com um mecanismo fiscal poderoso como a CPMF. Essa ala, de Serra e de Aécio, conseguiu que o governo fizesse grandes concessões, como destinar paulatinamente todos os recursos do imposto do cheque par a saúde. Serra e Aécio entenderam que precisam dialogar com o eleitorado de Lula se quiserem suceder o petista.

Quem é contra a CPMF e a favor de corte de gastos já vota nos tucanos. Serra e Aécio precisam pescar votos no eleitorado que hoje apóia Lula. Isso a ajuda a explicar o empenho público de ambos "para dar mais recursos para a saúde". No entanto, alguns tucanos avaliaram que seria conveniente derrotar os próprios presidenciáveis.

Na política, há derrotas que se traduzem, mais à frente, em vitória. O contrário também é verdadeiro. Numa primeira impressão, parece que o PSDB obteve uma vitória que não dá para comemorar, do tipo em que os que ganham também saem perdendo.

Há um arsenal de medidas ao qual o Palácio do Planalto poderá recorrer para cobrir a perda dos R$ 40 bilhões que previa arrecadar anualmente com a CPMF. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentará carimbar a rejeição à CPMF como uma decisão política que fragilizará o SUS (Sistema Único de Saúde) e cuja paternidade é tucana e democrata. Ironicamente, enquanto o DEM comemora o feito político, os tucanos já se apressam em dar explicações ao público por sua "vitória política". Aécio, por exemplo, já fala em "juntar os cacos". Bota caco nisso!

Na manga

No calor da derrota, o governo não assumirá publicamente a possibilidade de redução da meta anual de superávit primário, hoje em 3,8% do PIB (Produto Interno Bruto). Mas essa saída foi estudada pela Receita Federal e o Ministério da Fazenda. E continua como uma opção de médio de prazo, quando o ambiente político se acalmar.

Kennedy Alencar, 40, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kalencar@folhasp.com.br

Nenhum comentário: